Os habitantes do município do Mussende, província do Cuanza-Sul pedem às autoridades competentes a construção de uma infra-estrutura de referência que possa ajudar o cidadão em busca de um serviço melhorado, a fim de diminuir o número de mortes.
POR: Maria Teixeira, enviada ao Mussende
fotos :Virgílio Pinto
A falta de um hospital de referência com o devido apetrechamento tem causado a morte de muitos cidadãos no município do Mussende, província do Cuanza-Sul, afirmam os moradores daquela circunscrição. Eduardo Manuel, que sempre viveu nesse município, conta que por falta de uma infra-estrutura hospitalar as mortes aumentaram consideravelmente e são mortes que não chegam ao conhecimento do hospital, porque as pessoas sabem que aí não há medicamentos. “As pessoas aqui optaram pelo método tradicional, porque no hospital nos dão uma receita e nem dinheiro temos para comprar os tais comprimidos.
As crianças acabam morrendo e o hospital não tem conhecimento do que se passa”, contou. “Na verdade, pedimos a construção de um hospital com capacidade para atender a demanda, com um bloco operatório, uma sala de partos, pediatria em condições, enfermaria e banco de urgência. Também queremos uma morgue de pelo menos 10 gavetas, refeitório, uma central térmica de dois geradores, entre outras coisas”. Mais adiante justificou-se: “O cidadão, ao ir ao hospital, vai em busca de um serviço que melhore a sua saúde e não o contrário. Então o Governo local deve trabalhar de forma a dar aos profissionais de saúde instrumentos que possam salvar cada vez mais vidas humanas”.
Malária lidera as doenças mais frequentes
Segundo o director do único hospital do município do Mussende, Manuel Donga Paulino, as doenças mais frequente no último semestre do ano passado foram a malária, as doenças respiratórias agudas, as doenças diarreicas agudas e parasitoses. “No último semestre do ano passado tivemos um registo de 828 casos malária de que resultaram quatro óbitos, seguindo-se as doenças respiratórias agudas com 980 casos e as doenças diarreicas agudas, com 27 registos, ambos sem registo de óbitos”, referiu. O centro de Saúde também registou mil e 396 casos de doenças parasitoses e nove com conjuntivite, enquanto a má-nutrição registou 22 casos.
Outras doenças foram também registadas, mas sem registo de óbitos. A falta de higiene está na base de muitas doenças naquela região e as idades mais afectadas situam-se desde o engatinhar de uma criança até aos seis anos, porque estão envolvidas em poeiras, águas não tratadas, lixo e outras misérias “O Mussende não está fora da realidade do país, ou seja, da realidade que outras instituições vivem. Estamos carentes de enfermeiros, porque o estatuto prevê aproximadamente cerca de 200 enfermeiros e temos 35. Desse número, seis estão inseridos na junta médica e os outros estão em apredizagem ou perto da reforma”, contou.
Actualmente o Centro de Saúde tem três médicos clínicos resultado do contrato feito há seis mesespelo Ministério da Saúde. Manuel Donga Paulino explicou que, dentro dos recursos que são disponibilizados pelo Ministério das Finanças, têm feito o possível para suprir as necessidades dos utentes. “Acho que são alocados mensalmente 4 milhões de kwanzas. Desse valor, sob orientação superior, 60% vai para a compra de medicamentos e o resto é para adquirir outros produtos e bens e consumo”, explicou.
90 casos são atendidos diariamente
O responsável do hospital revelou que diariamente tratam. entre adultos e crianças, uma média de 90 casos em consultas externas. Este é um hospital do Estado, que tem a obrigação de atender os munícipes dando assistência médica e medicamentosa. E sempre que temos medicamentos damos aos doentes internados, que é nossa prioridade e que requerem uma certa atenção e um acompanhamento muito mais minucioso. Mas nunca colocamos de parte as farmácias externas, ou seja, as farmácias que atendem as receitas vindas das consultas externas. Durante a nossa reportagem, OPAÍS constatou que o hospital tem capacidade para 54 camas para internamento. Na altura 18 crianças encontravam-se internadas na pediatria e seis na medicina.
