Alegam terem sido acusados de erguerem suas residências em linhas de água, razão pela qual viram as mesmas demolidas a mão da administração municipal do Dande, que, em Novembro de 2023, os realojou no bairro 25 de Dezembro, lado oposto da sede da comuna das Mabubas, onde se consideram longe do sustento diário
Os habitantes do bairro Bukula, município do Dande, em Caxito, província do Bengo, realojados na zona do 25 de Dezembro, comuna da Mabubas, queixam-se de terem perdido a capacidade de sustentar-se e de sustentar a formação de seus filhos.
“Não podemos dizer que tínhamos tudo e que a vida corria às mil-maravilhas, mas, desde que nos meteram aqui, em Novembro do ano passado, a fome aumentou, não temos água e os filhos tiveram de desistir da escola”, contou Maria Dombele. Contrariamente aos outros munícipes do Dande realojados na mesma zona, os ex-moradores do Bukula não foram transferidos por conta das enchentes provocadas pelas enxurradas de 14 e 15 de Fevereiro últimos, mas por terem construído em zonas tidas como de risco.
Maria Dombele, que vivia há seis anos no Bukula, disse que, ao estacionarem aí, só lhes deram duas chapas de zinco, para construírem casebres onde podiam albergar a família. “Tivemos de desenrascar outros meios mais os que restaram das nossas casas demolidas para ter um casebre aqui, porque tudo foi feito à pressão.
Os nossos filhos não estão a estudar por causa da distância que separa a escola onde estudavam da nossa cubata actual”. A alternativa das crianças devia ser o autocarro, mas a senhora alega que nem sequer dinheiro para dar de comer as seis crianças com quem está estacionada na Mabubas tem.
Antonica Dombele Gomes, sua filha de 17 anos, está muito sentida com a desistência forçada a que essa situação a submeteu. A menina frequentava a 8.ª classe. Contou que, em Novembro e Dezembro do ano passado, ainda fez um esforço de ir a escola de autocarro, pagando com ajuda de algumas colegas e valendo-se da compreensão dos condutores e cobradores, mas, depois, a situação tornou-se insustentável.
“Só consegui salvar o I trimestre e estou quase a perder o segundo”, considerou a antiga aluna de uma das escolas secundárias próxima do antigo habitat. Os professores de Antonica têm conhecimento das actuais dificuldades pelas quais a sua aluna está a passar e tentaram fazer alguma coisa, segundo as adolescentes, que, antes do fim do II trimestre, acredita numa ajuda vinda daqueles que são considerados, na escola, como os segundos pais. Na pior situação, estão as irmãs de Antonica, Mena de 12 anos, Lena, de 10, e Margarida Kalenguluca de seis, que manifestaram a vontade de voltar a estudar na nova zona.
A viúva Maria Dombele conta que os populares da sua área, aí no reassentamento, não recebem nenhuma doação, como beneficiam os de Kawanga, alojados no lado oposto. Aos outros vizinhos de Maria Dombele, que preferiram falar sob anonimato, preocupa também o funcionamento de um centro médico para acudir certas situações de saúde das senhoras grávidas. “Aqui onde nos meteram, somos capazes de contrair qualquer doença a qualquer momento, porque nos tornamos vulneráveis. Então, os enfermeiros e o posto que prometeram têm de funcionar já.
Administração garante aulas para as crianças
Em defesa da Administração Municipal do Dande, o administrador-adjunto Ambrósio Mamata disse que as autoridades municipais estavam conscientes das responsabilidades que viriam depois do desalojamento, tendo-se preparado para possíveis emendas. Assegurou que as crianças que frequentavam classes do ensino primário vão poder dar continuidade dos estudos em duas salas que serão adaptadas no centro de realojamento do bairro 25 de Dezembro. “E, porque trabalhamos com a direcção municipal da educação, já temos os professores enviados para assegurarem as aulas, nessas salas, em dois turnos.
Mas os adolescentes que frequentam classes do ensino secundário estarão encaminhados para a escola do mesmo nível, localizado na sede da comuna da Mabubas. De acordo com o administradoradjunto, no local, também foi instalado um posto médico para acudir problemas de saúde. O que Ambrósio Mamata não garantiu é um programa de assistência alimentar, mas fez referência da entrada em cena de algumas empresas e organizações da sociedade civil e partidárias que, a pedido da administração ou por iniciativa própria, vão doando alguns produtos alimentares, utensílios domésticos e instrumentos de trabalho.
Por fim, o administrador esclareceu que o povo do Bukula foi realojado no bairro 25 de Dezembro, por ter, insistentemente, construído nas linhas de água. “Para que hoje não tivéssemos essa comunidade na conta dos que foram afectados pelas chuvas, retiramo-los daí já em Novembro do ano passado”, aclarou o dirigente, tendo informado que igual tratamento vão ter os habitantes de zonas que tiverem obstruído, valas ou condutas do género.