A ocupação de zonas de descarga com habitações, as agressões às florestas e a actividade extractiva constam entre os riscos que ameaçam a sustentabilidade do aquífero do Lubango, na Huíla, e que podem criar problemas de disponibilidade nos próximos 50 anos, apurou a ANGOP
O alerta foi dado ontem, Segunda-feira, pelo ambientalista Silvano Leví, que em declarações à ANGOP afirmou que mesmo com estas condicionantes, a sustentabilidade da água na cidade do Lubango ainda é saudável, mas atendendo à dinâmica da explosão demográfica, as pessoas estão sujeitas à falta do líquido.
Explicou que as recargas dos aquíferos em qualquer território dependem das quedas pluviais e em função da explosão demográfica, é importante prover a preservação das bacias de recarga das reservas subterrâneas e nascentes.
No entanto, aferiu que tal responsabilidade deve ser entregue ao homem, de modo a fazer reservatórios e conservar as zonas de recarga, para assim não depender só de reforço das linhas de água, ou dos rios e lagoas, pelo que tais áreas devem ser melhor preservadas.
“Se gerirmos bem a água ainda podemos tê-la para a longevidade, mas precisamos ter a preocupação do Lubango daqui a 50 anos. Se continuarmos com o sistema actual não teremos o líquido, pois actualmente estamos com uma política de exploração e o aproveitamento dos recursos hídricos, sem se preocupar com a gestão”, continuou.
Silvano Leví reconheceu que o Lubango, pelo seu relevo, é por natureza um bom drenador das águas superficiais, mas também perde muita na altura das chuvas, pelo que há necessidade de melhor gestão do seu aproveitamento.
Ambientalista fala da necessidade de melhor gestão de zonas de recargas
Disse que a evolução da ocupação da urbanização exige que haja gestão das zonas de recargas que estão a esgotar, reconhecendo que as linhas superficiais do Lubango estão todas desgastadas, por não disporem de caudal suficiente para assegurar a filtração e o ciclo hidrológico.
A título de exemplo apontou a zona de recarga a caminho da comuna da Arimba que foi ocupada por pessoas, uma área húmida que está a deixar de existir. Realçou a necessidade de preservar a zona de recarga da Tundavala, aperfeiçoando as áreas de regularização dos caudais, para que esta não se perca a jusante e a filtração se faça regularmente por comportas, com vista a que a penetração dela no solo seja sistemática e de maneira adequada, a fim de atingir o nível freático apropriado.
“A lagoa da Tundavala às vezes seca e se não se faz um trabalho adequado de aumentar a sua bacia, de forma que acumule mais água e de forma sustentável fazer o uso de forma regular, através das comportas, mas antes é necessário fazerse um desassoreamento”, acrescentou.
Considerou que as zonas de recarga para além de possuírem a hidrologia, também têm a flora aquática, pelo que ao perder o perfil do rio Caculuvar, em que as suas margens eram ocupadas por plantas aquáticas, actualmente já não existem porque o rio baixou o seu caudal, em consequência a sua linha de água e as plantas estão a desaparecer.
“Temos também a lâmina de água na zona da Arimba em que com as obras da Circular do Lubango estão a ser feitas pontes e uma delas está a montante da lagoa.
Nesta se poderia se abrir uma nova lagoa para a água começar a ser preservada e com isso estaríamos a relançar uma nova zona de recarga dos aquíferos”, reafirmou.
Deu a conhecer que por detrás da Centralidade da Quilemba há um rio que também poderia ser uma zona de recarga para os furos de água feitos no local, bem como nas chamadas três pontes que, igualmente, se poderia ter uma zona de recarga.
“Se considerarmos a zona de recarga o Caculuvar e das três pontes a serem contínuas e a céu aberto, a água toda que cair vai para o Cunene, mas com gestão é possível que não vá toda à bacia hidrográfica do Cunene”, sugeriu.
Para além da ocupação humana, o ambientalista frisou, igualmente, a luta contra a desertificação, uma vez que a população está a abusar do manto florestal que se encontra no topo das montanhas, com cortes de árvores, queimadas, a exploração de granito e arenitos.
As montanhas, conforme a fonte, também são reservatórios de água e o abuso das mesmas vai conduzir à perda de algum perfil, do nível hidrológico e a céu aberto já se percebe que a circulação do líquido reduziu.
Referiu que o processo extractivo mineiro pode, também, conduzir ao risco do ciclo hidrológico, assim como a actividade agrícola, que caso não for bem gerida a sua metodologia de rega, pode trazer efeitos negativos com o desperdício de água.
Silvano Leví reforçou que, por isso, a rega tem de ser feita com gestão, ter os caudais, as valas de irrigação bem reguladas para que o desgaste da água não sobrecarregue as zonas de percurso, fazendo com que haja periodicidade de alimentação do cultivo.
O académico manifestou que apesar de o município ter solos que aceitam furos, é preciso um direccionamento, pese embora por causa da grande necessidade de água, as pessoas abrem furos no quintal, sem muita vezes obedecer às regras que passam por um estudo geológico e recomenda-se que tais furos sejam comunitários.
Silvano Levi, de 56 anos de idade, é especialista em ambiente, ordenamento do território e requalificação das cidades, em agricultura e pecuária.
É ainda perito em enfoque territorial e desenvolvimento rural, bem como em processos zoológicos, biologia pesqueira e em regeneração de pastos e estudos dos corredores de transumância. Já foi administrador do município do Lubango de 2012 a 2014.