O médico veterinário Paulo Bena defende que, a partir do momento em que as autoridades têm conhecimento da existência de cães vadios e não os recolhem, contribuem, indirectamente, para o enfraquecimento das suas campanhas de combate contra a raiva
O médico veterinário Paulo Bena disse que, enquanto o Governo, por via das administrações e outras instituições, não cumprir com a obrigação de recolha de cães vadios ou errantes das ruas, não poderá alcançar resultados excelentes nas suas campanhas de combate contra a raiva. “Vejamos que, normalmente, esses programas de combate a essa doença animal (e humana) são feitos através de campanhas de vacinação de cães e outros animais, que vão a reboque dos canis, como gatos e macacos.
A pergunta que não se cala é quem vai levar os cães vadios a tomarem vacinas”, questionou o veterinário, tendo acrescentado que, sem um programa antecipado de recolha e direcção dos animais dispersos, todo e qualquer esforço torna-se vão. Referindo-se à facilidade de os cães abandonados serem mais propensos a certas doenças, principalmente à raiva, o especialista alegou que, por não estarem mais sob o controlo de um proprietário, os animais alimentam-se de qualquer coisa que aparecer.
“A doença encontra-se no espaço livre e, no lixo, aonde esses animais recorrem mais, está também o desenvolvimento dos riscos, porque os cães consomem, aí, comida e água imprópria, propiciando, no seu organismo, ambiente que faz surgir os vírus”, disse Paulo Bena. Parasitas internos como nematoides intestinais, larvas ou lombrigas e oxídeas constituem outros males que os cães podem ingerir, a partir dos amontoados de resíduos sólidos.
Segundo ele, além da raiva, os cães ficam susceptíveis a contrair a esgana, parvovirose e hepatite, que se desenvolvendo, pode desembocar na hepatite B, como nos humanos. Outro problema que preocupa o médico veterinário é a possibilidade de os cães sem proprietários poderem transmitir-se essas doenças, já que, expostos na rua, se tornam facilitados os encontros entre si e a consequente coabitação, bem como as lutas e morde- duras, que constituem ocasiões férteis para o contacto e troca de salivas ou babas, sobretudo entre os chamados cães rafeiros. Por causa disso, o veterinário reforça o apelo de o Executivo cumprir com o seu dever de recolher os cães vadios.
Mencionada lei de sanidade animal
Recorrendo à Lei de Sanidade Animal, em vigor no país, Paulo Bena demonstrou que os artigos cinco e sete, segundo os quais, cabe às autoridades veterinárias garantirem as medidas de profilaxia, para preservar a evasão das doenças infecciosas e combater as parasitárias existentes no território nacional. “Então, são essas entidades que devem conceder a garantia de execução dessas medidas, a fim de que a mesma concorra para o combate das doenças zonáticas”, frisou o veterinário. Para evitar qualquer mal-entendido sobre as autoridades veterinárias, Paulo Bena esclareceu dizendo que as medidas dos referidos elementos são combinadas com as das autoridades administrativas, já que cabe a estes últimos apoiar os primeiros para melhor execução dos programas.
Finalmente, evocou o artigo 22 da mesma lei, para elucidar sobre a captura e o destino dos animais errantes, observando que todos os cães, na via pública, devem ser capturados pelos órgãos competentes dos serviços comunitários. “Isso não é tudo, porque os animais passíveis de serem aprisiona- dos ficam retidos durante 48 horas em lugares destinados para o efeito, esperando que o seu proprietário requeira o seu levantamento, por trâmites legais, incluindo provas de vacinação. Este processo envolve o pagamento de uma multa que pode agravar-se em função do passar do prazo, sendo que, para casos extremos, o animal é abatido.