O livro, com uma abordagem que o autor considera intrigante, combinando humor, ironia e suspense, é um desafio lançado a cada ser humano, procura trazer à mesa o percurso de vida que cada ser estabelece na terra, o seu legado para os seus descendentes, bem como os preconceitos que se criam em torno de assuntos fracturantes, como racismo, religião, heranças, traições e migração.
Sem saber exactamente a data em que começou a materialização do livro, talvez entre 2014 e 2015, o também jornalista disse que os primeiros ensaios aconteceram no jornal OPAÍS, em Abril de 2019, com a publicação de três textos, com o título Inesperadamente Mayembe (I, II e III), nas edições n.º 1441, 1448 e 1455.
O objectivo destas publicações, que o autor desejava dar continuidade, era de produzir estórias que convocassem o leitor a procurar a outra edição do jornal, motivados pelas suas abordagens.
António Quino lembra ainda que, depois, já no tempo da Covid-19, em 2020, prosseguiu no Facebook, interagindo com internautas, que foram sugerindo cenas. “No final, recolhi-me numa espécie de gravidez que permitiu parir esses herdeiros com pecados.
A publicação tanto no jornal, quanto no Facebook, me pôs em contacto com fontes diversas, desde jovens aos kotas, inclusive livros sobre cultura bantu, pesquisa sobre bases antropológicas do homem angolano. Olha, fui ler sobre cultura de povos do oesteafricanos e até passei o olhar sobre o Alcorão”, contou ao OPAÍS.
Produção do livro
Para que este trabalho fosse hoje um facto consumado, a sua produção teve início na cidade de Caxito, terminado em Luanda. Para melhores resultados, a obra teve ainda uma passagem em Lisboa, de quase 20 dias, que permitiu o autor avançar o trabalho.
António Quino conta-nos que foi nesta altura que leu sobre a história dos mulatos no vale do rio Sado, em Portugal.
Durante séculos, a região da Lezíria e Ribeira do Sado era desabitada devido à sua fama de insalubridade. Uma história que o interessou, fazendo com que levasse ao livro não com a profundidade que pretendia, uma vez que precisava de uma maior leitura para melhor abordagem.
Na verdade, conta o autor, só não mergulhou com profundidade sobre esta história pelo facto de estar focado no conteúdo do referido livro.
“Fala-se que a população existente na região do Sado, antes do século XX, era constituída por africanos, supostamente imunes ao paludismo, uma doença endémica localmente conhecida como febre terçã ou sezões.
Conhecidos como os mulatos de Alcácer ou carapinhas do Sado, apresentavam nítidos traços africanos e conta a história que já no século XVI habitavam aquele espaço”, aclarou.
Obra para o leitor universal
Este livro o autor dirige a um leitor universal, que seja aberto ao mundo e que se disponha a reflectir sobre o nosso destino. “Hoje conversamos muito pouco sobre a vida e sobre nós mesmos.
Seria óptimo se houvesse leitores militantes, descomprometidos com dogmas puritanos que impedem de ver a luz onde nem escuridão existe”, disse.
Para maior proximidade da obra com os leitores, o escritor tem já programada a sua apresentação em Benguela, no dia 24 deste mês, e no Bengo, no dia 30.
A depender de convites, pretende também levar os “Herdeiros do Pecado” em outras províncias. “Penso sempre na soberania do leitor. Sabe, sinto-me um cozinheiro que preparou uma feijoada com todos.
Alguns podem só apreciar o chouriço de carne, outros podem não gostar de dobrada bem cozida, alguns podem querer mais chispe.
Na narrativa, há cenas de amor, traição, vigarices, reflexões muito profundas, e até partos e funerais. No final, espero que o leitor aprecie a feijoada; deguste-a e tire do livro o que melhor convocar as suas experiências ou expectativas”, finalizou.
Breve nota biográfica
Crítico literário, antologista, cronista, contista, romancista e jornalista, António Quino é doutor em Ciências da Literatura pela Universidade do Minho, Portugal, e mestre em Ensino de Literaturas em Língua Portuguesa pela Universidade Agostinho Neto.
Docente no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, é membro da União dos Escritores Angolanos e membro fundador da Academia Angolana de Letras, exercendo a função de secretário-geral.