A Região Sul de Angola foi e continua a ser a mais afectada pelas alterações climáticas mundiais, por força do fenómeno El Ninõ, que, segundo a Agência Francesa de Desenvolvimento, já afectou mais de um milhão de famílias
Os dados foram avançados, ontem, na cidade do Lubango, capital da província da Huíla, pela representante da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), Valery Itheo, tendo dito que o fenómeno que provocou seca cíclica há mais de dez anos já afectou mais de um milhão de pessoas nas províncias do Namibe, Cunene, Huíla, Cuando Cubango e Benguela.
A representante da referida agência falava na cerimónia de lançamento do projecto de Resiliência Climática e Segurança Hídrica (RECLIMA), onde, entre outros aspectos, abordou o fenómeno das alterações climáticas no Sul de Angola, que afecta mais os sectores agropecuário e das pescas, causando um impacto enorme na economia nacional.
Por esta razão, foi estabelecida uma parceria entre o Ministério da Energia e Águas de Angola (MINEA), o Banco Mundial (BM) e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) para a criação do Projecto de Resiliência Climática e Segurança Hídrica (RECLIMA), que entre outros objectivos, preconiza estabelecer bases para um crescimento sustentável e a melhoria dos serviços de abastecimento de água e a gestão dos recursos hídricos para a resiliência climática.
Segundo o secretário de Estado das Águas, Manuel Quintino, este projecto, que deve ser implementado até 2026, surge de um despacho presidencial que aprova os acordos de financiamento para a sua cobertura financeira, estabelecidos entre Angola, o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento e a Agência Francesa de Desenvolvimento.
“Para a implementação do projecto RECLIMA existe um orçamento de USD 450000000,00. Do ponto de vista territorial, o projecto implementado nas províncias de Benguela, Cuando Cubango, Cuanza-Sul, Huíla, Luanda, Namibe e Zaire, compreendendo quatro componentes” disse. As quatro componentes traduzem-se na melhoria dos serviços de abastecimento de água, que visa o aumento da confiabilidade na segurança hídrica nas zonas urbanas e periurbanas das províncias abrangidas; o fortalecimento da gestão dos recursos hídricos visando uma resiliência climática; a coordenação institucional na gestão do projecto e as respostas às emergências de contingência.
Manuel Quintino disse que estas acções contarão com a intervenção de duas instituições ligadas ao Ministério da Energia e Águas, nomeadamente o Gabinete para a Administração das Bacias Hidrográficas do Cunene, Cubango, Cuvelai, bem como do Instituto Nacional dos Recursos Hídricos.
Parceiros garantem reforço da parceria
Os parceiros do Governo angolano na implementação do projecto RECLIMA, nomeadamente o Banco Mundial (BM) e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) garantiram, ontem, na cidade do Lubango, o reforço da parceria no combate aos efeitos das alterações climáticas. O representante do Banco Mundial residente em Angola, Juan Carlos Alvarez, disse que os apoios do Banco Mundial para o sector das Águas se têm centrado essencialmente nas empresas provinciais de Água e Saneamento e nas instituições de nível nacional.
Apesar de este envolvimento ser muito produtivo, a seca no Sul de Angola, nos últimos 10 anos, mostrou a necessidade urgente de se prestar mais atenção à gestão dos recursos hídricos e na variabilidade climática a nível provincial e municipal. Por seu lado, a representante da Agência Francesa de Desenvolvimento, Valery Itheo, afirmou que o projecto RECLIMA é particularmente importante, sobretudo para o acesso à água nos centros urbanos e nas zonas rurais. “Angola, infelizmente está entre os 20 países mais expostos aos efeitos das alterações climáticas, o que afectou mais de 1 milhão de pessoas” afirmou. Por outro lado, a representante da Agência Francesa de Desenvolvimento revelou que o fenómeno El Niño poderá atacar novamente o planeta ainda este ano, e que a catástrofe não será pequena.