Belmiro Chissengueti criticou esta acção das empresas estrangeiras na sessão de abertura da conferência sobre preservação da Floresta do Maiombe, promovida pela Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Diocese de Cabinda, que teve como objectivo reflectir a sustentabilidade e a protecção deste “pulmão verde” para as futuras gerações.
“São maioritariamente chineses que tudo delapidam com uma velocidade estonteante ao ponto de a própria natureza já não ter mais capacidade de reequilibrar-se a si mesma”, frisou.
Para o bispo de Cabinda, este comportamento deve ter uma resposta enérgica não só do governo, que sozinho é incapaz, mas de todos os cidadãos que devem tomar consciência de que, “se não colocarmos os limites, seremos nós os primeiros prejudicados desta circunstância”.
Segundo Belmiro Chissengueti, nos últimos tempos, tem havido fenómenos nunca antes vistos como os redemoinhos devastadores e a degradação do meio ambiente, “fruto de uma exploração desenfreada que não está a ter em conta o equilíbrio necessário para a sustentabilidade da floresta do Maiombe”.
Para além da exploração desenfreada da madeira, segundo o bispo da diocese de Cabinda, há também a falta de educação ecológica da população que ainda usa a lenha e o carvão como meios energéticos para as suas cozinhas ordinárias.
“Somos abençoados por uma grande floresta e também com bastante gás natural e petróleo. Temos de encontrar uma saída, um projecto assumido por todos, para educarmos as pessoas e até dar meios para que possam trocar o carvão e a lenha pelo gás, um recurso que temos em abundância na província”, frisou.
O prelado apelou aos madeireiros, que exploram na floresta, a terem um sentido de responsabilidade na sua actividade, na medida em que cada um que retira tivesse a responsabilidade de replantar para garantir a continuidade da floresta do Maiombe.
“As imagens de satélite são claras, o mundo florestal está em franca destruição e não tenhamos ilusões que os fenómenos naturais, como o aquecimento global, as secas cíclicas, as chuvas torrenciais incontroladas e as catástrofes naturais, são consequências desta exploração desenfreada da natureza e da falta de cuidado com a criação”, detalhou.
Para Dom Belmiro Chissengueti, “Deus perdoa sempre o homem, de vez em quando, mas a natureza não perdoa” e, “para que ela não se revolte contra nós, temos de saber ouvir a sua voz e permitir que ela possa estar ao nosso serviço”.
Responsabilidade colectiva
A governadora de Cabinda, Mara Quiosa, confirmou haver alguns registos de aproveitamento por parte de cidadãos estrangeiros na exploração desenfreada na floresta do Maiombe, assegurando que o trabalho que tem sido realizado pelos órgãos de defesa e segurança tem permitido a apreensão da madeira e o repatriamento dessas pessoas para os seus países de origem.
“Nós temos estado a fazer esse acompanhamento. Monitoramos e fiscalizamos as actividades dos madeireiros locais, bem como o processo de repovoamento florestal”, garantiu.
Para Mara Quiosa, a preservação da floresta do Maiombe é uma responsabilidade individual e colectiva e o Governo acaba por ter uma responsabilidade acrescida.
“Temos registado alguns episódios não muito bons de alguma desmatação ao nível da nossa floresta do Maiombe, mas temos os nossos órgãos de defesa e segurança a garantirem essas situações. É preciso denunciar para podermos agir atempadamente”, frisou.
Recomendações para mitigar a exploração de pedras
A conferência, que decorreu sob o lema: “Floresta do Maiombe, juntos pela preservação do meio ambiente”, recomendou acções pedagógicas de educação ambiental e a envolvência das comunidades locais na preservação do meio ambiente.
Por outra, recomendou que se mitigue a exploração de pedras na floresta do Maiombe a partir de estudos de impacto ambiental, e que a exploração florestal gere empregos para os jovens na província.
Os 91 participantes concluíram ainda que a exploração deve ser de forma responsável e que os recursos vindos da floresta se reflictam no local da exploração e defendem que haja mais fiscais para a cobertura do Parque Nacional do Maiombe e um santuário como centro de reabilitação de animais.
Dentre outras medidas, a conferência defende que o governo repare e mitigue os danos provocados, aumente a fiscalização sobre as empresas exploradoras na floresta e pune com multas as empresas transgressoras.
Os participantes à conferência sobre a preservação da floresta do Maiombe na perspectiva ambiental, justiça e religiosa desejam que a comunidade participe no estudo do impacto ambiental antes de se conceder uma licença de exploração; que a agricultura possa ser feita dentro da floresta sem a desmatar, bem como haver um espaço limitado para a exploração do carvão e a promoção da criação de agroflorestas.
Por: Alberto Coelho, em Cabinda