Nunca mais vi. Não sei porque, mas era normal numa determinada fase do ano existirem exercícios sobre governos virtuais, aqueles em que cada um apontava os nomes que bem entendesse para dirigir determinadas áreas do país.
Nalguns pontos era quase risível os nomes indicados. Via- se a olho nú propostas que não fugiam daquele campo do amiguismo, ou seja, da indicação de figuras próximas, se calhar alguns com olhos nos benefícios que se poderia obter caso este parente ou outros pudessem ter acesso.
Quem acompanha o desempenho dos responsáveis da Polícia Nacional, saberá de antemão que existem nomes de que há muito se vêem destacando. Não será surpresa alguma que estes um dia venham a assumir posições de relevo, até porque distante das orientações daqueles que parecem representar uma velha guarda, há outros que se vão mostrando mais republicanos, sem quaisquer máculas que possam colocar em xeque o trabalho que fazem e muito menos as afirmações e informações públicas.
O exemplo que vem sendo dado pelo comandante provincial da Polícia Nacional na Huíla e director do Ministério do Interior nesta província tem sido irrepreensível. São poucas ou quase inexistentes as queixas sobre posições de suposto favoritismo a A ou B como se quer hoje vender na sequência de um acidente de viação que envolveu o deputado Sampaio Mucanda, do círculo provincial do Namibe. Suspeito de ter conduzido embriagado no momento em que o parlamentar embateu contra uma motorizada, vulgo kalelwya, provocando três feridos, um dos quais em estado grave, o parlamentar surgiu nas redes sociais atirando- se contra a Polícia Nacional, cujos agentes diz que lhe estiveram a intimidar ou até mesmo a complicar.
Sampaio Mucanda procura desfazer os argumentos apresentados pela Polícia Nacional, incluindo que não se encontrava em suposto estado de embriaguez nem que se tenha furtado ao teste de alcoolemia depois de ter tentado fugir às autoridades inicialmente.
A imagem criada ao longo dos anos por muitos sectores da própria Polícia Nacional acabam, muitas vezes, por não ajudar a corporação, talvez seja este o ponto de vista en- contrado pelo parlamentar da UNITA, com ou sem uma equipa de advogados. Porém, este exercício em que se apresenta quase que na pele de um inocente encontra um terreno pouco fértil na Huíla para se impor devido à imagem de marca que se construiu ao longo do tempo em que Divaldo Martins está a dirigir a corporação.
Entre as informações avançadas pelo deputado e as apre- sentadas pelo Comando Provincial da Polícia na Huíla, para muitos a escolha será quase óbvia. Não havendo quais- quer dúvidas sobre quem estará a faltar com a verdade. Mais do que rebater as declarações feitas pelas autoridades, o certo seria se se pudesse notar no comunicado do representante do povo um sentimento de alguma comoção pela situação ocorrida, em que felizmente não houve mortes. Sabe-se que o parlamentar em causa é um crítico ferrenho das acções do Executivo. O que é bom para quem desempenha as suas funções, notando-se as publicações e a fiscalização que faz às actividades do Governo liderado por Archer Mangueira. Por isso mesmo, seria bom que mais do que desconstruir uma narrativa em que queira abafar a Polícia Nacional, o parlamentar pudesse se desculpar e não encontrar fantasmas.
Não é anormal que um deputado beba. Afinal , também é humano. É sim conduzir sob efeito de bebidas alcoólicas como se diz sobretudo numa fase em que se critica o aumento dos acidentes de viação e as suas causas. Talvez se tivesse soprado o bafómetro teria evitado muitas outras especulações, mas não o fazendo e usando as imunidades para o efeito, nem precisamos de usar aquele velho aforismo de que quem não deve não teme.
Para muitos, a explicação de que se tenha sentido inseguro para usar o bafómetro, com medo de que o resultado pudesse ser manipulado, só pode lembrar o diabo.