Especialista em recursos pesqueiros, Fastudo Quaresma confessa que já ouviu falar de muitos programas para a preservação dessa espécie rara, mas sublinha que nenhuma está a travar o arrasto e consumo do animal. Comemorou-se ontem o dia mundial das tartarugas
o técnico Fastudo Quaresma é de opinião que o Estado angolano crie medidas efectivas, realísticas e actuantes que possam garantir a contenção e protecção das tartarugas, ao ponto de impedir que as mesmas sejam capturadas e consumidas, sem qualquer responsabilização. “Às vezes, se pode pensar que é confortável falar das tartarugas apenas quando se dá a efeméride, mas se conhecêssemos os benefícios que este animal marinho representa, sobretudo na garantia de nutrientes e energias vitais para outras espécies, ninguém at+e escavaria a areia da praia para retirar os seus ovos”, disse Fastudo Quaresma, tendo admitido que essa espécie está em extinção em quase todo o mundo. Por isso, recordou que a lei que obriga a protecção e preservação das tartarugas é internacional, sendo que, à semelhança de outros países da costa africana, Angola também a ratificou.
“A ser assim, não é cobrar muito, querendo ver a criação de equipas de fiscalização ou ronda costeira, ainda que compostas de cidadãos voluntários, com algum tratamento especializado, que lhes acondicione a trabalhar com alguma regularidade”, frizou. As medidas de protecção a que se refere o especialista em recursos pesqueiros e marinhos impõem a contemplação dos critérios de captura impostos por armadores, designadamente o arrasto artesanal, semi-industrial e industrial. Fastudo Quaresma vê a fragilidade das que considera supostas medidas, em curso, na falta de fiscalização que dá azo a captura desregrada, venda e consumo dessas espécies marinhas.
Para si, os ministérios das Pescas e do Ambiente deviam unir esforços e reforçar também a criação de programas de sensibilização e mobilização para a população ir adquirindo a cultura de denúncia. Referindo-se sobre as zonas costeiras de mais incidência de tartarugas, que precisam de uma intervenção regular, Fastudo Quaresma mencionou as áreas do mar do Sombreiro, na Baía de Santo António, no município de Benguela, das zonas do Alto Liro, Cachama, Calombolo, Macaca, Chamume e Santa Iria, na municipalidade da Baía Farta, bem como nas praias da Cabaia e Lobito Velho, no ciclo municipal do Lobito.
Embora reconheça timidamente as localidades, em Luanda, indicou as zonas do Miradouro da Lua, Barra do Cuanza e Cabo Ledo, não desvalorizando as outras partes da orla marítima (de mar alto) daí, pouco frequentadas por banhistas. O Namibe é outra província que o técnico pesqueiro e marinho chama a essa lista, além do Cuanza-Sul, Bengo e Zaire. De Cabinda, o especialista preferiu apontar o mar normalmente poluído, fruto da produção petrolífera, a considerá-lo de mão cheia de tartarugas.
“só a reprodução as leva à praia”
Fastudo Quaresma lembrou que se fosse apenas pela cadeia alimentar, as tartarugas não teriam necessidade de ir parar na beira. “É mesmo só a reprodução que as leva à praia, porque as mesmas têm de cavar, na areia, com alguma profundidade e depositar aí os mais de cem ovos, tapar e voltar às águas do mar”, realçou o técnico. Informou que, sejam tartarugas pintadas, russas ou de couro, alimentam-se, normalmente, de frutos tropicais do mar, peixinhos e algas. Podem percorrer mais de 30 quilómetros por hora, dentro da água, sendo mais lentos fora da mesma, onde também podem vi- ver, mas à mercê de predadores, grupo do qual o homem faz parte.