As aldeias do município do Songo são potencialmente zonas agrícolas, sobretudo as regedorias do Nzadi e Nsundi, mas as vias de acesso representam um grande entrave para o seu desenvolvimento, estando a população a sentir-se esquecida.
Eduardo Garcia, regedor adjunto do Nsundi, afirmou que a sua zona de jurisdição tem mais de três mil e 300 moradores, e vivem muitas dificuldades, sendo uma das principais as vias de acesso, a falta de centros médicos e escolas.
Para encontrar serviço de saúde, a população tem levado o doente de tipoia até à aldeia onde é possível encontrar transporte, muitas vezes pernoitam no caminho e chegam a fazer 24 horas de andamento com o doente.
O regedor adjunto apelou às entidades superiores que melhorem as condições de vida da população, tendo em conta o sofrimento.
“O Estado nunca resolveu o problema das estradas, escolas, centros médicos, a população tem feito automedicação até encontrar o serviço de saúde”, lamentou Eduardo Garcia.
Um dos residentes da localidade, Garcia Rafael André, morador da regedoria do Nzadi, bairro Quinto, contou que, por conta do mau estado da via, mobilizou alguns vizinhos e uniram esforços para melhorar o acesso.
A zona apenas tem caminho para camiões. Garcia André referiu que a população do Nzadi é maioritariamente camponesa e cultiva em grande escala produtos como a mandioca, ginguba, feijão, banana, batata-doce, e a maior dificuldade continua a ser a falta de meios de transporte para levar estes produtos pelo menos até ao município sede.
“O único meio que temos são os camiões, que levam a nossa mercadoria, porém viajamos por cima das mercadorias.
Mesmos os camiões podem fazer um ou dois meses sem passar, e o preço da viagem é 4500 kz para cada saco de bombó e o mesmo valor para cada pessoa”, lamentou Garcia André.
Quando têm preocupações de saúde saem da aldeia até à sede municipal, por vezes não chegam a tempo e o doente acaba por morrer no caminho.
Por outra, “as escolas que temos foram feitas pelos moradores, de pau-a-pique ou ramos de palmeiras. Desde o advento da paz, o bem maior que temos é apenas a ponte, e nada mais”, sustenta.
Equipa do FAS apelidada de teimosa
O director provincial do Instituto de Desenvolvimento Local (FAS), Nanizaiawo Capitão, contou que a sua equipa trabalhou recentemente no município do Songo e nas aldeias da regedoria do Nzadi e Nsundi, que são as localidades mais afastadas da sede municipal e as mais difíceis de acesso.
Em função do trabalho que a equipa realiza no campo, que é a componente das transferências sociais monetárias, há a necessidade de chegar às aldeias com os carros (Toyota Land Cruiser), para além das motas que têm sido o transporte ideal, mas, ainda assim, também encontram grandes dificuldades.
De acordo com Nanizaiawo Capitão, a sua equipa quando foi pela primeira vez nas aldeias do Nzadi e Nsundi, em 2021, não conseguiu concluir o trabalho, pelo facto, em 2022, se fez o trabalho em falta e, de seguida, foi feito o pagamento.
“Fomos chamados de atrevidos e teimosos, porque carro do género não anda por essas zonas, apenas camiões”, disse.
Por seu turno, o administrador municipal do Songo, Maurício Pascoal, afirmou que a situação das vias de acesso para as aldeias é um desafio, e, à margem do programa de combate à pobreza, têm feito a desmatação de alguma vias. Porém, por conta dos recursos financeiros escassos, não tem sido possível fazer mais.
No ano passado, foi melhorada a via que liga a comuna do Quivuenga ao Quicuva, mas, depois das chuvas, necessita de mais intervenção.
Este ano, será intervencionada a via que liga a Aldeia Mbau II ao Cavunga, com o objectivo de ver melhorada a questão do escoamento dos produtos agrícolas.
“O trabalho vai continuar a nível da administração municipal, de modo a termos a melhor circulação de pessoas e bens”, garantiu Maurício Pascoal.