O especialista em comportamento animal Pedro Lembe, que presta serviço de adestrador, defende que os cães não desenvolvem um comportamento agressivo por nada, pelo que a forma como são cria- dos pelos donos ou educados a lidaram em determinadas situações é que determina a sua acção. Pedro Lembe foi chamado a analisar o facto de continuarmos a registar casos de cães que atacam crianças até a morte, com particular atenção às raças de grande porte, como Pitbull e Rottweiler.
Sobre este assunto, para além de lamentar o facto, o jovem, que exerce o serviço de adestrador há mais de 10 anos, disse que, não importa a raça, todo o cão que não teve uma boa experiência com criança vê esta como uma inimiga e a tendência será sempre defender-se.
Quando se tem um cão, não se pode limitar o acesso da criança ao cachorro, uma vez que este animal tem de conhecer a criança e brincar com ela. “A não ser que o cão tenha uma doença que lhe leva a comportar- se assim: atacando a criança. A base de tudo é o seio familiar, como ele foi educado a lidar com crianças.
O cão já carrega um instinto de obediência por natureza, então, a forma como é educado muda tu- do”, disse. Para muitos, o cão é considerado como o melhor amigo do homem, mas para se almejar este propósito existem vários factores que se devem ter em conta, desde os cuida- dos básicos a ter com o animal, o ambiente familiar, dar-lhe o direito a passeios, entretenimento, jogos caninos, etc.
Em reacção ao caso que aconteceu recentemente, em que um cão de raça Pitbull agrediu mortalmente uma criança de sete anos, no município de Belas, na residência em que vivia, considera que este animal não deve ter tido um bom acompanhamento de incentivo comportamental por parte dos seus donos.
“Os cães não desenvolvem um comportamento agressivo do nada, primeiramente se deve saber como este cão é criado ou como é tratado pelos donos”, sublinhou. Os cães, muitas vezes, ficam agressivos quando as suas necessidades não são atendidas, segundo o especialista, e entender o animal está para além de dar-lhe comida. “Um cão fica agressivo ao ponto de matar quando permanece mui- to tempo enjaulado, não tem passeios, não vive de entretenimento, pode desenvolver uma agressividade descontrolada”, enfatizou.
Apesar desta possibilidade de desenvolvimento de agressividade descontrolada, o adestrador Lembe disse que esta agressividade não pode ser aplicada na sua família de casa, e, sim, em alguém que não consegue controlá-lo ou não o conhece. “Quando um cão toma esta atitude de atacar alguém a base de tudo é que se deve saber como este cão é tratado. É aquilo que se diz: cada dono tem o cão que lhe merece.
Se tu és agressivo, o cão será agressivo, se tu és meigo, o teu cão será calmo. A vivência canina de- pende do que nós, os donos, transmitimos ao nosso animal”, disse. Para finalizar, o especialista disse que quando se cria um animal deve-se ter um propósito, os donos de cães devem saber o que pretendem dos animais e, com base neste propósito, treinarem- no a alcançar. “Queres ter um cão para enquadrá-lo no seio social, para guarda ou serviço específico, etc. Quando você cria um cão como um amigo tem que aprender a se defender, mas não ao ponto de tirar a vida de alguém”, rematou.