Empresas, igrejas e outras instituições são chamadas a participar como padrinhos no desenvolvimento das escolas existentes nas áreas em que exercem negócios ou estão estabelecidas nesta região do município do Icolo e Bengo.
A estrada é de terra batida. As casas de material rústico e chapas de zinco estão dispersas. Os alunos, maioritariamente crianças entre os seis, sete e 13 anos de idade, são vistos a caminhar de um lado e do outro nas vias que dão acesso à pequena povoação de Jambondo, no Distrito da Bela Vista, município de Icolo e Bengo, uma região rural de Luanda. À porta, com um calção cinzento e sem camisola, está o pequeno Paulinho que ainda não está em idade escolar, como o grupo de bata branca que à escassos metros se vislumbrava depois do fim das aulas, na passada Terça-feira, 7 de Janeiro. Mas, quando chegar o seu momento, ele não terá com que se preocupar como o que agora se vive um pouco por todo o país, ficando perto de dois milhões de alunos ‘órfãos’ no ensino geral.
No Jambondo, uma escola do primeiro ciclo construída recentemente pelo Fundo de Apoio Social, afecto ao Ministério da Administração do Território e Reforma do Estado, não tem listas de espera. Sem o habitual frenesim para incluir novos estudantes na presente época, apesar do início do ano lectivo, a escola do Jambondo poderá ser o ponto de partida de um projecto de implementação de hortas escolares na localidade. A administração do Distrito da Bela Vista quer muito mais do que as pequenas bananeiras e umas escassas plantas comestíveis existentes num dos cantos da escola. O administrador Lobo do Nascimento diz que já encontrou empresas parceiras, situadas na sua circunscrição, que se prontificaram a fornecer sementes e demais produtos agrícolas. Além da vertente agrícola, os apelidados “padrinhos escolares” poderão ser extensivos às outras áreas necessárias para a reparação e apetrechamento das instituições de ensino já existentes.
O surgimento da escola 6069 (ver caixa), por exemplo, terá contado com os préstimos de uma empresa com interesses expressivos no domínio das máquinas para construção civil, cuja sede encontra-se nas suas imediações. A sua ampliação, segundo apurou OPAÍS junto à responsável da Educação, Aida Pinheiro, pode ser feita com o concurso de algumas confissões religiosas que manifestaram interesse em ajudar o sector neste novo distrito do município de Icolo e Bengo, com apenas um ano de existência. Anjo ‘pai’ Enquanto se aguarda pelos recursos do Orçamento Geral do Estado ou de apoios provenientes de algum padrinho, a escola do ensino de base 515, igualmente no KM 44, não vive momentos de graça.
Concebida para ministrar da primeira à sexta classe, carece de quase tudo, desde carteiras, portas, janelas a outros bens indispensáveis ao seu funcionamento. Uma comissão de pais tornou-se o seu anjo de guarda. Encarrega-se de velar pela melhoria das condições escolares dos seus educandos. São eles que, com parcos recursos, contribuem para a reparação de carteiras. Ainda assim, o ano lectivo arrancou, assim confirmou a professora Isabel Ferreira, da 3ª classe. Mas é nas classes como a 1ª e a 2ª que se verificam sérios problemas, havendo turmas em que os professores encontram 102 alunos, facto que logrou reduzir a lista de espera para 45 crianças.
“Bom dia senhora professora, somos o futuro de amanhã”, saudavam festejantes e em uníssono os alunos da 2ª classe que foram bafejados pela sorte de conseguirem um lugar. Na sala vizinha, Belinha, ainda na 1ª classe, chorava, se calhar por não estar habituada ainda à escola. Noutras escolas, como a do Matabuleiro ou na conhecida Centralidade do 44, o início do ano lectivo não foi tão cintilante, como confirmarão os próprios responsáveis do sector que efectuaram uma visita surpresa um dia depois do arranque. No Matabuleiro, os alunos não compareceram um dia depois. Apenas o directora da escola estava no seu local de trabalho. Nem os professores para o acompanhar,porque a maioria deles justificou com a falta de salários, o que lhes impossibilitava pagar o transporte.
Universidade à vista?
Criado há apenas um ano, a direcção de educação do Distrito da Bela Vista, encabeçada por Aida Pinheiro, controla 83 salas de aulas e possui 162 professores para um universo de 6198 alunos no ensino geral, 2848 mulheres. Coxe, Bemba e Catongotongo são as áreas que constam nas prioridades da Administração, para a edificação de uma escola em cada uma delas, para que os meninos deixem de percorrer grandes distâncias. “Elas (as localidades) não têm escolas. Alguns têm de andar muito, mas não conseguem terminar o ano lectivo”, revelou Lobo do Nascimento. Com 1276 alunos no segundo ciclo – possui o único PUNIV – já se pensa na implementação de um núcleo do ensino superior. Para o futuro, Aida Pinheiro espera por mais instituições escolares, principalmente técnico-profissionais.
Acredita-se que nos próximos dois anos existam estudantes suficientes para atenderem à demanda. A este grupo serão acrescidos os cidadãos que brevemente irão ocupar mais de metade da centralidade do Km 44, assim como os dos Zango 5 e do projecto habitacional Zango 8000. “Vamos chegar às 100 mil pessoas no distrito”, opinou o administrador. A escola no interior da centralidade é a eleita para sedear o futuro núcleo do ensino superior. A Administração desafia os responsáveis do Colégio Santíssima Trindade, um dos poucos existentes, a aceder ao repto lançado. “Os nossos estudantes não podem ir à cidade e depois regressar”, defende Lobo do Nascimento, ressalvando que é tempo de pensar num núcleo para a localidade.