Diferente do que se registava nas unidades maternos infantis e no seio familiar, onde as mulheres se deslocavam para fazer o planeamento familiar quase que à escondida dos seus parceiros, hoje, na maternidade Lucrécia Paim, o número de utentes à procura deste serviço subiu de 15 para 40 por dia, sendo que muitas são levadas pelos esposos, de acordo com a médica obstetra e ginecologista, Eurídice Chongolola
Apesar da importância do planeamento familiar para o desenvolvimento familiar, ainda há um número restrito de mulheres que resistem em fazer os métodos contraceptivos hormonais, alegando que podem causar infertilidade e outros danos à saúde reprodutiva.
A especialista e directora dos serviços ambulatórios da Lucrécia Paim, Eurídice Chongolola, diz que no passado já registaram muitos casos em que a utente procurava por estes serviços mas, que, depois de algum tempo, voltava acompanhada do esposo que lhe obrigava a retirar, alegando que a esposa não tem necessidade de fazer isso, e se faz é porque está a trair o parceiro.
Entretanto, hoje, são os esposos que acompanham as suas esposas e expõem a necessidade de fazer o planeamento familiar. “Os maridos já trazem as suas mulheres e muitos alegam que pelo número de filhos que têm, na sua maioria três ou mais, não há necessidade de fazerem mais, dada a situação económica e social da família”, disse.
Os homens estão a perceber que, para que as famílias estejam bem, é necessário reduzir o número de filhos e planear a natalidade, por isso, ultimamente a adesão aos métodos contraceptivos tem sido boa, naquela unidade hospitalar. O aumento da cifra deve-se ao serviço de sensibilização levado a cabo junto das comunidades, com a colaboração de parceiros sociais, onde as famílias foram mobilizadas a aderirem ao serviço de planeamento familiar. De acordo com Eurídice Chongolola, a maternidade Lucrécia Paim tem reservado um método específico para pacientes com drepanocitose (anemia falciforme), uma vez que a gestação para mulheres que padecem desta patologia é fatal.
É recomendável que estas pacientes façam planeamento familiar de modo a diminuir o risco de mortalidade materna noutras gestações. A entrevistada entende que o planeamento familiar é, dentro da saúde reprodutiva e sexual, um ponto-chave, isto porque também ajuda na redução de doenças sexualmente transmissíveis. O intervalo entre as gravidezes é importante para a recuperação da paciente, uma vez que a gestação sempre leva a mulher ao desgaste físico, económico e emocional.
“O período que leva o planeamento de longa duração é melhor para reorganizar a família nos diferentes pontos. Fora o fac- to de pensarmos que o país é grande e tem espaço/terra para todos, é preciso saber que aí onde há espaço e podem procriar deve ter também os serviços sociais. Sem condições criadas, temos de organizar a natalidade”, apela.
Chip é o método mais usado
A médica obstetra e ginecologista, Eurídice Chongolola, afirma que o planeamento mais usado, actualmente, é o chip ou implante hormonal. É o que muitas dizem estar na moda, e algumas mulheres chegam à maternidade com o pensamento de que este é o método adequado para si, só porque nas outras caiu bem, o que não é o correcto, segundo a médica. A equipa médica, antes de fazer o planeamento, tem de analisar a idade da mulher, as doenças crónicas e infecciosas, só depois deste processo é que sugere à paciente o melhor procedimento.
A equipa médica consegue rastrear melhor os pacientes que têm patologia crónica não transmissível, tais como a hipertensão e as diabetes, considerando que o período de natalidade deve ser regulada, com o planeamento familiar. Eurídice lamenta o facto de muitas mulheres, depois de fazerem o planeamento do tipo chip, virem retirar antes de completar o prazo de cinco anos, sob a alegação de que estão a se sentir mal. A especialista aconselha as pacientes a prestarem atenção nas palestras que são dadas antes da administração do planeamento familiar, porque é aqui onde é passada a informação necessária de cada tipo de planeamento.
