Os acordos de Paz assinados em Luanda a 4 de Abril de 2002, depois de um Memorando de Entendimento do Luena, celebram hoje 21 anos desde a sua implementação no país. Desde este período começou um grande projecto de reconstrução nacional para a recuperação das infra-estruturas destruídas em consequência do conflito armado
Os avanços e recuos que o país registou ao longo dos 21 anos de paz, divide as opiniões e certas individualidades do sul do país, concretamente nas províncias do Namibe e da Huíla. Para alguns dos nossos interlocutores, com o alcance da paz em Angola, muita coisa foi feita, sobretudo no que diz respeito a recuperação de infra-estruturas de impacto social e a construção de outras.
Entre os sectores que conheceram algum avanço ao longo deste período, segundo as nossas fontes, destacam-se a educação e saúde, que viu nascer novas infra-estruturas totalmente equipadas com material de ponta, para a melhoria dos serviços médicos e medicamentosos para as populações.
O professor Vário Numbi Braga, do Liceu Nº 1677 – 26 de Abril, no Lubango, destaca a aprovação de certos instrumentos legais que visam melhorar as condições dos professores em todo o país, sobretudo aqueles que trabalham em zonas mais recônditas.
“A avaliação que faço é positiva na medida em que foram registadas muitas mudanças, nomeadamente, a aprovação do novo Estatuto da carreira docente, a implementação de alguns subsídios para os professores, estes são alguns dos muitos ganhos que podemos sublinhar para o sector da Educação”, declarou. Ainda assim, Valério Numbi Braga reconhece que existe muito por se fazer em algumas paragens do país, onde não existem escolas e que as crianças ainda estudam por baixo de árvores, o que coloca em causa o processo de ensino e aprendizagem.
Em seu entender, é necessário que o Governo angolano olhe com particular atenção para os municípios do interior do país, onde a falta de escolas, hospitais e outros serviços sociais ainda é uma realidade. “É preciso que se crie mais condições de trabalho, como escolas, mas escolas em condições e com todos os materiais ou equipamentos necessários, é ainda necessário que se criem politicas que visam aproximar os conteúdos ministrados as experiências ou a realidades dos alunos para que os resultados no perfil de saída, seja um facto”, advertiu.
Outras opiniões
Por seu lado, o professor Francisco Lussati, da província do Namibe, aponta as assimetrias regionais, como um dos principais males que enfermam os 21 anos de Paz em Angola, particularmente no sul do país. “Do ponto de vista político e de segurança, há uma certa estabilidade que se pode sublinhar, já no campo social e económico, ainda há muito que fazer e o sul de Angola é a região mais martirizada do país, é só darmos uma vista ao bolo orçamental cabimentado, agravado com a má aplicação e falta de fiscalização, o que vem ainda agudizar com algumas alterações climáticas que ainda assolam a região”, afirmou.
Amândia Jaime Barata, professora no município da Bibala, aponta a falta de emprego no seio da juventude, particularmente no seu município. Para se alterar o quadro, apela que o Governo aposte mais no sector privado, para que seja este o principal criador de em- pregos. “Para um país que tende para a prosperidade, deve se prestar mais atenção nos sectores chaves de qualquer Nação, que são a saúde e a educação, apoiar seriamente no sector privado e olhar com muita atenção no processo de diversificação da economia”, recomendou.
Arcebispo emérito do lubango defende mais atenção às minorias
O Arcebispo emérito da Província Eclesiástica do Lubango, Dom Zacarias Kamwenho defendeu durante uma entrevista exclusiva a O PAÍS, para que se preste uma maior atenção às minorias étnicas, com vista à sua reinserção social. Segundo o prelado católico, não se pode falar de paz, quando no país há ainda pessoas a morrerem de fome, sobretudo crianças, quando o problema poderia ser evitado por aqueles que detém o poder.
“Olhando para a situação social do país, não se pode afirmar que temos uma paz efectiva, mas vamos chegar lá! Falar das minorias, é falar dos Khoisans, dos Vátuas e Himbas, o certo que estas minorias só poderão vir, se aqueles que já se encontram incluídas na protecção do estado, sintam de facto os beneficiados das riquezas do país, estamos a ver as crianças aqui nas ruas da cidade, como é que depois de mais de 40 anos de independências e 21 de paz ainda se sintam excluídas?” Questionou.