“Nós somos médicos, somos técnicos e técnico só desenvolve cabalmente a sua missão desde que tenha condições infra-estruturais e técnicas. Na ausência disso, o médico pouco pode fazer e nós, como direcção da instituição, clamamos e pedimos a construção de um hospital de referência municipal no qual se mude o sistema de pagamento das quotas que estão a ser alocadas para atendermos às necessidades do nosso público e dos nossos utentes”, clamou.
Disse ainda que tem sido um problema para o médico que recebe uma criança com uma febre alta e com convulsões, quando, às vezes nem há nenhum ‘Diazepam’ para acudir àquela situação. “Acontece que nós mandamos uma lista dos medicamentos que mais precisamos aos nossos fornecedores, mas, em função dos valores que recebemos, o próprio fornecedor em função destes valores recebidos, só traz o que pode ser pago. Por essa razão aproveitamos a oportunidade para rogar ao Governo que nos ajude a acabarmos com essa desgraça que os munícipes estão a viver”, declarou.
Doentes são transferidos para o Sumbe
O director do hospital disse ainda que, por não terem bloco operatório, alguns casos cuja solução ultrapassa as competências locais são transferidos para o Sumbe. “Não temos condições criadas nem capacidade de resposta, por isso os doentes, principalmente os casos ligados a partos, obstetrícia e outros mais complexos, são transferidos para o Sumbe, porque não temos bloco operatório, nem obstetras”, lamentou. Entre as reclamações, também está a falta de manutenção da única ambulância da unidade hospitalar. “Não temos condições de fazer nenhuma remoção, pois não temos combustível e a necessidade de transferir pacientes para outros hospitais tem aumentando cada vez mais e a ambulância precisa de substituição.
Realçou que devem reforçar as verbas de combustível alocadas à sua instituição por serem muito reduzidas em virtude da necessidade de abastecer os geradores, porque a falta de energia eléctrica é outro problema que aflige os doentes. “Os 200 ou 300 mil kwanzas que resultam da quota que recebemos não satisfazem, porque só a ambulância que sai daqui ao Sumbe gasta muitos litros de combustível na ida e no regresso. Temos ainda um maior problema que é o estado das vias que não facilita e nem um pouco”, fez saber.
Por sua vez, Delfina Manico conta que sempre foi bem atendida, mas que também esteve quase a perder a vida por falta de medicamentos, combustível na ambulância e falta de bloco operatório. “No meu terceiro filho tive um parto turbulento e houve a necessidade de me transferirem ao Sumbe, mas como o meu marido não tinha dinheiro e na altura tinha de sofrer uma cesariana, vi o diabo a assar sardinhas, mas graças a Deus tudo correu bem. Espero que essa situação acabe e que o problema de medicamentos não continue neste novo ano”, suplicou.
Só tivemos medicamentos durante a campanha política
De acordo com um dos munícipes, o centro cirúrgico não funciona, pois toda a estrutura da sala está comprometida e, por esse motivo, as cirurgias de emergência foram suspensas sem data para retorno e também não há profissionais suficientes para atendimentos especializados. “Não temos ginecologistas, obstetras, ortopedistas, cirurgião e anestesistas. A população está sofrendo com isso, pois todos os casos que requerem cirurgia são mandados para o Sumbe. O hospital só teve medicamentos durante a campanha política”, desabafa o jovem professor que falou sob anonimato.
Os munícipes foram unânimes em afirmar que a ‘falta de estrutura adequada e as péssimas condições de trabalho têm desmotivado os profissionais’, e os que trabalham neste local correm o sério risco de sofrer um acidente de trabalho. Eles dizem que muitas vezes precisam de tirar dinheiro do próprio bolso para ajudar algumas famílias carenciadas. Com uma superfície de 9.556 quilómetros quadrados, o município de Mussende tem uma população estimada em 76.284 habitantes, distribuídos pelas comunas sede, São Lucas e Quienha.