Segundo mãe-santa, o nome que uma das curandeiras assume, na localidade da boa esperança, um dos subúrbios afastados do município de belas, em Luanda, não é concebível que haja pessoas que acreditem nessa informação, porque tudo entre o processo da contracção e da cura dessa conhecida como ‘mina tradicional‘ é feito de forma clandestina
Um dia depois de ter sido surpreendida pela equipa desta reportagem, a curandeira revelou que, pela gravidade com que os pacientes que cura se têm apresentado, os pós ou líquidos, que, quando accionados, resultam na contracção de tala, são tão perigosos, de modo que pode envenenar quem os maneja.
Sem alguma experiência adquirida. “Por outro lado, se isso fosse verdade e atendendo o grau de inveja, orgulho e espírito de retaliação que paira, sobretudo na mente dos jovens, como estariam as províncias do país?”, questionou a quimbandeira, tendo aclarado que o fenómeno tala, actualmente, já não é só uma preocupação de quem vive, trabalha, apregoa ou negocia em Luanda.
Essas alegações da curandeira encontram justificação no facto de quase todos actuais habitantes dessa urbe advirem de várias provinciais de Angola, ao ponto de, na capital do país, residirem pessoas oriundas das 17 províncias. Mãe-Santa prontificou-se a detalhar o cenário que se passa no mercado dos Kwanzas, onde, segundo entende, nenhum auto- aclamado vendedor de tala consegue dá-las ao cliente. Segundo ela, a negociação entre ambos vai alcançar contornos estranhos, que, normalmente, chega a culminar com a continuação da dúvida.
Relativamente à tipologia desses produtos, que mistura o poder do veneno natural com o da invocação espiritual, Mãe-Santa preferiu ater-se aos materiais que retira das pernas, mãos e de outras partes do corpo humano, tais como ferro, talheres, ossos, cabelo, madeira, envoltura de panos e fel, saliva, dentes e peles venenas. No que toca aos produtos que ela usa para curar os pacientes que recorrem aos seus serviços, a quimbandeira, pediu a compreensão dos jornalistas para não expor um segredo, de que se serve para obter resultados satisfatórios.
Da pequena lista que lhe ocorreu divulgar, falou de folhas, paus, troncos ou raízes, que, ao serem tratados, artesanalmente, são transformados em pós e seivas. Conquanto a equipa desta reportagem se tenha apercebido que os trunfos foram deixados nas entre- linhas do discurso da mestre, os dois doentes com tala, encontrados num e noutro quintal das curandeiras, foram unânimes em admitir que os produtos de cura preliminar eram mesmo os citados pela sua curandeira.
Dor de pontada no coração e na cabeça
VK e Bad (nomes fictícios) são dois pacientes com tala encontrados, respectivamente, um na zona dos Tanques outro na da Boa Esperança, por sinal, a ser-lhes aplicados processos e ritos de cura de uma tala na perna direita e na peitoral-esquerda. Ambos revelaram que a dor do dia da contracção é semelhante a do impacto de uma descarga eléctrica, mas que, horas depois, dá uma sensação de ter desaparecido, porque, o processo de apodrecimento ocorre no interior do órgão afectado.
“Mas, depois de começar a inflamar o órgão afectado, é como se a dor se instalasse na cabeça e no coração, além de algumas picadas no membro prejudicado. E, normalmente, dói mais de noite, você não consegue dormir, nem mesmo mexer a parte afectada,” detalharam os doentes, que foram parar a essas curandeiras, por meio de um intermediário. VK foi levado pela sua mulher. Já Bad é sobrinho de Mãe-Santa que, ao tomar conhecimento, pediu a Kota Fula para acelerar a chegada dele de Cabinda a Luanda.
Cuanza Sul, Benguela, Huambo, Bié e Malanje entre as fontes da tala
Apesar de não ilibar qualquer província de Angola das fontes de tala e consequente cura, «Paz-na- Alma», a mulher que socorre muitos pacientes, na zona dos Tanques, no município de Belas, não teve receio de apontar as províncias do Cuanza Sul, Bié e Huambo, bem como as de Benguela e Malanje. “Isso não quer dizer que as outras 13 não têm essas práticas, mas nós que estamos aqui, no corredor municipal de Belas, temos mais pacientes oriundos dessas províncias.
Aliás, também nos certificamos disso, pelos pacientes que cura- mos e que acabam por ser mesmo oriundos desses ciclos provinciais”, aclarou Paz-na-Alma, que, curiosamente, admitiu tirar mesmo dessas províncias os medicamentos que usa para curar a tala. Indagada se esse ofício, que diz praticar, há mais de 15 anos, impacta negativamente na sua relação com o esposo, esboçando um sorriso irónico, a Tia do Tanque, como é tratada por muitos, respondeu dizendo que o seu Manuelito já está dentro do esquema, desde que decidiu ficar com ela. “Mas posso mesmo dizer-vos que quando estou a curar um do- ente, ele não pode tocar-me, na cama, se não os espíritos me reta- liam”, disse.
Desactivado primeiro impacto da doença aos olhos de OPAÍS
Curiosamente, quando a equipa de reportagem chegou ao local, autorizadamente guiada pelo intermediário da mãe Santa, que se identificou por ‘Kota Fula’, uma denominação bastante invocada, depois da sua entrada no nobre quintal da referida localidade de belas, deparou-se com o exercício do dia, que envolvia um militar destacado em Cabinda e a curandeira. entre invocações de espíritos ancestrais e entidades consideradas sacras por diversas confissões religiosas evangélicas, a mestra procurava buscar a casa das causas de um soldado, então desprovido do seu habitual armamento.
Foi com a camisola, rasgada, na hora, dos ritos, do corpo do militar que mãe-Santa conseguiu dar a ver aos presentes duas munições, ora cravadas no peito. Depois disso, o paciente caiu enfraquecido, passando para os cuidados de reanimação sob as mãos dos ajudantes da protagpnista. Como a fila dos doentes, alguns com tala, outros com perturbações mentais descontroladas, tinha de andar, Kota Fula correu a explicar para a sua superior que os dois seguintes eram jornalistas, que trabalhavam numa matéria sobre as talas, analisando-lhe o calvário por que passam as vítimas e o processo de cura. “Não me corte a ligação com os espíritos.
«Dai-lhes vós mesmos de comer» ”, disparou a mestre, como é também conhecida por pacientes e familiares destes , direccionando um olhar aparentemente de descontentamento, por ter sido surpreendida, no acto de cura. A seguir, o intermediário, veio tranquilizar os repórteres que, por pouco não abandonaram o quintal, por sua própria conta. A culpa não tinha morrido solteira, mas atirada ao adjunto do Kota Fula, na altura, ausente do local, pelo facto de lhe ter sido recomendado para facilitar a chegada outra família cujo parente padecia de epilepsia.