Numa altura em que se questiona e apela à recuperação de estradas asfaltadas, alguns especialistas recomendam ao Executivo a antecipar- se ao fenómeno das ravinas. Uma formação sobre a temática já está agendada para próxima semana
Texto de: Alberto Bambi
Engenheiros angolanos recomendam ao Governo a aposta na criação de planos de prevenção e controlo do surgimento e progressão de ravinas, de modo a evitar gastos de muito dinheiro com os projectos de estabilização desse fenómeno natural.
“Importante é mesmo saber que tipo de estudos apontam que uma ravina resolvida com prevenção custa dez vezes mais barato do que a sua recuperação, depois de atingir proporções megalómanas”, explicou Angelino Quissonde, tendo adiantado que tem sido por aí que se ataca um problema fácil de ser prevenido e controlado.
O engenheiro revelou que qualquer especialista da área das engenharias domina este conhecimento, mas se não o aplicam é porque nas concepções e empreitadas de construção tem havido outros “acordos silenciosos”.
Detalhando, esclareceu que uma ravina nasce da erosão e é aí que se deve atacar quando a intenção é impedir a sua progressão, pois, segundo ele, nenhuma ravina nasce grande, até porque, antes do seu aparecimento, a natureza avisa, com sinais muito precisos.
Por causa disso, Angelino Quissonde reprova as intervenções feitas única e simplesmente ao nível do pavimento, observando que se deve olhar mais para o escoamento das águas pluviais a montante, colocando dissipadores de energia, valetas de crista e todos os outros dispositivos que facilitem a drenagem, ao mesmo tempo que ajudem a evitar o surgimento de ravinas.
A conjuntura de causas das ravinas integra as naturais e humanas, sendo que entre as primeiras se enquadram como principal agente o vento, sem se descurar a gravidade da mudança na composição química dos solos, enquanto as da responsabilidade do ser humano encerram a retirada da cobertura vegetal do solo e o desmatamento, que provocam imediatamente a perda da consistência da terra.
“Isso porque a água antes absolvida pelas raízes das árvores e outros tipos de plantas, passa a infiltrar-se no solo, ao ponto de permitir que essa infiltração comprometa a sua estabilidade, facilitando nele a circulação desordenada do vento.
Administrações responsabilizadas
Por levarem a cabo projectos de construção e loteamentos e actividades de mineração ou desflorestação, as administrações municipais ou governos provinciais devem ser responsabilizadas pela evolução de ravinas.
“Estes órgãos permitem a execução de loteamentos sem implantação das infra- estruturas hidráulicas perpendiculares às curvas de nível, assim como a mineração de forma desordenada, provocando grande erosão, porque, ao retirar uma grande quantidade de terra de uma jazida de minério, os solos mais próximos podem perder a sua estrutura de sustentação”, argumentou o entrevistado, tendo acrescentado que, depois dessas actividades não existia nenhum programa de reposição ou compensação com zona verde ou jardim.
Outros engenheiros socorreram- se do facto de o fenómeno em causa consistir na formação de grandes buracos de erosão, normalmente causados pelas chuvas em solos onde a vegetação é escassa, para alertar o perigo que a cidade de Luanda corre, neste capítulo.
“Luanda já tem muitas ravinas, destacam-se a do Zango III, que cortou uma rua, a da Estrada Nacional Número 100 (Luanda- Benguela) que, na área do Quilómetro 30, no Ramiros, tem a estrada quase sempre ameaçada e a zona do Miradouro da Lua teoricamente a ser engolida”, realçaram para chamar à atenção dos dirigentes da cidade Capital.