No mês de Novembro a fasquia de crianças com malária severa que foram internadas no Hospital Geral de Benguela já foi preocupante. Em Dezembro, o número cresceu e, caso chova, irá elevar-se, tudo devido aos amontoados de lixo espalhados pelo município de Benguela.
POR: Zuleide de Carvalho, em Benguela
Benguela já foi uma metrópole bonita e limpa, dizem os antigos, que viveram no tempo colonial. Hoje, a cidade das acácias rubras tem lixo em todo o lado, reflectindo-se negativamente na saúde das crianças. Na urbe ou na periferia, o lixo é recolhido irregularmente, nesta última então, é pior. Bairros há que ficam meses a fio a acumular resíduos sólidos em plenas ruas, onde as crianças brincam e contraem malária.
De acordo com o testemunho da doutora Ana Cardoso, responsável interina da pediatria do Hospital Geral de Benguela, (H.G.B.), a malária é a doença que mantém os médicos e técnicos de saúde mais ocupados actualmente. Segundo a médica residente em pediatria, os 145 casos de crianças diagnosticadas com malária grave, internadas em Dezembro, devem-se à proximidade do lixo às áreas habitacionais, nas zonas A e B do município sede. Preocupada com o quadro, a doutora Ana Cardoso declarou que, “este mês (que ainda não terminou), nota-se um acréscimo nos internamentos por malária”, sendo o principal factor “o défice de saneamento básico na periferia”. Na manhã de ontem, a pediatria controlava 59 crianças com “malária complicada” e, no mês de Novembro, foram internadas até 130 crianças, tendo havido mais de vinte que faleceram devido a esta patologia. Com capacidade para cerca de 45 camas, as enfermarias para a malária estão sobrelotadas, uma vez que têm 14 crianças além do limite, o que obriga a dormirem dois pacientes por cama.
Por causa de uns, pagam os outros…
Há uma relação directa entre amontoados de lixo nas periferias, nas valas da zona urbana e o aumento de crianças afectadas com malária. Caso chova, o cenário irá piorar. Por sorte, tem chovido pouco. O munícipe Abel Marques, residente em Benguela, zona A, fez saber que “antigamente, os carros vinham de três em três dias”. Actualmente, a situação está “péssima”, não havendo apanha do lixo há 45 dias. A senhora Maria dos Santos, acha que “o lixo está mal no bairro, tem que se tirar, porque está a trazer muitas doenças, paludismo, vómitos, diarreia”, sendo um constante motivo de aflição para os munícipes. Concordando, Africano Andrade, morador no bairro Calohombo, zona B, informou que, quanto à colheita do lixo, “a empresa não faz o trabalho como deve ser, passamos quatro semanas sem eles aparecerem.
” Assim, a pediatra Ana Cardoso, argumentou: “não há recolha do lixo, os mosquitos depositam os ovos”, é aí que as crianças das periferias brincam, logo, isto “está na base do aumento dos casos de malária.” E, por causa da inoperância dos serviços de limpeza da cidade, quem paga são os hospitais, vêmse lotados com crianças com malária. Por sua vez, não têm todas as condições para atendimento, faltando medicamentos.
Quanto aos fármacos para malária, a doutora Ana enunciou que o hospital tem stock para garantir o atendimento, alegando que, “de momento, nós temos medicamentos para acudir essa situação, temos os antimaláricos”. Todavia, não foi isso que se viu, ao entrevistar-se os pais de dois pequenos internados, sendo-lhes receitados fármacos e material gastável que teriam de comprar, dentre esses, consta o Artemether em ambas as receitas.
Orlando Alves, que tem o filho de 4 anos internado com malária, desde Quarta-feira, recebeu ontem, da equipa que tem cuidado do seu rapaz, uma receita para que fosse comprar “Artemether, Amoxicilina, seringas e agulhas”. Confirmando as causas na base da epidemia associadas ao lixo, o munícipe vive com a mulher e os cinco filhos no bairro Bela Vista Baixa, situado na Zona B, no município sede de Benguela.
Já Maria de Fátima, residente na Seta Antiga, outro bairro com o mesmo problema, tem o filho de 4 anos com paludismo, internado desde o dia 25, para quem comprou “Artemether, Amoxicilina, Ácido Fólico e seringas”. Inquieta, a jovem mãe mencionou que, no início, o petiz tinha “muito, muito paludismo” mas que, a cada dia, nota melhorias. Contudo, mostrou-se desassossegada com a abundância de mosquitos na enfermaria, que não tem mosquiteiros.
Pais reclamam do atendimento pediátrico “lento”
Na manhã de Quinta-feira, às 9h30, um jovem encontrava-se com o filho na pediatria desde as 5 horas da manhã, à espera que lhes fosse passada a receita para os medicamentos, pois o médico “estava reunido”. E o cidadão Orlando Alves alega ter chegado com o filho Maurício febril, ao hospital, ao meio dia de Quarta-feira e terem sido atendidos apenas seis horas depois, às 6 da tarde. Questionada sobre a suposta morosidade dos serviços, a responsável interina refutou, dizendo que “os pais querem ser atendidos na hora” porém, o tempo médio de espera é de cerca de uma hora e meia, assegurou. Sem contar com a malária, as outras doenças mais registadas na pediatria do H.G.B. são broncopneumonia, patologias diarreicas agudas e também 12 casos de tuberculose, que vêm crescendo, transmitida por adultos às crianças.