Os acidentes entre mototaxistas e outros utentes da via, que terminam com feridos e mortos, devem-se, em parte, às autoridades governamentais que não apostam na formação dos indivíduos e na fiscalização do cumprimento das normas de trânsito, durante a sua actividade, segundo especialistas na área
As transgressões ao Código de Estrada são constantes.
A partir desse ponto, os motoqueiros, como também são conhecidos, adentram-se ao meio da via, circulam ladeados de veículos automóveis ligeiros ou pesados, e rompem a passadeira, passando, muitas vezes, entre os peões em movimento de travessia.
Os erros cometidos são denunciados pelo director técnico e instrutor da Escola de Condução Quibuma, Antunes Januário, para quem é visível a necessidade cabal de os mototaxistas inscreverem-se em alguma instituição vocacionada para a capacitação de candidatos ao exercício da condução.
“A falta de conhecimento das normas do Código de Estrada leva os motoqueiros a cometerem estes actos, como manobras perigosas e entrada em sentidos proibidos, porque não conhecem a sinalização”, assegurou.
Explicou que os motoqueiros não sabem como agir, por exemplo, quando se deparam com um sinal de perigo a indicar a proibição de virar à direita ou à esquerda, por isso, não raras vezes, estão envolvidos em acidentes mortais.
Com fundo branco, borda vermelha e inscrição preta, o professor ensina que esta característica dos sinais de perigo é um aviso de que se for desrespeitado incorre-se no risco de ferimento ou a morte, porém, a sua observação pode levar o condutor em paz e em segurança até ao seu destino.
“Os mototaxistas desconhecem as normas do Código.
Como é que os acidentes vão diminuir, se o Estado não tem políticas para capacitar”?
Questionou o instrutor que se disponibiliza a cooperar com o Governo a dar aulas gratuitas.
Culpa da sinistralidade atirada ao Governo
A responsabilidade pelo alto índice de sinistralidade rodoviária existente no país, particularmente o relacionado com a actividade de mototaxi, foi depositada no Governo por, alegadamente, não ser promotor de políticas de formação dos indivíduos envolvidos.
O instrutor Antunes Januário entende que os governantes devem criar programas sustentáveis e intemporais capazes de influenciá-los a frequentarem aulas de código de estrada, para não colocarem a sua vida e de outros utentes em perigo.
Fundamentou a sua posição com o facto de, depois de apreendidos, os motociclos têm sido devolvidos aos condutores não habilitados para a condução, o que constitui, por si só, um declarado atentado à vida. Este instrutor não entende a razão pela qual os motociclos são entregues a pessoas sem carta de condução, uma vez que conduzir nestas circunstâncias constitui crime.
O olhar passivo com que os governantes encaram a situação é a principal causa de morte de muitos mototaxistas e outros utentes, pois, entende, uma parte significativa desses desconhecem, inclusive, o seu estado emocional e qual comportamento deve adoptar na via.
Especialista em segurança rodoviária “Falta rigor na fiscalização”
O especialista em segurança rodoviária Júlio Quental, em entrevista ao jornal OPAÍS, afirmou que a ausência de fiscalização rigorosa e assertiva por parte dos órgãos competentes tem sido uma das principais causas que contribuem, efectivamente, para a sinistralidade rodoviária provocada por motociclistas.
Para Júlio Quental, a vida em sociedade está sujeita a normas de convivência, e relativamente à circulação rodoviária, o facto é agravado em razão da regulação normativa e legal do exercício desta actividade.
No entanto, tem-se registado um vazio, no que diz respeito à vigilância do seu cumprimento. “A falta de rigor e assertividade na fiscalização da condução de motociclos e ciclomotores tem sido outro factor que contribui para a ausência de consciencialização e mudança comportamental destes condutores”, acreditou.
Por outro lado, criticou o facto de uma parte significativa dos motociclistas terem obtido licenças de condução sem, no entanto, terem sido submetidos à prova de domínio dos pressupostos legais, o que ocasiona a ausência de conhecimento do Código de Estrada, factor que motiva a condução desordenada.
O especialista explica que estas situações ocorrem com a anuência das administrações e criam condições favoráveis para o desrespeito às normas, através de práticas como a condução ofensiva, colocando em risco a segurança rodoviária, a integridade física e a vida dos utentes da via pública.
“Infelizmente, há aqui mea culpa das administrações municipais, pois, foram elas quem concederam as licenças de condução para os motociclistas sem aferir o conhecimento e a perícia exigíveis nos termos da Lei”, lamentou.
A inexistência de reconhecimento da necessidade de aprender as normas estabelecidas no Código de Estrada, entende, constitui outro problema que concorre para o caos que os mototaxistas criam no trânsito, com atitudes inadequadas ao exercício da actividade.
“É imperativo que sejam tomadas medidas que visem inverter o actual quadro da sinistralidade, e aqui todos somos chamados para, de forma proactiva, apresentar sugestões assertivas e desapaixonadas, objectivando a redução da sinistralidade, pois, somos todos utentes da via pública, apelo.