A participação dos escuteiros em actos de adversidades e calamidade social vêm desde o tempo de conflito armado. São eles que, à semelhança da Policia e dos Bombeiros, sacrificam as suas vidas para salvar outras tantas que estejam em apuros. Hoje o mundo assinala o dia do fundador do escutismo, Baden-Powell
Por: Domingos Bento
Depois das forças de segurança, são os escuteiros que, sempre que necessário, se disponbilizam a acudir situações de calamidade social onde são precisas forças e inteligência para salvar vidas que estejam em risco.
Em Angola, a sua participação em situações de adversidades vêm desde o tempo do conflito armado. São os escuteiros que, ao meio a crise eleitoral, em 1992, entraram em acção para apoiar na organização, distribuição e assistência médica e alimentar às pessoas alojadas no campo dos refugiados do Bengo.
Ainda em 1992, foram igualmente os escuteiros que, na carência de forças de segurança, asseguraram todo o processo de organização da grande moldura humana que se deslocou ao aeroporto para receber o falecido Papa João Paulo-II, o visitante que, no país, arrastou mais gente para as ruas.
Na sequência, participaram em outras tantas situações calamitosas como é o caso do asseguramento e lançamento da primeira campanha de vacinação contra a poliomielite em 2000 e no trabalho de recuperação, identificação e salvação das vítimas do desabamento do edifício da ex-Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC).
Foram igualmente os escuteiros que, em 2015, trabalharam lado a lado com a Policia Nacional e com o Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros durante as fortes chuvas que assolaram o município do Lobito, província de Benguela, onde morreram mais de 60 pessoas e deixaram centenas de casas, escolas e postos de Saúde destruídos.
Diferente das forças de segurança, a participação dos escuteiros em actos de risco não é de carácter obrigatório. É um gesto voluntario que estes fazem para salvar outras vidas. E, nessa caminhada, já são muitas as vidas que, hoje, só continuam a respirar graças ao braço solidário destes jovens que cedo abraçaram o caminho do escutismo.
Tal como disse Ramiro Sousa, escuteiro há 18 anos, para salvar outras vidas não é necessário a utilização de armas nem outros materiais contundentes. A força e a inteligência são os únicos recursos utilizados por ele e outros seus companheiros na salvação de quem esteja em apuros. “Passamos por diversas formações integrais. Aprendemos todos os processos de socorro, defesa pessoal e de terceiros.
Para nós, não importa o perigo, o mais importante é fazer os outros felizes. Acreditar que nós, apesar de não termos armas, temos sim a capacidade de deixar um mundo melhor com o nosso gesto”, frisou, No entanto, quando a combinação da força e inteligência falha, em muitos casos são os próprios escuteiros que acabam perdendo a vida ou contraindo lesões graves que podem deixar sequelas para toda vida.
“Já tivemos escuteiros que até contraíram doenças quando tentavam simplesmente ajudar. É que fomos instruídos a não olhar para o sofrimento dos outros de forma impávida. Quando alguém está em perigo, temos sempre a necessidade de ajudar. Está no nosso sangue ajudar os outros”.
Um movimento em ascensão
Apesar de verem os outros seus companheiros a partirem, os que ficam não desanimam, aprendem a superar a dor da perda e continuam o seu caminho na realização do bem comum.
Por este motivo, o movimento regista, todos os dias, novos membros ávidos de partilhar o sentimento da solidariedade. Pelo país, o escutismo já conta com cerca de 24mil membros, sendo que grande parte destes são jovens entre os 18 e os 25 anos de idade. Até 2022, segundo António Sardinha, chefe nacional da Associação dos Escuteiros de Angola (AEA), a ideia é atingir aos 100mil escuteiros.
O caminho para se chegar a esta meta já está a ser feito, com a recepção e integração de novos membros, muitos deles sugeridos pelas próprias famílias que hoje descobriram o valor do escutismo que, em Angola, não é um movimento novo. É um processo que vem desde a era colonial.
Em 1975, houve um interregno, tendo o movimento retomado em 1991 com a fundação da AEA De lá para cá, António Sardinha conta que o movimento tem crescido de forma exponencial e ocupando um papel importante na construção da personalidade de milhares de crianças e jovens embuídos na causa que assenta na formação integral no domínio cultural, psicológico, emocional.
Desmistificar a farsa
Segundo António Sardinha, a educação para a vida é a principal missão do movimento escutista, que hoje está a celebrar o dia do seu fundador, Baden-Powell. Segundo o responsavel, não é verdade o que muitos, sem conhecimento, afirmam dizendo que o escutismo é um movimento ligado exclusivamente à Igreja Católica.
O escutismo está presente em todas as denominações religiosas e a forma como os membros sãos educados e orientações não diferem uma da outra. “Se for a todas as igrejas desde a IEBA, Apostólica, Católica e tantas outras vai encontrar o escutismo.
E todos com o mesmo espírito. Mudam os grupos, a quantidade dos elementos, mas a vocação é a mesma”, clarificou. Por outro lado, a realização de acampamentos, caminhadas, retiros e outras actividades servem de exercicios de fortalecimento do espirito e coesão dos membros com vista a enxergarem os mesmos objectivos enquanto grupo coeso, afirma Paca João, escuteiro.
Para o jovem, antes de salvar a comunidade, os escuteiros devem aprender a salvar-se a si mesmo. Neste aspecto, os acampamentos e as reuniões semanais têm servido de verdadeiro espaço de peparação, onde os membros são preparados a lidar com as diversidades e as diferenças. Também, o espirito de tolerância.
Sobre o fundador
O Escutismo foi obra de Robert Stephenson Smith Baden- Powell que nasceu em Londres a 22 de Fevereiro de 1857. Ainda novo, Baden-Powell, como é carisnhosamente chamado, participava juntamente com os seus irmãos em excursões de barco, onde aprendeu a manobrar um barco, a acampar, a cozinhar e a obedecer às ordens com rapidez e elegância.
Aos 12 anos recebeu uma bolsa para estudar na escola de Charterouse, uma das mais famosas escolas públicas de Inglaterra. A escola era localizada em Londres, mas foi transferida para Godalming, no Surrey. Junto à escola havia um bosque vedado aos alunos.
Foi aí que Baden-Powell aprendeu e praticou as suas capacidades de sobrevivência e convívio com a natureza. Apanhava coelhos (que assava em fogueiras sem fumo para não ser denunciado), observava animais, seguia pistas. Todo este treino foi-lhe muito útil mais tarde na sua carreira como escuteiro.