Existe apenas um médico especialista em diabetes na província de Benguela e a direcção local de Saúde não tem base de dados estatística sobre o volume de pacientes residentes, cuja tendência é crescente, segundo o arquivo do Hospital Geral de Benguela
Zuleide de Carvalho, em Benguela
A diabetes mellitus é uma doença crónica, caracterizada pelo défice de insulina no organismo, ou a incapacidade deste em a utilizar convenientemente, distinguindo- se assim no tipo I e tipo II.
De acordo com os relatórios mundiais, o número de pessoas afectadas pela diabetes avolumase diariamente, logo, Benguela não é excepção. Mais preocupante é o caso quando as entidades de tutela desconhecem a taxa de Benguelenses diabéticos.
Quanto ao índice de diabéticos, António Cabinda, director provincial da Saúde, confirmou a inexistência de estatísticas ou controlo a nível desta repartição, sendo um número que se supõe considerável mas, desconhecido.
Pela sua prevalência, a diabetes pode ser considerada uma doença das “sociedades modernas”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em África, de 1980 a 2014, a taxa de diabéticos adultos subiu de 3,1% para 7%.
Hospital Geral de Benguela e os “seus” diabéticos
Sabe-se que, na extensão territorial provincial benguelense, com os seus mais de dois milhões e quinhentos mil habitantes, existe apenas uma médica endocrinologista, ou seja, especialista em diabetes, que trabalha em clínicas privadas, no Lobito. O departamento de medicina interna do Hospital Geral de Benguela, (HGB), apesar de não ter um endocrinologista desde 2015, tem, desde então, à frente da diabetologia, uma médica interna, sendo as consultas às Terças-feiras.
Guilza Morais, médica especialista em medicina interna, que procede às consultas de diabetes no maior hospital da província (H.G.B.), mencionou que, nos livros de registos deste ano, sob acompanhamento, constam mais de 250 pacientes diabéticos.
Todavia, a doutora tem noção de que este número por eles controlado é uma mera amostra da realidade provincial, em termos da prevalência da diabetes, porque sabe que não há estatísticas sobre os doentes.
Um número desconhecido, mas crescente
“O número de casos novos vem aumentando de forma drástica”, informou a médica, tendo realçado que as proveniências são diversas, quer de meios supostamente urbanizados, como das periferias, dos quatro cantos de Benguela. Juntando-se a estes, nos registos anuais de diabetologia do HGB, estão presentes pacientes oriundos do Cuanza-Sul, Huambo, Huíla e Luanda, formando um quadro com idades que vão dos cinco anos até à terceira idade.
Guilza crê ser imperativo criarse uma base estatística com registos dos cidadãos diabéticos residentes em Benguela, dada a gravidade da doença. Tarefa a ser implementada pelo Ministério da Saúde, sugeriu.
Para controlar a patologia incurável, é crucial que o paciente tenha um acompanhamento “multidisciplinar, avaliado principalmente pelo endocrinologista”, bem como “nutricionista e psicólogo, porque é uma doença que provoca muita restrição”, observou.
Contudo, o Hospital Geral de Benguela, que é talvez a única entidade estatal provincial que detém dados estatísticos sobre diabéticos, ainda que esse número esteja longe do todo, esta unidade sanitária também não tem nutricionistas.
Deste modo, a responsabilidade do seguimento terapêutico e nutricional dos diabéticos no HGB, recai sobre a médica internista Guilza Morais, que alerta para o facto de muitos pacientes desaparecerem após lhes ser diagnosticada a doença.
Diabéticos querem medicamentos gratuitos
Os custos associados à medicamentação da diabetes são elevados, tendo a doutora Guilza adiantado que há pacientes que gastam mais de dez mil kwanzas, semanalmente, para adquirir os materiais necessários para o controlo da doença. No banco de urgência, a médica interna tem visto pacientes que abandonam a medicação por falta de dinheiro para comprar insulina, fundamentalmente, culminando em complicações que os levam a ser internados, por vezes em coma.
Para si, a intenção de os medicamentos da diabetes baixarem de preço, no começo de 2018, segundo publicação da Angop a 20 de Outubro, é bem-vinda e reverter-se-á num menor índice de “abandono da terapêutica.” Abel Chivela, de 74 anos, é diabético desde 2013 e reclama que os medicamentos para a diabetes costumam ser difíceis de se encontrar nas farmácias, são escassos, testemunhando também que “são caros”.
Tem comprado cada caneta de insulina a sete mil kwanzas, logo, alegrou-se por saber da previsão de baixa do preço no próximo ano, declarando “parabéns se assim for, é boa a notícia.” Cosme Damião, com 54 anos, é professor e foi-lhe diagnosticada diabetes do tipo I, tornando-o insulino-dependente desde 2014. Confirmou que a insulina custa “sete mil kwanzas, numa farmácia que tenha quando as outras não tiverem…”
O munícipe queixou-se do preço avultado do remédio que lhe permite sobreviver, porém, não tem outra alternativa senão comprar e, apesar de “muito caro, como é medicamento, a pessoa tem que se desenrascar”, lamentou. Ontem, mostrou-se expectante quanto à promessa de redução dos preços dos medicamentos da diabetes. Sendo uma doença para o resto da vida.
“Temos atravessado uma certa dificuldade, seria bom que fosse gratuito”, apelou. Diabética há quatro anos, Florença Maria, de 48 anos de idade, descobriu a doença em exames pré-operatórios que realizou.
A enfermeira considera os medicamentos “muito caros” e raros, “há dias que não há como encontrar”. Ouvindo que há esperança de uma baixa de preços em 2018, considera ser “uma notícia mais ou menos, melhor mesmo se fosse gratuito”, salientou, “sabe-se que essa doença não tem cura, é complicado”, lastimou.