Parecendo que seja um problema mínimo, a falta de políticas eficazes para garantir água potável nos estabelecimentos de ensino pode contribuir para o insucesso escolar
A médica Edna de Alegria disse que a desidratação, por falta de água, nas escolas, pode levar a desmaios, fraqueza muscular, alucinações e até mesmo a uma fraca assimilação da matéria. A falta de água, no seu organismo, vai levar à desidratação, o que também diminui a oxigenação e a actividade eficaz do cérebro. A essa dificuldade, Edna de Alegria juntou a obrigação de os alunos, na sala de aula, terem de pedir permissão aos professores para irem beber água, uma medida que faz muitas crianças preferirem privar-se do precioso líquido, às vezes trazido por si, a vencerem a timidez.
O outro lado do problema, paralelamente analisado pela especialista em Ciências da Saúde foi o facto de que, quando há esse líquido vital nas escolas não é tratado, sendo armazenado de forma mui- to condicionada, em situações de pouca salubridade e segurança. “Esta água pode estar contaminada com bactérias ou elementos não propícios, em quantidades elevadas, como minerais, chumbo e outros químicos que podem causar também doenças, designadamente infecções, diarreias agudas, vômitos e até mesmo provocar mor- te por intoxicação”, aclarou a médica.
A carência de água ou o consumo do líquido não tratado, nas escolas, pode acarretar sérios problemas às crianças, sobretudo nessa altura em que há altas temperaturas, na maioria das cidades de Angola, principalmente durante o dia que coincide com os períodos em que os infantis vão àescola. Edna de Alegria referiu-se sobre especialistas da Organização Mundial de saúde (OMS), para recordar que cada indivíduo deve beber 35 mililitros (ml) de água, por cada quilograma de peso, sendo que uma criança, em idade escolar, com pelo menos 18 ou 20 quilogramas, deve ingerir de 500 ml a um litro de água, uma vez que, na medida em que for crescendo, a necessidade é maior.
“Então, nós vamos dividir isso pelas horas activas dessa criança. Tudo bem que o dia tem 24 horas, mas a pessoa não faz um consumo por esse tempo todo, fá-lo, sim, entre oito e dez horas. A quantidade do referido líquido precioso deve ser dividida por esse tempo, o que nos fará estimar um consumo aconselhável de 100 mililitros, de duas a duas horas”, avaliou o especialista, tendo recomendado às famílias a darem aos meninos a levar à escola um recipiente de 250 ml, para cobrir o período que ela estiver na escola.
Adiantou que a melhor forma de transporte e acondicionamento do precioso líquido a dar às crianças é nos “cantis”, que não precisam ser térmicos, mas revestidos de um plástico mais resistente, a fim de se evitar a reflexão directa dos raios solares, sob o risco de corroer e contaminar o plástico e, consequentemente, o líquido. Informou que, hoje, já há mais facilidade de encontrarem-se esses “cantis” plásticos, a serem comercializado nas ruas e avenidas.
Edna aconselha a não se optar por garrafas plásticas moles. Para ela, o professor também deve adoptar consumo de água regular, de modo a manter-se hidratado, preservando, desse modo, a sua saúde física e vocal, porque, segundo a médica, as cordas vocais, ao se tornarem aquecidas, precisam de estar hidratadas, para que a voz saia de uma maneira mais fluida, com uma fonia e tonia adequada, para que se faça compreender. “Essa prática de consumo regular também vai permitir que o raciocínio seja transmitido de uma maneira clara, para que esse professor, por conta de uma desidratação, não confunda a matéria.
A precaução serve para prevenir episódios como dor-de-cabeça, por muito falar e desidratação ou até mesmo desmaio e mal-estar perante os alunos”, detalhou Edna de Alegria. O consumo regular de água contribui para um bom exercício de explicação, de passagem de conteúdo e para que o professor consiga fazer isso com qualidade e rigor esperado, soube O PAÍS da médica, que aconselhou os docentes a manterem a disciplina na ingestão desse líquido, já que o adulto deve, no mínimo, consumir dois litros de água, por dia.
Qualquer água é sempre melhor do que nada
Relativamente à comum alternativa dos alunos em recorrem à água embala- da em sacos plásticos e vendida nas proximidades de escolas, a especialista em saúde começou por referir que as condições de conservação desse produto não é nada favorável, tendo asseverado que ninguém sabe da origem, da transportação e do nível de qualidade dos mesmos recipientes plásticos.
“Não é aconselhável, no que se espera, mas, em função da escassez de água dentro dos estabelecimentos escolares, sobretudo nos estatais, desfaz-nos qualquer rigorosidade e a incisividade, porque, como alter- nativa, pode ser sempre melhor do que nada”, ponderou. Edna de Alegria reconheceu que a medida pode acarretar riscos para a saúde das crianças, mas sabe que as pessoas estão mais disponíveis a correr atrás das consequências do que desencorajarem os seus filhos a beberem água vendida.