As instalações foram construidas com fundos públicos e os professores são pagos pelo Estado, porém, os gestores das escolas públicas da centralidade do Sequele arrecadam anualmente mais de Kz 100 milhões, de contribuições dos encarregados de educação
Por: Milton Manaça
Os pais e encarregados de educação das escolas da centralidade do Sequele, em Luanda, queixamse dos valores cobrados nas três escolas construídas pelo Estado para atender a população estudantil.
Apesar de terem sido erguidas com fundos públicos, a gestão foi entregue a um privado, o que está a deixar os encarregados defraudados, pelo facto de a cidade ter alegadamente deixado de ter instituições de ensino gratuito, contrariamente o estipulado por lei.
A equipa de reportagem de OPAÍS, deparou-se com a jovem Isabel Nefuanga à saída da escola primária 4089, após matricular a filha de 6 anos de idade. Contou que teve de desembolsar 1.000 kwanzas (Kz) para a compra da capa de processo e cartão de estudante.
No momento em que foi abordada por este jornal, Isabel levava consigo a capa de processo que havia comprado fora da instituição, mas o funcionário que a atendeu disse-lhe que só aceitavam capas adquiridas na instituição. Para além deste emolumento, a escola baptizada como Padre Ernesto Rafael, cobra mensalmente 1.000 kz de propinas aos alunos da iniciação à 6ª classe.
Pedro Augusto, outro encarregado de educação cuja filha esteve matriculada nesta escola durante dois anos, confirmou o facto, tendo frisado que quando se mudou para o Sequele esperava encontrar escolas públicas em que os filhos estudariam de forma gratuita.
“A minha filha estudou aqui a 5ª e 6ª classes, e nesses dois anos fui pagando os 1.000 kz por mês. Agora, ela vai estudar a 7ª classe e o valor da propina é 1.500 kz. Este ano terei duas crianças matriculadas e, como podem perceber, até ao final do ano os valores serão avultados”, considerou. O encarregado disse que como forma de pressão aos que se abstêm a pagar, deles a escola não recebe documento algum, e assim não podem fazer a confirmação de matrículas no ano lectivo seguinte.
Confirmações custam 3000 no puniv Já na escola do IIº ciclo 4073 Padre Inácio Tambo (Puniv), encontramos o encarregado que identificou-se apenas por Carlos, que com os processos em mãos aguardava pela sua vez para matricular, pela primeira vez, o filho na 10ª classe. Proveniente do bairro Imbondeiro, arredores do Sequele, o encarregado de educação disse que o valor da comparticipação é alta, realçando que nem todos os encarregados têm condições de pagar mensalmente 2000 kz.
“Se esses valores servem para pagar as senhoras da limpeza e os seguranças, acho que se cobra muito alto, porque se fizermos as contas, em função do número de alunos, é uma fortuna que se faz aqui anualmente”, reclamou Carlos. No Puniv do Sequele, a confirmação de matrícula são Kz 3000 mil, como consta numa nota afixada numa das janelas da “sala de cobranças de comparticipações”, situada antes da sala do director geral da instituição. Já o valor da propina, segundo os gestores da escola, são 2700 kz.