Criadores de gado das províncias de Benguela, Huíla, Cunene e Namibe dizem que, inicialmente, os roubos de gado eram associados a práticas culturais, porém, hoje, em função do número de cabeças que tem sido furtado e roubado em currais, é líquido afirmar que há, por detrás disso, aquilo a que chamam de «máfia».
O presidente da Federação das Cooperativas de Criadores de Gado, Salvador Rodrigues, reconheceu, em declarações à imprensa, que esse facto tem, em certa medida, condicionado as projecções feitas no que se refere à produção de carne de bovino no país, aliás, não fosse a região aquela que tem o maior de efectivo de bovino, cujos números andam à volta de 3 milhões.
“Temos estado a discutir com as autoridades policiais sobre isso, sobretudo com a Polícia Nacional. Nós já fizemos três grades encontros: o primeiro foi no Sumbe e dois aqui, em Benguela”, afirma, ao considerar a necessidade de se reforçar a punição legal para os prevaricadores.
“O roubo do gado, hoje, é uma máfia muito grande. Tornouse acção bastante perigosa para quem acompanha e está no meio rural”, acentua.
Ele sinaliza que, caso não for combatido esse fenómeno e concretizar a questão da rede logística, o país vai continuar a gastar avultadas somas em dinheiro na importação de carne, fundamentalmente a de bovino.
Entretanto, para lá desse factor, o responsável salienta que o caminho para auto-suficiência passa, também, pela criação de condições higiénico-sanitárias, rede de frio, o que, de resto, obriga à reestruturação da cadeia de produção.
O empresário agro-pecuário Nelito Monteiro reforça, por sua vez, a necessidade de se olhar com bastante preocupação para a questão do roubo de gado, considerando, pois, haver condições para que o país possa efectivar a tão esperada auto-suficiência de carne.
Comparativamente aos tempos anteriores, Nelito Monteiro não acredita que, nos dias de hoje, se gastem os 500 milhões de dólares na importação de carne de bovino, estando, desta feita, as atenções ligadas ao frango. Porém, para Monteiro, esse quadro também pode ser invertido, bastando apenas que se aposte seriamente na produção de milho e soja.
A produção actual, por estar muito aquém das necessidades, sugere que o homem pense duas vezes antes de pôr o milho à disposição de galinhas. “Então, vamos continuar a importar frango.
O homem come o milho e, depois, come a galinha. O milho é a base da dieta alimentar”, sustenta o empresário. Criador de gado na província do Cunene, José Jaime Freitas coloca, porém, acento tónico na questão de roubo e diz que, hoje, não colhe a justificação segundo a qual essas práticas estão associadas à prática cultural.
No entanto, em relação à produção de carne, o criador considera ter chegado o momento de inverter a forma de transporte de bois em camiões e levar o animal já abatido para os grandes centros de consumo, com Luanda à cabeça.
Ele reprova a transportação de animais em camiões, para quem se torna, assim sendo, imperioso investir em camiões frigoríficos para transporte aos centros comerciais.
“Transportam sem condições de sanidade e o sofrimento dos próprios animais. Nós temos de ter os veterinários a funcionar, os nossos matadores a funcionar e a carne tem que circular no país congelada em camiões próprios, de maneira que nós possamos ter uma carne boa de produção nacional”, refere, ao salientar que, sem essas condições criadas, o país não poderá competir com outros países no quesito da produção de carne, fundamentalmente o de bovino.
José Jaime Freitas assevera que se criou uma ideia errada criada de que o país não é capaz de produzir, sobretudo carne, em grande escala. “O país tem estado a fazer investimentos e a trabalhar seriamente”, refere.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela