Com uma taxa de ocupação de quase 80 por cento, a urbanização na Quilemba, que conta com 8 mil habitações, não possui água canalizada desde a presença dos primeiros inquilinos em 2019.
Para satisfazerem as suas necessidades, as mais de 7 mil famílias que lá residem têm recorrido aos poços abertos pelos chineses, aquando da construção, apesar de o líquido precioso daí proveniente não reunir as condições necessárias para o consumo humano.
Ainda assim, tem sido fácil conseguir água a partir destes canais. De acordo com alguns moradores, que falaram à nossa reportagem, para se conseguir uma certa quantidade de água, são obrigados a sair de casa entre as 4h e 5horas da manhã, em função da enchente que se regista, sobretudo, em épocas de cacimbo.
Para as famílias com alguma capacidade financeira, a solução para a falta de água canalizada tem sido encontrada nas moto-cisternas que comercializam 1000 litros do precioso líquido no preço de 3.500,00 kwanzas.
No entanto, a água adquirida nas referidas cisternas também não oferece segurança, já que os seus vendedores abastecem as cisternas em furos artesianos, sem quaisquer tratamento.
Rita Catumbo, moradora do bloco V, disse que pelo consumo de água não tratada, as crianças da sua casa têm sido frequentemente diagnósticadas com febre tifoide.
Por isso, ela pede a intervenção das autoridades de direitos para a solução do problema que já leva quase cinco anos. “Não é fácil viver aqui.
Nós estamos a comprar 25 litros de água a 100 kwanzas, mas nunca sabemos se a tal água vem de onde. Por isso, sempre que uma criança sente dores de barriga, quando vamos ao Hospital e fazemos exames médicos, o resultado é sempre febre tifoide”, frisou.
Acrescentou de seguida que “pedimos ao Governo que olhe para este problemas que está a trazer doenças nas pessoas”.
Por seu lado, Ketsia Guerreiro, outra moradora do bloco V, disse que a falta de água é o único problema que faz da centralidade da Quilemba, uma “falsa” urbanização.
Para colmatar a lacuna, a sua família chega a gastar semanalmente mais de 10 mil kwanzas, com água para o consumo.
“Nós, aqui, temos energia todos os dias, mas o nosso maior problema, é mesmo a falta de água. Para uma família extensa como a nossa, precisamos gastar com água todos os dias mais de 10 mil kwanzas.
A nossa preocupação não é o dinheiro gasto, é a qualidade desta água que vem directamente dos furos para as nossas mesas”, sublinhou.
A interlocutora garante que, pelo menos, tem fervido a água para evitar certas doenças de foro hídrico, mas em função da actual situação financeira das famílias angolanas é necessário fazer contas, se passas a ferver todos os dias a água ou poupas o gás de cozinha.
Elisângela Diogo, que vive na centralidade da Quilemba desde 2020, disse que com o surgimento de novos moradores na referida urbanização até os poços já começam a revelar-se insuficientes, o que faz com que o tempo de espera seja maior e surjam brigas entre os vizinhos.
“A situação aqui não está para menos. A pessoa tem de madrugar para conseguir água aqui no Kajombo (poço) e, ainda assim, precisa esperar por muito tempo porque quando se retira muita água os poços secam.
É necessário aguardar por algumas horas”, frisou. De acordo com Elisângela Diogo, o tempo de espera e o processo de enchimento dos recipientes nem sempre decorrem de forma pacíficas.
“Têm ocorrido lutas aqui, porque há vizinhas que se sentem donas disso. Por isso, peço ao Governo que olhe para nós”, apelou.
Moradores do Tchituno pedem iinstalação de fontanários
O mesmo problema vivem os moradores do bairro de Tchituno, adjacente à centralidade da Quilemba. Um dos bairros mais novos a surgirem no município do Lubango, fruto do realojamento das zonas da Favorita, Comercial suburbano e parte do bairro Sofrio.
Desde a sua existência em 2011, o referido bairros, nunca teve água canalizada. Para ultrapassarem este constrangimento, os habitantes consomem água do rio Tchimukwa, que passa pela zona habitada.
Segundo apurou OPAÍS, é neste bairro onde está a ser cconstruído um sistema de captação, tratamento e distribuição de água que foi concebido para abastecer a Centralidade da Quilemba, que já conta com mais de 7 mil habitantes desde 2019.
Lucas Kaveto, morador do bairro Tchituno, disse que está a acompanhar as obras, mas lamenta o facto de não haver qualquer sinal de abastecer as residências do referido, pelo que pede a intervenção do Governo Provincial da Huíla, na qualidade de dono da obra.
“Estamos a ver a serem feitas aqui no nosso bairro, mas, ao que tudo indica, fomos esquecidos, uma vez que a tubagem que vai levar água à centralidade da Quilemba passa mesmo pelas nossas casas.
Seria mais sensato que também fossemos contemplados por este projecto, nem que fosse com a construção de fontanários ou os chafarizes”, frisou.
Mário Ferreira, outro morador do referido bairro, disse que para a sua família ter acesso à água, é obrigado a percorrer mais de 500 metros, até a um furo particular onde compra o precioso líquido.
“Estamos a ouvir que dentro de poucos dias vão levar água para a Centralidade, queremos pedir ao Governo que faça o mesmo com o nosso bairro, que não está tão distante da conduta que leva água para a Quilemba. Pelo menos, nas casas mais próximas à conduta”, solicitou.
Governador garante que água potável vai chegar à Quilemba no próximo mês
O governador povincial da Huíla, Nuno Mahapi Dala, garantiu, na cidade do Lubango, dar solução para a falta de água na centralidade da Quilemba a partir já do próximo mês.
Em entrevista ao jornal OPAÍS, Nuno Mahapi disse que os trabalhos que estão a ser desenvolvidos decorrem a bom ritmo, sendo que nos próximos dias serão realizados ensaios para o fornecimento de água aos moradores da Quilemba.
“O que queremos garantir é que a Estação de Tratamento de Água (ETA) entrará em funcionamento o mais rápido possível.
Recebemos garantias do empreiteiro que até em Agosto este equipamento entrará em funcionamento. Estamos com uma execução física na ordem dos 92 por cento”, garantiu.
Relativamente ao bairro de Tchituno, o governador provincial da Huíla referiu que apesar de não ter sido incluido no projecto de abastecimento de água à centralidade da Quilemba, o Governo local vai encontrar uma solução para que este possa igualmente beneficar-se do referido projecto.
“A nossa missão é cobrar ao empreiteiro para que possamos resolver os problemas da nossa população.
Na verdade, o Tchituno não tinha sido contemplado, mas já reunimos para encontrar uma solução, não podemos levar água à Quilemba, e deixar os moradores de Tchituno sem este produto vital para todos os animais”, garantiu.
Por: João Katombela, na Huíla