Cidadãos de nacionalidade chinesa, na província do Moxico, estão a ser acusados por uma associação regional que defende os direitos humanos e o ambiente de utilização de produtos químicos que expulsam abelhas, a fim de realizarem trabalhos de exploração da madeira. A prática está a reduzir a produção de mel
A denúncia foi feita pelo representante da organização G7, Franga Franga, que falava à margem da Conferência Nacional sobre os Recursos Naturais em Angola, durante a qual o académico queixou-se do facto de a acção destes expatriados estar a contribuir, significativamente, para o empobrecimento da população local.
O responsável avançou que, além de afugentarem as abelhas, fazendo cair a produção de mel na província, estes cidadãos da República Popular da China sequestraram a possibilidade de os nativos realizarem a pesca artesanal e a agricultura familiar, pois, justificou, desviam rios e invadem lavras. “Os chineses começaram a rebentar com as matas, a usarem produtos para afugentar as abelhas, e, infelizmente, hoje, quase não há mel.
As famílias não conseguem comercializar; começaram a desviar os rios e, hoje, o famoso peixe caqueia, no Moxico, quase não há; invadem as lavras. As famílias sobrevivem à sua sorte”, retratou a situação. Para Franga Franga, antes dessas explorações, as populações seguiam experiências de uma vida normal, porém o eclodir da nova realidade fundou outra era para as pessoas que passaram a conhecer dificuldades de várias ordens, no que à sobrevivência diz respeito.
Por estas razões, o representante da organização que actua na província do Moxico acredita que os impactos das actividades extrativas são, indiscutivelmente, negativos para as comunidades ao redor às quais considerou paupérrimas. “Para a comunidade, não vejo quaisquer impactos positivos. Os impactos negativos são vários. A comunidade, do ponto de vista positivo, não beneficia de nada”, recriminou.
Menores ganham 200 kwanzas/ dia
Segundo este activista social, existem jovens e menores a trabalharem para empresas chinesas que se dedicam à exploração de madeira com uma remuneração diária fixada em 200 kwanzas. Franga Franga acrescentou que estes funcionários são submetidos a trabalhos completamente esforçados, muitas vezes, em troca de um quilograma de arroz ou de sal. Explicou que o trabalho destes passa por movimentar a madeira de um lado para o outro, enquanto outro grupo carrega o recurso para a viatura. “Os chineses fazem deles uma mão-de-obra barata. Os nossos irmãos sofrem de forma acérrima na questão da exploração de menores.
Em Fevereiro, fizemos uma pesquisa e descobrimos que os chineses fazem o pagamento diário de 200 kwanzas. A exploração é gritante”, avançou. Para reverter a situação de falta de oportunidades de emprego com qualidade nestas regiões, o académico apontou como solução a construção de escolas do segundo ciclo do ensino secundário, e de universidades com cursos nas áreas de exploração de diamantes, de madeira, ou ainda de agricultura e de pesca. “Não temos, no Moxico, uma escola superior agrária. É importante que o Executivo direccione a questão das formações regionais. Ali sim, não vamos nos queixar do factor mão-de-obra barata”, sugeriu.