O município de Benguela está a assinalar 406 de anos de existência com a implementação de uma série de projectos estruturantes, a pensar no bem-estar de cerca de um milhão de habitantes. Principal beneficiária de um total de 415 milhões de euros disponíveis para essa província, o município apresenta algumas obras de maior envergadura já concluídas, tal é o caso, por exemplo, da via da Serpa Pinto, a famosa rua da Maxi, e a marginal da Praia Morena
As autoridades governamentais trabalham, afincadamente, para a materialização de políticas públicas tendentes ao bem-estar social dos habitantes do município sede da província de Benguela. Vários projectos estruturantes em curso há dois anos, sobretudo de âmbito central, vão devolvendo um brilho que, para muitos, a cidade de Ombaka tinha perdido. No quadro dos 415 milhões de euros, aprovados por Decreto Presidencial, Benguela está a receber trabalhos profundos de engenharia.
De entre o leque de obras, destacam-se as vias de comunicação. Neste particular, a ASGC e a Omatapalo, executores dos milhões, vêem-se obrigados a construir até canais de escoamento de águas e esgotos. A marginal da praia Morena, que custou aos cofres do Estado 700 milhões de kwanzas, financiados pelo Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), deu um outro alento àquele recinto balneário e turístico.
Grande parte dos esgotos com que Benguela contava foi “engolido” por alegados trabalhos paliativos de engenharia, daí a cidade ter águas paradas em tudo quanto é canto em épocas chuvosas, justifica o arquitecto Felisberto Amado. O governador de Benguela, Luís Nunes, manifesta-se optimista e garante estar empenhado na garantia de melhores condições de vida a todos os munícipes e também para quem passe pelo município a turismo.
Praia, sol, recantos naturais são os encantos que “seduzem”
“Isso aqui é um verdadeiro canteiro de obras. Nós só prometemos aquilo que podemos cumprir”, reiterou, recentemente, o governante em declarações à imprensa. Desta feita, o vice-governador para a área Técnica e Infra-estruturas, Adilson Gonçalves, refere que quem visitar o município se vai confrontar com uma série de obras em curso e, por isso, pede, atempadamente, desculpas pelos constrangimentos.
Um lixo “empobrecido” sem os milhões de então
Lá se foram os tempos em que a província de Benguela destinava 40 por cento do seu orçamento à recolha de lixo. Apesar de, na altura, ter havido muito furto aos cofres do Estadotal como admitiu o então governador Rui Falcão – a cidade estava sempre limpa, a ponto de a mesma ter sido, num passado recente, considerada uma das mais limpas de Angola. Segundo uma fonte da Administração Municipal de Benguela, actualmente a gestão de lixo se afigura como que uma espécie de “calcanhar de Aquiles” para os gestores desta instituição.
Não tivesse o Governo Provincial cha- mado para si a responsabilidade da gestão de tudo – em muitos casos para “afugentar” a corrup- ção, conforme esclareceram- tal- vez não houvesse tantos bairros “afogados em lixo”. “Olha, meu irmão, até para comprar papel a gente se sente à rasca”, desabafou a fonte que chefia um dos departamentos da referi- da administração. Para alguns munícipes desta cidade, também conhecida por “cidade mãe de cidades”, ainda há muito por se fazer, sobretudo na distribuição da riqueza. Aliás, não fosse este um problema conjuntural de Angola.
Quando o assunto é Benguela, o pesquisador cultural Joaquim Grilo coloca sempre o acento tónico em relação àquilo a que chama de crescimento “desordenado da cidade”. Joaquim Grilo, que aguarda por financiamento para a publicação de uma obra de mil páginas fruto de um labor de pesquisa, diz estar a faltar mais da Administração que tem à testa Paula Marisa, por entender que as autoridades se estão a divorciar da história.
O pesquisador sustenta com um episódio, descrito por si como triste, relativo à retirada do busto do fundador da cidade, Manuel Cerveira Pereira, de um dos pontos ter ido parar ao caixote de lixo. “Agora jaz lá no museu. Acho que deviam afixar num dos cantos qualquer de Benguela. O que eu noto é que estamos a perder os nossos símbolos”, sustenta Grilo, que assegura ter no seu livro de mil páginas muitas histórias da cidade que o acolheu há cerca de 100 anos.
POR: Constantino Eduardo, em Benguela