O acto de consignação para a execução da empreitada da Estrada Nacional 105, que liga o Norte ao Sul do país, aconteceu no dia 05 de Dezembro de 2023, presidido pelo ministro das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, Carlos Alberto dos Santos, na presença dos governos provinciais de Benguela e da Huíla.
Depois do acto de consignação da empreitada dos 303 quilómetros de estrada que liga as duas províncias, passando pelos municípios da Cacula e Quilengues (na Huíla), Chongoroi e Catengue (Benguela), esperava-se que os trabalhos no local fossem arrancar logo de imediato, o que não aconteceu.
O silêncio observado pelo dono da obra e pelo empreiteiro em anunciar o arranque efectivo da empreitada, avaliada em mais de 339 mil milhões de dólares norte-americanos, fez nascer entre os automobilistas, que dia e noite “rasgam” o referido troço, um enorme cepticismo na seriedade do projecto, razão pela qual o apelidaram de “A via-sacra” dos automobilistas.
Entretanto, o arranque efectivo dos trabalhos, que só aconteceu em Abril último, veio devolver a esperança que já se encontrava “moribunda” no seio dos homens do volante, que pedem mais atenção aos responsáveis da empresa de fiscalização com vista a garantir a qualidade da obra e o cumprimento dos prazos contratuais.
Elias Gabriel, camionista com mais de duas décadas de estrada, afirma ser um alívio ver o arranque efectivo das obras de reabilitação e ampliação da estrada em que já partiu os amortecedores e outras peças da sua viatura. “Era quase que inacreditável o arranque desta obra, porque quando se procedeu ao acto de consignação, chamaram toda.
a imprensa do país, falaram dos valores e tudo mais, ficamos com a impressão de que as obras poderiam arrancar já no dia seguinte”, frisou.
Acrescentou de seguida que, “infelizmente, não foi assim que aconteceu, para a nossa tristeza, mas, se agora estamos a ver as máquinas na via e isso alegra o nosso coração, particularmente o meu, afinal não posso falar pelos outros”.
O arranque efectivo das obras de reabilitação da Estrada Nacional 105, desde Abril do ano em curso, é visto pelos automobilistas que circulam no referido troço como primeiro sinal no processo de dinamização da economia nacional, tendo em conta a sua importância na ligação do país ao mercado da Sociedade de Desenvolvimento das Comunidades da África Austral (SADC).
De acordo com os nossos entrevistados, já estava mais do que no momento de o Governo angolano lançar mão naquela infra-estrutura de tranversal importância para a enconómia nacional e regional no contexto da SADC.
No entanto, é importante não se descuidar da sua fiscalização para que tudo ocorra de acordo com as metas traçadas e se alcancem os objectivos.
Paulo Baptista, outro camionista que falou à nossa reportagem, diz que é necessário que a empresa construtora cumpra com os prazos estabelecidos no contrato, sem pôr em causa a qualidade desejável da obra.
“O que nós queremos é que haja celeridade da execução desta obra para que se minimize os constrangimentos causados não só aos automibilistas, mas também à população que vive nesta zona em que estão a ser executadas as obras.
No entanto, isso não quer dizer que devem correr com o tempo e fazer obra sem qualidade, como se vê em alguns projectos”, frisou.
À semelhança do que disse o nosso anterior interlocutor, Paulo Baptista também é de opinião que se faça uma fiscalização da referida obra, não só da parte da empresa contratada para o efeito, mas também dos cidadãos por serem “os reais donos desta estrada”.
“Sinalização do trânsito não deve ser protelada”
Apesar de as obras de reabilitação e ampliação da Estrada Nacional 105 estarem apenas na fase inicial, com um grau de execução que ronda os cinco por cento, os automobilistas que circulam naquela malha rodoviária já pensam nas acções profiláticas viradas à prevenção de acidentes.
Tais pensamentos assentam-se na razão de existir no troço curvas apertadas e zonas de pastos sem sinalização, onde os pastores e os seus rebanhos fazem a travessia da estrada de um lado para o outro.
Rui Vieira, motorista de camião há quase 10 anos, disse que já presenciou muitos acidentes causados pela má descrição das curvas por falta de sinalização e por atropelamento a gado bovino.
“Por exemplo, para quem conhece a curva da localidade da Viamba, no município da Cacula, é muito perigosa e sem sinalização. Já vi lá meus colegas a morrerem.
Outro, sem saber que aquela zona entre a Cacula e Quilengues é zona de pastos, atropelou um boi que estragou o carro todo”, frisou.
