A ausência regular dos docentes da escola 6012 neste dia da semana suscitou nos alunos a procura de outras atracções que já preocupam os pais
POR: Alberto Bambi
Alguns moradores do bairro Augusto, em Mazozo, município de Icolo e Bengo (Luanda) informaram a OPAÍS que, normalmente, os professores da escola local não comparecem ao posto de trabalho às Sextas-feiras, uma situação que provoca a dispersão das crianças pelo bairro adentro à procura de outras atracções. “Alguns miúdos não aceitam ir à escola na Sexta-feira, porque dizem que os professores já não vão aparecer, outros se preparam, vestem a bata, mas não vão às aulas, vão à lagoa ou procuram brincadeiras em sítios afastados da escola e de casa”, contou Dona Maria, tendo adiantado que a segunda opção deixa os pais preocupados, por não saberem concretamente onde os filhos se encontram.
Segundo os moradores, as ocorrências datam do ano passado, altura em que o estabelecimento de ensino primário e secundário foi inaugurado sob o timbre numérico 6012, e a comunidade já reclamou na direcção da escola. Não vendo mudança no quadro, algumas senhoras optaram por levar consigo os filhos para ajudarem nas tarefas diárias, principalmente na lavagem de utensílios, de roupa e no transporte de água para casa.
“É melhor a gente trazer os nossos filhos aqui na lagoa do que eles virem sozinhos, porque assim podemos controlar o banho deles e outras brincadeiras”, relatou Madalena, tendo acrescentado que os petizes também “ajudam a retirar o peixe da canoa para as nossas bacias”. A directora geral da escola em causa, Joana Florinda Tchaquarta, reconheceu a situação como preocupante, mas garantiu que a sua equipa de trabalho tem vindo a solucionar gradualmente o problema, já que, independentemente das obrigações laborais dos seus colegas, estavam envolvidas causas muito delicadas e sensíveis. “O professor tem obrigação de aparecer no local de trabalho todos os dias em que o dever lhe chama, mas há realidades que não devem passar despercebidas. Pois, do elenco que trabalha aqui na escola, apenas dois docentes são residentes, os outros, como eu, vimos todos os dias de Calemba II, Cazenga e de outras paragens longínquas de Luanda”, observou a gestora escolar, avisando que não pretendia defender os colegas.
Custos do transporte na base
Joana Tchaquarta avaliou os gastos financeiros que seus colegas fazem diariamente em dois mil Kwanzas, um valor que, multiplicado pelos 22 dias de trabalho, resultava em 44 mil, que constitui, teoricamente, o salário que muitos deles auferem. Aliás, faz algum tempo que muitos destes funcionários esperam pelo acerto de categoria, de modo a auferirem de um salário melhor, para conseguirem alçar as responsabilidades que lhes são atribuídas, de acordo com a directora, para quem a exigência sobre os mesmos passaria por fechar os olhos a estas inquietações. Outro pormenor que serviria para assegurar a presença de docentes na escola passa pelo envio de mais oito funcionários, no entender da directora, que disse já ter engendrado algumas dinâmicas, principalmente as relativas a actividades extra-escolares.
Enquanto dura o cenário, a directora e o sub-director pedagógico da 6012 desdobram-se a ocupar os alunos que marcam presença às Sexta-feira, no recinto escolar, com ensinamentos integrados. “Porque, aos poucos, o problema da abstenção está a passar dos professores para os alunos, ou seja, agora que a direcção encontrou estratégias para garantir as aulas, os alunos decidiram, por si só, não aparecer na escola no penúltimo dia da semana”, observou Joana Tchaquarta, que já tratou de ir contactando os pais e encarregados de educação, de modo a mandarem os seus filhos de volta.