A imagem de um agente da Polícia de Trânsito fugido, algures na cidade de Luanda, depois de ter sido interpelado por funcionários da Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE), pode ter sido um dos mais vistos durante a ‘reentre’ desta instituição que acabou por completar, nos últimos dias, 31 anos de existência.
Até então, apesar de se saber do envolvimento dos agentes da corporação na chamada pequena corrupção, extorquindo os automobilistas e motociclistas, o que se via era uma situação de quase compreensão pela prática, porque num determinado momento da nossa vida política, social e económica houve quem tivesse até sugerido que a gasosa (pente) era um entendimento entre o Polícia e o cidadão no terreno. Um país em que durante muitos anos passou a constar nos grandes relatórios internacionais como sendo um dos mais corruptos do mundo, um mal descrito pelo anterior Presidente da República como o ‘pior depois da guerra’, o fenómeno se havia espalhado em todos os seus segmentos como um verdadeiro cancro. Apesar de todo o esforço que se vai fazendo – e resultando – poucas ainda são as instituições em que o fenómeno da gasosa, a micha ou o molhar a mão não se tenha instalado. Não sendo em vão que a confiança nelas tenha decaído significativamente, o que fez com que para se ter acesso a um documento, uma vaga numa escola ou ainda obter um determinado ser- viço tivesse que ser na base de pagamentos.
De tão enraizado, não há dúvidas de que denúncias como a dos agentes ou funcionários públicos que recebem dinheiro para prestarem certos serviços acabariam por preencher mesmo os noticiários devi- do ao estágio calamitoso em que se encontravam as próprias instituições. Por isso, não estranha que todos os dias a Inspecção Geral do Estado receba queixas e apresente para a sociedade os supostos prevaricadores.
Entretanto, apesar do número e da má imagem que estes funcionários possam causar ao Estado, ainda assim não se trata daqueles que acabam por lesar pro- fundamente os interesses dos angolanos. Como dizem alguns, muitos destes que acabam por receber gasosas não deixam de ser corruptos nem menos prejudiciais. Há quem até os apelide de pi- lha galinhas num rol em que ainda parecem abundar muitos tubarões.
Durante o seu discurso por ocasião do aniversário do IGAE, o seu director, Sebastião Gunza, foi peremptório em dizer que a instituição que dirige tem desenvolvido muito mais acções, mas só que não divulga- das porque acabam por cair em segredo de justiça. Entre estas acções estão, certamente, as auditorias e inquéritos sobretudo em grandes instituições públicas.
É que, por um lado, está um grupo de funcionários públicos que acaba exposto por crimes mais leves, merecendo honras televisivas e outras que à partida fazem com que a sociedade os chamusque antes de um julgamento, mas do outro há um grupo de indivíduos que à reboque do segredo de justiça vê as suas imagens salvaguardadas não importando a gravidade, às vezes, do buraco que possam criar para o Estado.
Não seria nada errado se também se pusesse a nú os resultados de muitas auditorias que a Inspecção Geral do Estado vai realizando às empresas ou instituições onde não se contam tostões, não se fala de simples gasosas nem desaparecem simples caixas de medicamentos.