No entender da ARPAL, se o primeiro apoio não vier da família desses do- entes, a recuperação e reintegração social dos mesmos advinha-se difícil, porque eles vão sentir-se rejeitados
O responsável da Associação de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Lepra (ARPAL), Ângelo Muxito, manifestou, recentemente, o seu descontentamento a O PAÍS pelo facto de as famílias de alguns leprosos estarem a descriminá-los, tendo considerado que essa postura dos parentes atrapalha o apoio que a sua organização presta aos referidos doentes.
“Os doentes com lepra são, principalmente, discriminados dentro da família. Quando, nesse seio, descobrem que é um indivíduo que tem essa doença, por falta de informação credível, afastam-se, associando até o problema a questões de feitiço”, disse o líder da APRAL, adiantando que a família não se predispõe a acolhê-los, ao ponto de os expulsar do seio familiar.
Ângelo Muxito recomendou às famílias que, nestes casos, a melhor forma de começar bem a recuperação do doente é aceitá-lo e acolhê-lo, de modo a acompanhar o tratamento para cortar a transmissão, a fim de evitar que os outros membros sejam infectados. Segundo ele, quando um do- ente começa a fazer a medicacão, automaticamente, corta-se a possibilidade de contágio para outra pessoa.
Não fazendo a medicação é que dificulta ainda mais e aumenta o grau de transmissão para os de- mais indivíduos da família, sou- be este jornal do seu interlocutor, para quem a família, em si, precisa muito de se consciencializar. “Por isso é que, quando nós identificamos casos do género, a primeira coisa é ir fazer rastreio na família, levando a cabo um processo de sensibilização para que nos possam ajudar, no sentido de não discriminarem esses pacientes, até porque qual- quer pessoa está sujeita a contrair a lepra”, explicou.
Os membros da APRAL reconhecem também que a propecção da doença é mais para as pessoas de zonas endémicas em termos de saneamento básico, e as das zonas mais tropicais, onde os cidadãos não têm um bom sistema de saúde. Entre as ajudas várias que a associação que advoga a causa dos leprosos constam questões muito sensíveis, como é o caso de necessidades pontuais do dia- a-dia desses doentes, que obriga os membros da APRAL a solicitar ajuda até para lhes darem colchões, cobertores, de modo a dar melhor cobertura a muitos desses.
Requerido mais apoio do governo
Ângelo Muxito confessou que, actualmente, a sua associação tem tido muitas dificuldades para acompanhar e apoiar os leprosos. Entretanto, garantiu que ele e os seus colegas estão a envidar esforços para elaborar novos projectos, o que está a obrigar-lhes a procurar novos financiamentos. “A ideia é manter, pelo me- nos, as acções de sensibilização e algum apoio mais básicos.
Mas graças a Deus estamos a retomar com novos grupos. Brevemente haverá uma formação para novos educadores sociais, no sentido de nós darmos continuidade a certas tarefas da associação”, mostrou-se confiante. Considerando serem das únicas organizações em Angola que luta incondicionalmente pelos direitos das pessoas afectadas com lepra, Ângelo Muxito entende que o Governo angolano devia fazer muito mais, para que não sejam apenas alguns movimentos a preocuparem-se com o lado social dos leprosos.
“Há também necessidade de haver um compromisso de outros órgãos, como o Ministério da Acção Social, Família e Pro- moção da Mulher (MASFAMU), no sentido de velar por essas pessoas que são discriminadas e de darem apoio para programas que visem a sua reintegração”, frisou. Ângelo Muxito disse isso porque a APRA não tem fundos para poder continuar a apoiar essas pessoas que apresentam até dificuldades diárias em termos de alimentação.
Luanda lidera casos de lepra
Em entrevista à rádio Luanda, o coordenador do Programa Nacional de Controlo da Lepra, Ernesto Afonso, disse que a província de Luanda lidera a lista de casos de lepra, com 126, seguida de Benguela, Huambo, Bié, Malanje, Cuanza Sul, Cuando Cubango e Huíla.
O responsável lamenta o facto de a nossa sociedade ainda caracterizar-se com o diagnóstico tardio da doença, o que tem dificultado a acção. “Temos o registo de 115 casos com deformidade do Grau 2, aqueles que as vezes aparecem com úlcera, com garra, nas mãos, as vezes sem dedos, com deficiência na orelha, no olho, etc. Setenta por cento dos casos aparecem já com lepra complicada”, disse.