Vários são os estudantes que percorrem longas distâncias para frequentar o Ensino Superior em Luanda, que se vêem afectados com a subida da corrida de táxi, tendo os gastos mensais disparados entre 26 e 50 mil kwanzas.
Luís Francisco mora no distrito do Sequele, é estudante universitário do ensino público, frequenta a Faculdade de Ciências Sociais (afecto à Universidade Agostinho Neto) localizada no distrito da Maianga, município de Luanda, e conta que da zona onde vive para a escola chega a gastar um total de 1800 kwanzas/dia.
“Da minha residência para a via expressa pago kz 200, per- correndo até à vila de Cacuaco mais outros kz 200, partindo da vila até chegar ao São Paulo são kz 300 e dali para minha Faculdade 200 também, gasto um total de 1800 kwanzas, correspondentes a duas viagens (ida e volta”, disse.
O estudante sustenta que os seus custos incluem as conhecidas viagens curtas, praticadas por muitos automobilistas, afirmando serem gastos muito exagerados, tendo em conta o salário que aufere. Assim, considera a subida do preço do táxi, para o actual contexto económico, uma medida menos boa, que acaba por ser um grande peso para o consumidor final, o passageiro, referindo não serem as transportadoras que sofrem com a medida do Executivo.
No Zango 4, por exemplo, lamentou o estudante Inácio Maíca que, para ele, a subida do táxi veio dificultar profundamente a sua vida, uma vez que tem sido constrangedor sair e regressar à casa principalmente no período da tarde, atendendo a densidade populacional e a escassez de transportes que se verifica na sua área.
Inácio Maíca explica que a sua viagem, antes da subida do táxi, ida e volta, custava 300 kwanzas nos transportes públicos, mas agora gasta kz 1200, tendo-se verificado um aumento de kz 900, em relação ao período anterior. “Subir o preço dos transportes públicos, no qual viaja a maior parte dos cidadãos, foi um golpe para nós estudantes, porque entrar no Zango é muito difícil. Gasto com o meu regresso 500 kwanzas, que começa com as linhas curtas”, contou.
Aumento da tarifa de autocarros
Diferente de Maíca, está Fredy Cabral, morador do bairro Calemba 2, que gastava kz 400, alternando com o meio público, mas hoje chega a gastar 600 kwanzas, apesar de o seu gasto ser inferior em relação ao dos seus colegas.
Lamenta o facto de, nos autocarros, ter se verificado um aumento na ordem dos 200 por cento, classificando ser um excesso, se comparado com o táxi privado, na ordem dos 50. Para o estudante, a subida do preço nos transportes públicos demonstra a falta de compro- misso, por parte do governo, em formar o cidadão angolano, uma vez que quase todos utilizam um autocarro para a sua locomoção, em diferentes pontos da cidade de Luanda.
Marta Capitia, apesar de não ter dito a sua morada, avançou para este jornal que gastava, anteriormente, menos de 2000 kwanzas, e hoje gasta um valor perto dos 4000 mil kwanzas por dia, pelo que, em algum momento, pensou em desistir.
A jovem universitária afirma haver sinais de abandono e queixa de dificuldades financeiras para continuar, sobretudo, para estudantes que moram muito distante, por exemplo no Zango 4, bem como tem havido vários atrasos, devido à morosidade dos meios públicos, o que pode levar à reprovação de muitos dos seus colegas.
Conforme cálculos feitos, tendo em vista o somatório diário e mensal dos gastos de táxi, os estudantes que percorrem largos quilómetros de distância para o local de formação, chegam a gastar cerca de 26 a 50 mil kwanzas, se contado 26 dias do mês, incluindo os Sábados.
Economista defende implementação de um preço justo
O economista e docente universitário, Osvaldo Calivangue, reconhece a situação difícil em que muitos estudantes se encontram, e o Executivo precisava encontrar um preço justo para a cobrança do táxi, em benefício do prestador do serviço, bem como do consumidor, tendo em conta o poder aquisitivo das famílias.
Pelo facto de Angola viver uma economia de mercado, defende que haja um meio de resolução que converge, quer no lado da oferta dos serviços de táxi, quer no lado da pro- cura, onde faz parte o estudante, sobretudo o universitário, porque um defende preço baixo e outro um preço alto.
Para Osvaldo Calivangue, é importante procurar um preço justo, porque todas as coisas no mercado estão elevadas, referindo que os detentores dos transportes não estejam isentos da situação inflacionária que o país vive. “Os serviços de táxi não estão isentos disto, por conta do aumento dos equipamentos, da matéria-prima, acessórios e reparações, tudo foi elevado”, explicou.
No entender do docente universitário, os serviços dos meios públicos são os que menos deveriam subir, assim, o sector priva- do deveria seguir o mesmo caminho, pois o importante seria encontrar um preço que devia obedecer à generalidade do mercado. “As empresas públicas, ao invés de subirem os preços deveriam buscar mecanismos de maior oferta de serviços, maior diversificação das linhas de transportes, através de serviços alternativos”, disse.