Num período de 15 dias registou-se, no bairro Papá Simão, em Viana, três casos de violação e morte de mulheres. As circunstâncias foram quase as mesmas, tendo o mais recente crime sido considerado o mais cruel, pelo estado em que se encontrou o corpo. O medo toma conta dos moradores, que clamam pela rápida intervenção da Polícia
POR: Joel Coimbra
Um bairro bastante movimentado, também pelo facto de estar na fronteira com os municípios do Cazenga e Cacuaco, Papá Simão é uma zona suburbana nos confins do município de Viana, que alguns marginais elegeram, nos últimos dias, como principal palco de actuação. Quando a população pensava que poderia dar volta aos crimes de furto, bem como aos assaltos a residências, eis que é surpreendida com os crimes de violação seguida de morte. Por que razão os meliantes passaram a agir dessa forma, ninguém entende, mas a verdade é que as raparigas do bairro estão aterrorizadas.
Por ser um bairro com ligeira complicação na acessibilidade, a nossa equipa teve dificuldades para identificar a casa em que se encontrava o óbito da jovem Lú, de 22 anos, a vítima mais recente dos marginais. A conversa entre a vizinhança gira em torno da sua morte, com a agravante das outras duas vítimas, o que eleva a desconfiança em qualquer pessoa que parar com carro no bairro (como foi o nosso caso) e perguntar sobre o óbito. Uma das jovens que conversou com a equipa do OPAÍS, por medo, não aceitou ser fotografada, nem ser identificada, disse temer ser a próxima vítima, uma vez que todos os dias sai de casa ás 5 horas para ir a escola. “Ninguém está a salvo. Está a dar medo viver aqui. Os bandidos estão a violar e a matar”, lamenta. O clima de terror instaurou-se desde a segunda quinzena de Março, altura em que registaram o primeiro caso de violação e morte de uma jovem. Entretanto, apesar de ter acontecido no bairro, como muitos alegam, ninguém se recorda das circunstâncias, nem do nome da rapariga.
Não demorou muito tempo para que acontecesse o segundo caso, de que foi vítima Maria Eliseu, de 18 anos, jovem estudante que o bairro a viu crescer. A mãe de Maria, Isabel Joaninha, até o momento sofre com forma como a filha morreu. Maria foi encontrada, na Terça- feira, 23 de Março, na casa de banho da vizinha, com sinais de agressão e violação sexual. A mãe conta que a filha terá saído, depois do jantar, para ir visitar o irmão, no mesmo bairro. Quando eram 20 horas. Ao ver que não regressava, começou a preocupação. Procurou saber da outra filha se tinham saído juntas, mas esta respondeu negativamente. Foi descansar mesmo assim, até que às 3 horas da manhã a Polícia bateu a sua porta para trazer a triste notícia. “Pediram-me dados pessoais dela e também que os acompanhasse a casa da vizinha. Havia um corpo e o carro de recolha. Quando me aproximei, era mesmo ela”, conta, tristeza no olhar. A mãe de Maria alertou ainda que o bairro não está bom, fazendo menção ao primeiro caso, que foi de uma jovem violada por vários homens.
“Segundo o que ouvi, ela estava a sair de uma festa, à noite. Então um jovem diz que conhece a casa e pede para lhe acompanhar. Aí mesmo foi violada e morta”, salientou. Por outra, a entrevistada contou ainda que em Dezembro do ano transacto foi vítima de agressão quando deitava o lixo, perpetrada por um meliante que a tentava roubar. O indivíduo apertou-a no pescoço e golpeou-a com uma faca no rosto, tendo-a deixado com uma cicatriz no rosto. A família de Isabel Joaninha vive momentos de tristeza desde 2015, altura em que assassinaram o seu marido, em casa, quando foram assaltados, naquele mesmo bairro. Agora, tentam ultrapassar as duas perdas num bairro que apenas lhes tem dado motivos de tristeza.
Morta e encontrada com pedras no órgão genital
Da casa de Isabel Joaninha, partimos para a casa do óbito de Luísa José Gonga João, mais conhecido por Lú, de 22 anos. Apenas 20 metros separam as duas casas. Lú foi abusada sexualmente e morta. Encontraram no seu órgão genital pedras com aproximadamente 5 cm de diâmetro e areia. Esse crime ocorreu no último Sábado, mas o corpo foi encontrado no Domingo, na fossa de uma casa em obras, no interior de um terreno de aproximadamente 1 hectare, graças um grupo de jovens que jogava a bola nas mediações. Tudo começou, segundo a mãe da malograda, dona Conceição Cassua, quando ela saiu, no Sábado, às 19 horas, para apreciar a rua. Ás 5 da madrugada ainda não tinha regressado, o que levou a mãe a pensar que a filha tivesse passado a noite em casa de uma das suas amigas.
“Foi quando (mais tarde) uma menina veio e disse que a Lú foi morta e a colocaram numa fossa. Foi encontrada de cabeça para baixo e sinais de que tinha sido violada sexualmente. Tivemos de esperar pelos bombeiros para retirar o corpo”, conta a mãe. Lú filha deixou-lhe dois netos. OPAÍS dirigiu-se ao local e constatou que o tampo da fossa, com mais de dois metros de profundidade, era pequeno, pelo que os meliantes forçaram a entrada do corpo, segundo a vizinhança. O corpo de Lú, segundo o pai, José Gaspar, foi encontrado despido, com o rosto totalmente deformado e o pescoço torcido. “Essa soma a terceira rapariga morta neste bairro. Hoje acontece com a minha filha. Esse bairro está mal, tem muitos bandidos. Não sei se estão a vir de onde, mas o certo é que não conseguimos dormir”, lamentou. Entretanto, aquele chefe de família avançou que a Polícia está a investigar o caso, tendo já interrogado algumas jovens que tinham estado com a sua filha na sua última noite . Os habitantes clamam por, pelo menos, uma esquadra móvel da Polícia para que se sintirem mais seguros. O bairro enfrenta problemas de saneamento e carece de iluminação pública.