No seu ponto de vista, para se evitar que tal aconteça, é necessário que as administrações municipais acompanhem a execução da obra.
Construtora garante cumprimento das obras
A empresa encarregue da execução das obras de reabilitação da Estrada Nacional 105 garantiu que vai cumprir com os prazos estabelecidos contratualmente.
Carlos Filho, da empresa construtora, disse que, do lado da província da Huíla, os trabalhos decorrem a bom ritmo, para que tais objectivos sejam alcançados com o menor grau de dificuldades possível.
De momento, os trabalhos que estão a ser executados traduzem-se na reconstrução de toda a camada de pavimento com terraplenagem da base e sub-base, numa extensão de 20 quilómetros, entre o Km 40 e comuna do Hoque.
“A empreitada tem um prazo previsto de execução de 42 meses, e essa parte da província da Huíla acreditamos que, num prazo de 24 ou 26 meses, será entregue.
O que está sendo feito neste momento é a reconstrução de toda a camada de base. Depois disso, vamos colocar uma camada de base betuminosa de cinco centímetros e outra de desgaste também de cinco centímetros”, detalhou, sublinhando que vão também construir pontes em todas as partes de drenagem profunda.
O representante da empresa construtora informou que as obras que abarcam o troço, que sai da localidade do Km 40 à comuna do Hoque, decorrem de forma satisfatória.
Razão pela qual, na próxima semana, vão arrancar os trabalhos de colocação da base betuminosa. Por esta altura, adiantou, estão a ser feitos os estudos que serão apresentados ao dono da obra sobre a próxima fase, que vai ligar a comuna do Hoque ao município da Cacula.
Esta, depois de concluída com as diferentes obras, como pontes, passeios e iluminação, vai passar de nove metros de largura para 11, com vista a garantir maior segurança ao trânsito.
Destacado papel da Medianova na “pressão” para o arranque das obras
Os automobilistas que circulam na Estrada Nacional 105, que se encontra em reabilitação desde a primeira quinzena do mês de Maio do ano em curso, destacaram o empenho de alguns meios de comunicação social, concretamente os do Grupo Medianova (Rádio Mais/Huíla e o jornal OPAÍS), na “pressão” ao dono da obra e ao empreiteiro para o arranque das obras.
Segundo os automobilistas, não tem sido habitual ver os órgãos do Governo a prestar informações aos cidadãos sobre o atraso de obras, cuja consignação ou lançamento foram feitos publicamente e com a presença de quase todos os meios de comunicação existentes no país. Elias Gabriel considera ser missão e obrigação dos meios de comunicação social prestar um bom serviço público e fiscalizar as acções do executivo, sobretudo aquelas que estes fazem cobertura e divulgação.
“Quando se fez a consignação desta obra, eu vi em todas as televisões do nosso país, passou um mês, dois meses, depois três, e as obras não arrancaram e não vi nem ouvi sequer uma rádio a entrevistar o ministro ou o empreiteiro, para saber das causas do atraso do início das obras, apenas a Rádio Mais, que tem um programa onde podemos mandar mensagens, e o OPAÍS, que veio no terreno para nos ouvir”, frisou.
Acrescentou de seguida “espero que continuem assim para que possam justificar o dinheiro que vos pagamos com os nossos impostos”.
Por seu lado, Rui Edmundo Vieira reconhece que ainda não há cultura de comunicar entre os governantes e governados, sobretudo no que diz respeito à execução de certos projectos sociais, o que tem provocado especulações, por isso, recomenda que haja mais acutilância dos órgãos de comunicação social.
“Não tem sido fácil criar esta ligação entre Governo e governados, mas grande parte da culpa disso tudo é dos próprios órgãos de comunicação social, confesso que, quando fui abordado na primeira vez pela vossa equipa de reportagem, não quis falar, porque achava que era mais um jornal daqueles que só entrevistam e não publicam. Vocês estão no bom caminho, espero que não mudem”, aconselhou
. Entretanto, o chefe dos Serviços Provinciais do Instituto Nacional de Estradas (INEA) reconhece ter havido alguma falta de comunicação, por esta razão, garante fazer relatórios informativos de cada fase da obra que, no seu entender, decorrem a bom ritmo.
“Houve de facto um atraso neste quesito. Por isso, é que quase ninguém sabia do que estava a ser feito depois da consignação, como a localização dos sítios para a retirada de solos próprios, bem como a criação de base da empresa, mas, a partir de hoje, estamos a mudar isso, nós estamos abertos para o nosso utente, estamos abertos para isso”, revelou.
Por: João Katombela, na Huíla