Por conta do número crescente de doentes mentais que, nos últimos tempos, deambula pelas artérias da cidade de Malanje, as autoridades sanitárias, locais, cogitam a criação de condições para atender pessoas com problemas psicóticos. O Governo local já orientou uma equipa intersectorial a recolhê-los das ruas a partir do mês de Março
Por: Miguel José em Malanje
O director provincial da Saúde, Avantino Sebastião, disse a OPAÍS que a situação dos doentes mentais é um problema multissectorial e de uma resolução complexa, porque segundo estudo preliminar feito por psicólogos, docentes afectos ao Instituto Superior Politécnico de Malanje, grande parte deles são pessoas que têm problemas sociais de vária ordem.
Avantino Sebastião argumenta que muitos foram abandonados pela família, devido às carências que elas apresentam, uns por frustração de terem perdido emprego e por outras razões de índole social e ainda outros por consumirem bebidas alcoólicas e drogas, porquanto, para sobreviver encontram abrigo nas ruas. Logo, precisam muito mais do apoio psicológico e das famílias do que, propriamente, de uma intervenção de assistência médica profunda.
“Isto, claro, é uma preocupação que constitui perigo, não só para as suas saúdes, mas sobretudo para os citadinos, já que temos relatos da polícia e da população, de agressões e violações de que muitos cidadãos têm sido vítimas. Inclusive viaturas foram danificadas e outras situações similares têm estado a ocorrer”, alegou.
Em torno de tais ocorrências, o Governo solicitou a elaboração de um plano de acção para contrapor a situação, que passa pela identificação das famílias e junto da Direcção da Saúde obterem ajuda e a orientação de como tratar cada caso. Porém, de acordo com o responsável, da quantidade de mais de 100 doentes que deambulam pelas artérias da cidade, apenas 15 a 20 têm a necessidade de irem a Luanda para serem submetidos a tratamento psiquiátricos, já que a província não possui uma instituição vocacionada para o efeito.
“Simplesmente temos consultas de psiquiatria no Hospital Materno Infantil com uma médica psiquiatra de nacionalidade cubana e uma médica psicóloga, que têm estado a trabalhar com alguns doentes, cujas famílias preocupadas, ocorrem às consultas para a orientação e o tratamento dos mesmos”, lamentou. Segundo o titular do sector da Saúde de Malanje, nos contactos, ora avançados, com a Direcção do Hospital Psiquiátrico de Luanda, a única unidade de referência no país coloca o problema de alimentação e de alguns apoios básicos.
Pelo que, caberá ao Governo local criar as condições requeridas e, faseadamente, enviar três a quatro pacientes, até completar o quadro dos que precisam de ajuda. No entanto, dos doentes que deambulam na via pública, na óptica de Avantino Sebastião se torna um tanto difícil lidar com a situação de cada um deles, porquanto é preciso cadastrá-los, colher o historial, fazer o seu acompanhamento e encontrar uma solução a nível local, uma vez que nem todos têm critério de internamento.
Contudo, está criada uma comissão que vai elaborar um Plano de Acção encabeçado pelo Sector da Saúde, que inclui a Reinserção Social, a Protecção Civil, a comunicação social e contará com a colaboração de psicólogos e de outros especialistas que, por sua vez, remeterão a instância do Governo para proceder a avaliação e, então, providenciar as medidas necessárias.
Enquanto isso, há já um levantamento preliminar de quantos doentes mentais andam à solta na via pública, que em parceria com a Reinserção Social se está a trabalhar junto das famílias, para a identificação dos seus parentes que andam à deriva. “Vamos ter que procurar localizar as famílias e tratar de chamálas à razão, que sem o seu apoio não haverá sucesso”.
O director também avança que tem conhecimento de que muitos doentes mentais não são de Malanje, pois pelo facto de muitos dos falarem línguas da região sul do país leva a presumir que vêm de outras paragens e são abandonados pelos próprios familiares. Doutro modo, mesmo aqueles pacientes que forem transferidos para Luanda, depois de reabilitados, se não forem aceites no seio da família, consta do Plano de Acção da Direcção da Saúde criar uma enfermaria para o atendimento de pacientes psicóticos.
O Governo criará as condições necessárias para albergá-los e, consequentemente, reintegrá-los na sociedade com algumas actividades de campo ou profissionais, como forma de ocupá-los e aos poucos tornarem as suas vidas normais. “É um assunto bastante complicado, mas o Governo tem de tomar uma atitude e nós temos, como Direcção Provincial da Saúde, de fazer algo”, disse.