Embora considerem que a liderança política comprometa a vontade política, as organizações da sociedade civil engajadas neste combate admitem que há orientações políticas, em Angola, que acontecem por via de um ou outra actividade
O presidente da Rede Angolana das Organizações de Serviços de SIDA (ANASO), António Coelho, destacou a liderança política, entre as três causas que, para a sua organização, limitam a luta contra a SIDA, tendo asseverado que a falta de definição das funções da comissão e do instituto vocacionados a combater este mal está na base de todas as obstruções.
“A primeira grande razão da limitação da luta contra a SIDA tem a ver com a liderança política, pois nós temos sérios problemas com a mesma e, nesse particular, o que recomendamos é que se defina melhor o papel da Comissão Nacional de Luta contra a Sida e o do Instituto Nacional de Luta contra o Sida (INLS), a fim de se evitarem os principais atropelos na questão da coordenação.
Acrescentou dizendo que o quadro actual apresentado pelo país não oferece bons indicativos para as pessoas conseguirem perceber qual é a responsabilidade da comissão e qual a do instituto.
António Coelho recordou que a Comissão Nacional de Luta contra a SIDA é um órgão liderado pela vice-Presidente da República e o INLS é do Ministério da Saúde (MINSA), que também acaba por ser um órgão de apoio ao Estado.
“Eu sinto que a comissão não funciona e que, algumas vezes, o instituto quer cobrir o papel da comissão, fazendo-o de forma deficiente, o que considero errado, porque a comissão é um órgão político de coordenação e o instituto é um órgão técnico de coordenação”, esclareceu o presidente da ANASO, que refere o facto de isso já estar estampado em documentos oficiais.
Aliás, António Coelho realçou que a recomendação da sua organização vem mesmo neste sentido, da definição dos papéis, por haver um regimento que cria a comissão e outro que cria o instituto.
“Temos de dizer que não se cumpre isso, porque é um espaço que está vazio, o da liderança política, razão pela qual defendemos que um dos problemas da luta contra a SIDA é o da liderança política”, argumentou o entrevistado.
Embora consideremos que a liderança política compromete a vontade política, se nós disséssemos que não há orientação política, em Angola, também estaríamos a mentir, porque, certas vezes, acontece um ou outro movimento, só que não tão sustentáveis.
“O que nós pretendemos é que seja uma acção continuada, por isso continuamos a dizer que a liderança política é limitada e a mesma deve ser reforçada com o funcionamento da Comissão Nacional de Luta contra a SIDA e a definição dos papéis de que já referimos”, frisou.
Distribuição de anti-retrovirais preocupante
A segunda causa da limitação avançada pela ANASO tem a ver com os dados. De acordo com o interlocutor do OPAÍS, o que há no país são dados subestimados e não oferecem a fotografia real de Angola, além de não possuírem a qualidade que se impõe.
“A ser assim, esses dados não permitem ajudar na definição do andamento da epidemia, nem na definição das políticas e das estratégias nacionais”, salientou o presidente da ANASO.
A deficiência na distribuição de anti-retrovirais e o acesso ao acompanhamento e tratamento de pessoas que vivem com VIH foram aliados à terceira razão da limitação na luta contra a doença.
No âmbito da situação da SIDA em Angola, a ANASO e outras organizações da sociedade civil mostram-se preocupadas, porque, segundo António Coelho, a situação também é preocupante.
Ele e os seus parceiros acreditam que, se não forem tomadas as medidas urgentes, poderá evoluir-se para uma realidade alarmante.