A vítima, José Martinho, aparentava ter distúrbios mentais, e a sua vizinha, convencida de que este não possuía família, decidiu acabar com a sua vida com a ambição de apoderar-se da sua casa. Um dos “assassinos contratados” confessou o crime
Texto de: Romão Brandão
Foi a enterrar, ontem, no Cemitério do Benfica, o cidadão que em vida se chamou José Martinho, de 52 anos, que deixa uma filha e dois netos. Ele morreu após sofrer vários golpes com catana e enxada na cabeça, na sua própria casa, no Bairro Sapú II, Rua da Macieira.
O irmão mais velho da vítima, Gabriel Martinho, de 54 anos, revela que um grupo de três jovens foi mandatado pela vizinha do malogrado, ainda não identificada, a cometer o crime, com a pretensão de apoderar-se da casa. Declarações prestadas à Polícia por um dos três assassinos contratados, de acordo com Gabriel, dão conta de que a vizinha fez um adiantamento de 100 mil Kz ao grupo, tendo-lhes prometido que depois da morte do vizinho e a venda da residência, serlhes-iam pagos mais dois milhões e quinhentos mil Kwanzas.
Com a trama feita, cuja execução acharam fácil, os três meliantes dirigiram-se à casa de José Martinho, tendo-lhe desferido vários golpes na cabeça e no resto do corpo, com catana e enxada, tendo este perdido a vida no local. Acto final, arrastaram o seu cadáver até 300 metros da sua casa, abandonando-o perto de um contentor de lixo.
Ao amanhecer, a vizinhança deu-se conta da ocorrência e accionou a Polícia. Até ao momento, apenas um dos três implicados se encontra detido, na Divisão do Talatona, e ainda não revelou o nome da mandante do crime. “A vizinha pensou que o meu irmão não tem família, também porque ele vivia sozinho, e às vezes sofria de perturbações mentais.
Assim, entenderam que por ser ‘maluco’ ninguém daria pela sua falta. Mataram o meu irmão. Queremos que se faça justiça, e que não seja mais um caso sem esclarecimento da Polícia”, clamou. Gabriel confirmou que o seu irmão sofria de perturbações mentais cíclicas, pelo que estava a receber tratamento no Hospital Psiquiátrico de Luanda, e já acusava melhorias.
Mesmo assim, considera que essa circunstância não dava direito à vizinha de o matar. Ainda segundo as declarações do assassino ouvido pela Polícia, a vizinha que esquematizou a acção tem influência junto a Administração, principalmente no órgão que executa a legalização das residências na referida zona, o que lhe facilitaria no processo de venda da residência do malogrado.
Até agora é desconheceida a identidade da senhora que encomendou a morte de José Martinho, um cidadão que vivia sozinho, numa casa de três quartos, uma sala, cozinha e quarto de banho, na ponta da Rua da Macieira.
Apesar de sofrer de perturbações mentais, José Martinho era muito popular no bairro, por isso, a vizinhança também clama por justiça.
Dona Fineza, uma senhora que acompanhou todo o crescimento de José e do seu irmão Gabriel, adverte para que “não brinquem com os processos, principalmente este, porque desde 2012 que a tristeza bate a porta daquela família, pela morte de um filho, que ficou em nada, embora a Polícia tivesse garantido que estava a investigar.
Que não seja apenas mais um caso que depois é abandonado e não se fica a saber do desfecho, senão, amanhã, vocês também serão os culpados”, advertiu. O Serviço de Investigação Criminal, na voz do director de comunicação e imagem do Ministé-rio do Interior, Mateus Rodrigues, garantiu que o caso está sob investigação.