Pastor Adilson Songo afirma ter sido pressionado pela família Braga, do Bairro da Luz, no Lobito, para sonegar o cadáver de Laurinda Braga, mas nega ter orientado a ocultação do mesmo e recebido 300 mil kz a troco da ressurreição da vítima. Entretanto, este pastor não está ligado à IURD, como fizeram crer as nossas fontes.
POR: Constantino Eduardo, em Benguela
Em declarações à Rádio Mais, o pastor, já sob custódia dos órgãos de justiça e mais dois seus obreiros, relatou que foi abordado pela família da vítima a fim de que o mesmo pudesse ministrar orações, confiantes num milagre, e nega ter orientado que se mantivesse o corpo de Laurinda em casa, por 7 dias, e recebido valores financeiros. “Agora, se estão a dizer que tem um pastor envolvido nisso, se estão a dizer que tem alguém que pediu 300 mil kwanzas, isso elas sabem o pastor que foi orar na casa delas, conhecem, elas vão mostrar qual é o pastor que orou e que lhes cobrou dinheiro, porque nós não temos nada a ver com esse caso”, defende-se, negando envolvimento directo, mas assegura que eles (a família) são membros da IURD.
O “suposto milagreiro” conta que, quando a família procurou por ele, aflicta, pediu-lhes que reunissem as pessoas idóneas da família, no caso os tios, para resolverem o assunto, mas os irmãos alegaram que um dos tios é que teria enfeitiçado Laurinda Ngueve Braga, acreditando que se tratava de uma cabala contra a sua denominação religiosa. “Porque se elas são da Igreja Universal e, de repente, quando acontece uma situação destas vêm ter connosco…Talvez é porque elas querem salvaguardar o nome da Igreja Universal, para sujar o nome de uma outra igreja. Logo, vieram já ter connosco nesta acção e nos envolveram”, lamentou.
Entretanto, o pastor Adilson Songo, contradizendo-se, narra que a família foi várias vezes ao templo da sua igreja, no bairro da Kalumba, à procura de auxílio espiritual e confirma ter mantido uma conversa com os parentes antes de o cadáver ter sido transportado da morgue para casa. “Então, a família foi para Benguela (à morgue) pegar (buscar) o corpo. A perspectiva de uma das irmãs era que se mandasse o corpo para a igreja, mas eu mandei para casa dela”, explicou, continuando que, “então, visto (que) eu, como pastor, tenho de salvar a minha imagem, afinal a igreja é núcleo da sociedade que está para servir na reeducação dos membros, então reuni os (dois) missionários para irem para lá”, disse.
Mais adiante afirma: “Eu orientei ela (a irmã mais-velha) a pegar nas mãos dela (Laurinda, a morta), porque toda a pessoa quando morre ainda o sangue está quente, foi nesse âmbito, mas logo após ela me explicou que o corpo estava na morgue, ali ficámos distante da acção, nós compreendemos que é complicado”, referiu, garantindo que, caso o corpo não tivesse dado entrada na morgue, com os “mais-velhos da família”, talvez houvesse alguma chance, pois, justifica, “a fé existe, se ele é morto, nós vamos orar usando a nossa fé. Deus realmente ressuscita, e ressuscitou”, evangelizou. Questionado se a igreja Pentecostal Shalom ressuscita mortos, o pastor irritou-se, chegando a ponto de ameaçar o repórter da Rádio Mais. “O senhor jornalista já está a ir longe demais”.
Em declarações à RNA, o advogado da família Braga, António Cruz, disse que só se vai pronunciar sobre o assunto depois de os seus constituintes (João Garcia Braga, Adelina Braga e Balbina Braga) serem interrogados, nos termos dos procedimentos processuais. Contrariamente ao que OPAÍS noticiou, na nossa edição de Terça-feira, 19, o pastor Adilson Songo não pertence à IURD. O PAÍS reconhece que foi induzido em erro pelas suas fontes, muitas, que acompanham o processo, mas refere que isso não invalida os factos narrados na notícia em causa. A Polícia Nacional diz que a ceita, localizada no bairro da Kalumba, no Lobito, opera de forma ilegal. A prática de orar pelos enfermos é recorrente em Benguela. Uma fonte do Hospital Geral de Benguela confidenciou a este jornal que muitas igrejas, incluindo a IURD, têm levado conforto espiritual a pessoas internadas, incluindo para aquelas cujo quadro clínico, nalgumas vezes, é descrito como grave.