No dia Mundial do Doente, que se assinala hoje, OPaíS conversou com médicos, pacientes e especialistas que apontam para a falta de humanização dos hospitais públicos como sendo a principal responsável da elevada taxa de mortalidade, sobretudo nas secções de pediatria, que continuam a ser das piores do mundo.
Por: Domingos Bento
Em Angola, ainda são enormes os constrangimentos enfrentados pelos utentes das mais diversas unidades hospitalares públicas. Continuam a oferecer serviços de Saúde com um elevado nível de precariedade e desumanização que acabam com a paciência da maioria da população, a qual, diariamente, acorre à estas instituições sanitárias em busca de melhoria da saúde.
Os corredores da desumanização são, para o sociólogo e professor Oliveira Castro, os principais responsáveis da elevada taxa de mortalidade registada nos hospitais do país, sobretudo nas secções de pediatria que continuam a ser das mais altas do mundo, conforme dados e estatísticas de organizações internacionais.
Para Oliveira Castro, não é uma oportunidade para todos a graça de entrar e sair vivo dos hospitais públicos. Por este motivo, muitas unidades, sobretudo os hospitais centrais e municipais, foram apelidados de “matadouros” devido ao grande número de óbitos registados.
“Com um sistema de Saúde muito longe da humanização, podemos afirmar que ser doente por si só já é muito difícil. Em Angola, devido à falta de políticas e acções concretas de humanização, é pior ainda. É que são vários os constrangimentos que os pacientes e as suas famílias enfrentam para serem curados.
Portanto, não é fácil sair com vida nos hospitais públicos, frisou o académico. Diante das dificuldades dos hospitais públicos, muitos preferem gastar avultadas somas em clínicas e centros de saúde privados.
Outros, com mais posses, escalam
Outros países em busca de melhoria da saúde, tratando doenças que podiam ser curadas internamente caso o sistema nacional de Saúde pública fosse funcional. Nesta altura de crise económica que o país enfrenta, devido à baixa do preço do barril de petróleo no mercado internacional, tudo ficou muito mais complicado devido à escassez de divisas.
No entanto, com a dificuldade para a aquisição de moedas estrangeiras, muitos cidadãos, que recorriam ao estrangeiro para manter a saúde em dia, vêem o seu estado clínico cada vez mais a recuar. É o caso de Jairo Maurício, 36 anos de idade, que vive com problemas de diabetes há mais de oito anos. Ao longo dos anos, o funcionário público fazia as suas consultas na Namíbia. Porém, em 2016, devido à falta de divisas, foi obrigado a parar com as consultas no país vizinho.
Frequentar os hospitais públicos foi a única saída para Jairo Maurício. Desde que deixou de ir à Namíbia tem registado uma acentuada queda do seu quadro clínico com recaídas constantes, falta de medicamentos e outras debilidades que lhe fazem sentir próximo do fim da vida. “Não tinha noção da realidade dos nossos hospitais públicos. Sempre tive o privilégio de me tratar fora.
Mas desde que a crise nos bateu à porta, deparei-me com a nossa realidade. É muito difícil. Cada vez que vou ao hospital, quer por recaída ou consulta de rotina, me sinto muito próximo da morte. É um desgaste terrível “, desabafou. Já Marisa de Sousa, que sempre dependeu do sistema público de Saúde para sobreviver, diz ser um inferno a forma como os doentes são tratados nas mais diversas unidades hospitalares de Luanda. Hospitalizada há mais de duas semanas no Hospital Geral de Luanda, a jovem, de 34 anos de idade, afirmou ser muito difícil para ela e a sua família porque, apesar de estar num hospital público, todos os gastos são suportados pela família.
“A pessoa já é pobre, e ainda assim é obrigada a comprar tudo como se estivesse num hospital privado. No final de contas parece ate que é melhor ir para uma clínica porque aqui compramos tudo fora, desde os medicamentos, seringas, soro, sopa e outras coisas simples. É muito difícil”, lamentou. Tristeza é também o sentimento que cerca Katya Rosária.
Em conversa com OPAÍS, a jovem, que se encontra internada no Hospital Municipal de Viana, disse ter sofrido várias vicissitudes para conseguir ser atendida naquela unidade de saúde pública. “Vim cá com muitas dores no corpo todo. E para ser atendida levou muito tempo. É, de facto, um desconforto muito grande. Os nossos hospitais precisam de melhorias urgentes”.