Os dados foram fornecidos pelo novo director do gabinete provincial de Educação, Ciência e Tecnologia de Benguela, Evaristo Calopa Mário, que, avaliando o último ano lectivo, expôs mazelas que caracterizam este sector, adiantando que o orçamento para 2018 “é exíguo”.
POR: Zuleide de Carvalho
Na análise feita ao ano lectivo de 2017, o responsável pela repartição tutelar da educação, Evaristo Mário, confessou que foi um período “de inúmeros desafios, enfrentámos um conjunto de dificuldades”, realçando a “deficiência dos equipamentos escolares”. Pondo em evidência os aspectos primordiais a considerar, o gestor mencionou que o número de docentes com os quais as crianças e adolescentes inscritos no sistema de ensino puderam contar no ano transacto, foram 21.545. Tendo em conta as reais necessidades do sector da Educação local, é um número insuficiente, sabendo- se que estão em falta 3.365 professores, o que tem prejudicado significativamente quem quer e precisa de aprender. Em 2017, 847 mil alunos foi o volume que esteve presente nas 10.835 salas de aulas, das 1.278 escolas activas em Benguela, bem como em espaços abertos, desprovidos de quaisquer condições académicas favoráveis. Os dados referem-se a discentes das classes do ensino primário, ao último ano do ensino secundário. Das escolas supracitadas, 85 são privadas, compondo 807 salas de aulas, sendo que 1.193 escolas são públicas e comparticipadas.
Quantidade vs. qualidade
Sobre o ano lectivo findo, há “indicadores de aproveitamento na ordem de 77% e rendimento escolar na ordem de 68%”. Enquanto titular da pasta educativa provincial, “estes números preocupam-nos”, salientou Calopa. Segundo disse, é necessário investigar os factores que originam o desempenho apresentado e primar por melhorar o quadro. Todavia, por Benguela, é bem sabido que na base do mau aproveitamento escolar, está presente a fraca qualidade dos professores. Aprovados nos concursos públicos, passam a leccionar, formando crianças com graves sequelas em aprendizagem. Sobre a exigência qualitativa que se impõe, uma vez que docentes universitários afirmam que os alunos ingressam no ensino superior “mutilados”, Calopa admitiu que “temos a necessidade que o professor seja o modelo de referência.
” Por outro lado, ainda na vertente qualitativa dos serviços de educação prestados, o director provincial está ciente dos problemas gerados pelos atrasos na emissão de certificados para os finalistas, nas diferentes etapas académicas. Os alunos lesados, não conseguem aceder aos níveis seguintes, perdendo o ano, porque precisam dos certificados para matrículas e, em Benguela, estes documentos levam demasiado tempo a serem emitidos pelas entidades responsáveis. A esse respeito, Evaristo Calopa informou: “baixámos indicações às repartições municipais e às escolas, no sentido de que articulassem mecanismos mais expeditos para a emissão dos certificados”. Portanto, ver-se-ão os resultados.
Carências que gritam por socorro
São 5.995, o número de salas de aulas estimado pela tutelar provincial, que devem ser construídas para albergar, ou seja, incluir todos os que procuram aprender, bem como, “para atender aos alunos que estudam em condições difíceis.” Esclarecendo, o director da educação declarou que nos anos anteriores “Tivemos alunos a estudar em salas de aulas provisórias, improvisadas e também tivemos alunos a estudar ao ar livre”, cenário que grita por melhorias. Os mais de três mil professores dos quais Benguela carece, almejando- se um sistema educativo sem exclusões, têm deixado maiores lacunas no ensino primário, uma vez que há várias turmas com excesso de alunos. Reconhecendo o problema, Calopa Mário enunciou que nos municípios do interior da província de Benguela há “alguns professores que administram aulas em duas classes”, simultaneamente, comprometendo o índice de aproveitamento escolar.Dos 9.870 docentes que trabalham no interior, cerca de 36% reside no litoral, ou seja, entre Benguela, Lobito, Catumbela e Baía Farta, tendo de percorrer centenas de quilómetros de casa, às escolas em que trabalham. Um outro motivo de preocupação prende-se com o índice de abandono escolar, que é considerável. Em Benguela, 60 mil alunos abandonaram a escola no ano passado, sendo este um número preliminar. A distância de casa à escola, trajecto que as crianças são obrigadas a fazer a pé, com os estômagos vazios, é um dos factores que gera a desmotivação, terminando em desistência. De igual modo, o trabalho agrícola familiar também serve de incentivo para que os pais ordenem aos filhos que deixem de estudar. No que toca às desistências, o director provincial, sendo gestor público, preocupa-se também com o investimento feito pelo Estado, que, quando as crianças abandonam o ensino, traduz-se em custos sem retorno.
Estatísticas para o ano lectivo de 2018
Nessa entrevista com o tutelar da pasta educativa em Benguela, ficou claro que a maioria das barreiras que há anos penalizam o ensino local devem-se a insuficiências orçamentais. Logo, 2018 não deverá ser melhor. Isto porque foram alocados apenas 114 milhões de kwanzas, quando o levantamento de necessidades indica, 1.000.980.000,00 Akz. Segundo Evaristo, o orçamento “é exíguo”, comparando com 2017, que serviu para “executarmos apenas na ordem de 7%.” O ano lectivo de 2018 é inaugurado a 31 de Janeiro, começando a frequência às aulas no primeiro dia do mês de Fevereiro que, por ser Quinta-feira, antevêem-se já as “habituais” falhas na assiduidade. O número de escolas e salas de aulas disponíveis não é satisfatório para a demanda existente na província de Benguela, tendo Evaristo Calopa confirmado: “É verdade que a nossa rede não atende ainda à procura”. As informações dadas pelo responsável apontam que, nos vários sub-sistemas de educação, antecedentes ao ensino superior, há 165.675 vagas, sendo 156.000 para o ensino primário, segundo e terceiro ciclos e 9.675 para o ensino secundário.