Coveiros mostram-se preocupados com os actos de vandalismo que verificam no cemitério municipal da Catumbela, consubstanciados na destruição de jazigos e campas, e os trabalhadores do também chamado “campo da igualdade”, sob anonimato, apontam como causa dessa atitude o débil asseguramento e sugerem que se aumente a altura do muro, para dificultar a acção dos vândalos e alterar esse quadro preocupante
POR: Constantino Eduardo, em Benguela
Sensibilizados por uma denúncia de vandalismo, resumidos na destruição de campas e jazigos, a nossa reportagem visitou o Cemitério da Catumbela para apurar a veracidade dos factos. Préviamente, contactamos, via telefone, a Administração Municipal da Catumbela, na pessoa do seu titular, Julião Francisco Ambrósio Almeida, a quem solicitámos detalhes das ocorrências. Dessa conversa, recebemos um “não há vandalismo nenhum, isso é mentira”, que quase anulava a nossa pretensão de avançar com o assunto. Todavia, o nosso instinto jornalístico impelia-nos a insistir, ante a visão da autoridade municipal. E prosseguimos. Postos no local, confrontámonos com uma realidade desoladora. Chegados ao cemitário, fomos inquiridos com um “vocês são jornalistas?”, por parte dos coveiros, abertamente dispostos a conceder entrevistas, não fossem as famosas “ordens superiores” a impedirem um deles a assim proceder. “Sim, somos jornalistas”, prontamente respondemos.
Deste modo, fluiu uma conversa para bastante produtiva, embora não tenhamos podido gravá- la. Apesar de tudo, foi-nos apresentado um quadro real caracterizado por queima recorrente de jazigos. Estando lá, constatamos a alegada fumigação de jazigos e a destruição campas, além do roubos de alguns objectos decorativos. “Para vocês terem uma ideia, aqui até a torneira e a fechadura do nosso escritório foram roubadas”, confessou o coveiro. “Nós, aqui, como a nossa secção está sem chave, somos obrigados a guardar as nossas coisas nas campas semi-abertas por causa dos roubos.
Hoje não temos botas, não temos nada, tudo roubaram”, revelou o profissional das covas, esperançado em que, pelo facto dos actos de vandalismo já serem do conhecimento da Administração Municipal, as autoridades venham rapidamente a resolver o problema Lá o homem, acompanhado por outros 4 colegas, sob anonimato, relatou os factos decorrentes num dos maiores cemitérios da província, levando-nos, imediatamente a seguir, para uma visita guiada ao conhecido “campo da igualdade”. Segundo as nossas fontes, que começaram por reclamar o facto de não terem conseguido conceder entrevista gravada ao jornal OPAÍS e à TV ZIMBO, face ao quadro que consideram como preocupante, os casos de vandalismos remontam ao ano de 2013.
“Felizmente, aqui nunca houve casos de desenterro de corpos para roubar caixões”, respondeu à uma pergunta nossa, para logo seguidamente fazer uma comparação ao cemitério da Camunda, em Benguela, que “tem os muros altos, e, por isso, os vândalos não conseguem entrar. Já aqui, o muro é muito baixo, o que facilita tudo”, concluiu, entretanto, exigindo respeito aos mortos. Por outro lado, aparentemente agastado, acrescenta que o campo santo, pelo facto de ser um lugar em que repousam os restos daqueles que um dia lutaram pelo país, merece o respeito das pessoas.
‘Não se trata de vandalismo’
Apesar dos factos e as imagens de destruição, a Administração Municipal continua a sustentar a tese de que no “Campo da Igualdade” tudo corre “às mil maravilhas” e que não se verificam actos alguns de vandalismo, minimizando, assim, as lamentações dos coveiros. Em nome da Administração interveio Adelino Rodrigues, responsável do cemitério, que descartou qualquer ocorrência de actos de vandalismo. Contudo, asseverou que o cemitério tem servido de esconderijo para os meliantes esconderem electrodomésticos surripiados nas residências adjacentes. Adelino Rodrigues aventa a hipótes de que tudo pode tratar-se de um ajuste de contas. Segundo elucidou, quando determinadas famílias acompanham o cadáver de um ente querido seu à última morada, contratam jovens para efectuar algumas actividades no local, e, na ausência de pagamento, “ele segue até à mesma campa, onde se calhar 2 ou 3 vezes fez o trabalho, e faz aí uma coisa qualquer e coloca a tapa ao contrário. Não significa que tem acorrido vandalismo constante aqui no Cemitério da Catumbela”, concluiu.