“O objectivo da cooperativa é ajudar as vendedeiras ambulantes a deixarem as condições precárias em que se encontram, bem como tratar da segurança social e do seu futuro, garantindo uma reforma com subsídio alimentar”, explicou o líder da organização, José Cassoma.
POR: Maria Teixeira
O presidente da Associação e coordenador geral da Cooperativa Agrícola “Zungueira Kuati Ketemo”, José Cassoma, em entrevista exclusiva a OPAÍS, anunciou que estão a implementar projectos que visam a segurança dos vendedores ambulantes.
O dirigente considerou que o problema da venda ambulante é antigo, ao ponto de todos os governadores que passaram por Luanda se terem debatido com esta situação e não é com resoluções e despachos de leis que se vai resolver estes dilemas.
“Acabámos de criar o projecto Zungueiras Kuati Ketemo que, nesta altura, está formado como uma cooperativa que visa incentivar os vendedores ambulantes, sobretudo aqueles que não são naturais de Luanda e têm terras de cultivo nas suas províncias de proveniência, a receberem uma formação técnica que lhes possa garantir e cooperar junto da organização”, frisou. Acrescentou de seguida que deste modo “poderão trabalhar e produzir alguns produtos agrícolas para vender a várias unidades comerciais”, disse.
O responsável referiu que o projecto vai permitir a essas famílias saírem da miséria extrema em que se encontram em grande número. “Nesta altura, os vendedores mas, no futuro, quando completarem 50 ou 60 anos, não terão uma reforma que lhes poderá garantir um subsídio alimentar para as suas famílias”, avaliou o presidente, demonstrando, claramente, a necessidade e urgência da entrada em cena de um programa do género.
De acordo com José Cassoma, a partir do programa de cooperativa será possível estabelecer, através da organização, parcerias com alguns bancos comerciais para obtenção de financiamentos. Nesta senda, convidam-se todos os vendedores, sobretudo das província do Huambo, Benguela e Bié, onde têm representação, a aderirem em massa, fazendo parte do programa das cooperativas das mulheres zungueiras do país.
O projecto é de âmbito nacional e já está a presente nas províncias do Huambo, com 600 vendedores inscritos, Benguela com duas mil e 300, e no Cuanza- Sul com 140, sendo que Luanda com apenas 350 pessoas. “Tão-logo haja condições, estaremos em Malanje e em outros pontos do país porque o objectivo da cooperativa é chegar a todas as províncias.
Queremos que o número cresça e possamos ajudar o Executivo naquilo que é possível para melhorar as condições do país. Os vendedores ambulantes são um grupo muito desfavorecido”, afirmou. Em Luanda, os mais interessados podem dirigir-se à Vila do Gamek, onde têm os escritórios. Neste momento decorre uma campanha de sensibilização junto de potenciais filiados.
Reduzir o fluxo de ambulantes em Luanda
Segundo José Cassoma, a intenção é apoiar os seus filiados e o Governo, que se queixa da presença dos vendedores na capital de Luanda. No seu ponto de vista, este projecto poderá aujudar a desafogar as ruas da capital do país, reduzindo a venda ambulante, razão pela qual esperam estabelecer parcerias também com o Ministério da Agricultura.
“O que nós queremos é que haja mais diálogo com as organizações da sociedade civil, principalmente connosco, que estamos na área de venda ambulante. Precisamos muito que o governador se reúna connosco para melhor traçarmos os programas a fim de ajudar a governação do país”, apelou. Realçou ainda que, apesar de Luanda ter um governador atento, sobretudo com os problemas dos vendedores, se houver um maior diálogo com a associação dos vendedores ambulantes e se se criarem projectos para que alguns deles tenham um emprego e também possam gerar empregos, conseguirão resolver este problema que é bastante antigo.
Contou ainda que dentre os vendedores ambulantes, encontram- se pessoas com o ensino médio e que, por falta de oportunidade de emprego, tiveram que se remediar neste trabalho. No entanto, como forma de sustento e adaptabilidade ao novo “modus vivendi”, grande parte deles viu-se obrigada a exercer essa actividade considerada de informal, de maneira a proporcionarem geração de renda. “Essas pessoas podem ser aproveitadas e, posteriormente, enquadradas para fazer outro tipo de trabalho, no sentido reduzir o número de vendedores ambulantes. Para isso, é necessário que haja projectos”, disse.
Vendedores ambulantes são maioritariamente imigrantes
Segundo José Cassoma, esta associação realizou recentemente um estudo em que o vendedor ambulante foi identificado como sendo parte de uma serie imigrante e que, na sua maioria. são provenientes do estrangeiro e de outras províncias, não a de Luanda. Nesse estudo constataram que nas províncias e comunas dos municípios os camponeses é que se transformaram em vendedores ambulantes. “Notamos que falta alguma coisa que estimule esses camponeses a não saírem das suas terras de origem.
Por essa razão, a associação tem o Projecto de Cooperativa Agrícola para minimizar o fluxo dos vendedores saídos das províncias para a capital, Luanda. “Vamos ter vendedores, mas não dessa forma, um número alto que o Governo já não consegue controlar”, garantiu. Etimologicamente o termo “Zungueiras” advém da língua nacional Kimbundu, “kuzunga”, que significa circular, rodear ou girar.
Foi a expressão escolhida para identificar a actividade informal dos vendedores que deambulam pelas diversas ruas da cidade, bairros, mercados e locais diversos, levando na maior parte dos casos sobre a cabeça uma bacia com produtos. Esta Associação foi fundada no dia 10 de Dezembro de 2014, com o objectivo de organizar a venda ambulante colaborando com o Governo da província de Luanda.