Devem aceitar o período de adaptação de cada método, neste tempo pode surgir vários sinais e sintomas na paciente, que levam ao desconforto da utente. Retirar só por retirar é um desperdício por ser o método de planeamento mais dispendioso para o Estado que subvenciona a compra. Eurídice Chongolola é de opinião que os métodos não hormonais, sobretudo a camisinha masculina ou feminina, são os mais ideais, porque os contraceptivos hormonais não previnem de doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo. “Independente de a mulher estar a fazer picas, pílulas ou ter um chip, deve usar o método de protecção de barreira, como a camisinha masculina ou feminina”, sublinha.
Nem todos os métodos podem ser usados para uma determina- da paciente, existe a elegibilidade para os métodos contraceptivos e quem determina essa elegibilidade é o médico. Lembrou que, entre os métodos contraceptivos convencionais que são as pílulas, injecções, chip, intrauterino hormonais e não hormonais há também o método definitivo, como a vasectomia e a laqueação das tubas uterinas. Existem também os naturais, que dependem da pessoa e se pode considerar como um método responsável tais como o calendário, coito interrompido e a abstinência sexual.
“Algumas mulheres dizem que causa infertilidade”
A pesar de ter parentes e amigas que são contra a utilização de métodos contraceptivos hormonais, e outras defenderem o mito de que causa infertilidade, Maria Cláudia não desistiu e optou por planear o número de filhos que sempre desejou, sem ter que atrapalhar nada na sua vida. É mãe de quatro filhos, e começou a usar o planeamento familiar a partir do seu segundo filho, no ano de 2005, com o objectivo de dar continuidade aos estudos.
Chegou a conversar com o seu companheiro, que não foi fácil, mas este acabou por concordar. Começou com as pílulas, que por fazerem com que ganhasse peso e tornasse o período menstrual irregular, em 2019 trocou para as injecções. Em finais de 2022, a médica aconselhou-a a suspender as picas, tendo em conta o número que tinha de apanhar, pelo que, voltou a tomar pílulas e, com a troca, o seu organismo registou mudanças.
“Foi um momento muito assustador, porque houve grandes mudanças nos meus hormônios, quando a menstruação apareceu saía bastante (15 a 20 dias), com a presença de coágulos e com um tamanho de quase um dedo da mão. Não desisti e, agora, o organismo voltou a funcionar normalidade”, frisou Maria Cláudia. Maria Cláudia disse que algumas mulheres muito próximas de si, tais como parentes e amigas afirmam que o planeamento familiar com o uso de métodos contraceptivos pode causar in- fertilidade, dificuldades de alcançar (engravidar) e danificar o útero.
Outras alegam que não fazem por causa das enchentes e a morosidade no atendimento, ao nível das unidades sanitárias, situação que proporciona preguiça de se deslocar à instituição, e, por fim, se apoiam em alguns argumentos religiosos de que o uso de preservativo é desperdiçar sé- men, é matar um ser. “O meu conselho para algumas mulheres que ainda ficam com o método caseiro, o famoso calen- dário, é que isto pode falhar por- que não é 90% eficaz. Por mais que procures controlar, podes engravidar. Isso acontece com mulheres muito férteis, assim como eu”, alertou Maria Cláudia.
Planear para o bem-estar da família e da sociedade
Por seu turno, Liudimila Camurça é de opinião que toda mulher deve controlar a taxa de natalidade. Usa o método de implante, vulgo “chip”, e optou em fazer o planeamento familiar para ter controlo do número de filhos e o espaçamento entre eles, também para o bem-estar da família e da própria sociedade. “Está relacionado não só com as condições económicas e nível de instrução, mas também com o esta- do de saúde dos seus elementos.
Uma família numerosa tem vários problemas, desde mortalidade materno infantil, falta de assistência médica, alimentação condigna, acesso a educação e mui- to mais”, disse. Liudimila Camurça actualmente não faz planeamento familiar, porque está sem companheiro, mas sabe a importância deste método. Defende que todo o casal deve ir à consulta juntos, de modo que o esposo esteja a par do que vai acontecer. “As famílias numerosas são as que têm maiores dificuldades económicas, baixo nível de escolaridade e deficiente estado de saúde. Os recursos alimentares são extremamente importantes para a sobrevivência das famílias, seja ela do meio rural ou urbano”, finalizou.