Numa altura em que se comemora em todo o Mundo o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, em reconhecimento do papel desenvolvido na reivindicação de uma participação plena e igualitária na sociedade e na luta contra a discriminação, mulheres da Saúde, além de garantirem a vida, também a salvam, contaram em exclusivo a OPAÍS as que deixaram de viver para si mesmas e passaram a pensar mais nos outros.
POR: Maria Teixeira
Nos últimos 15 anos, a Saúde em Angola foi o sector que mais beneficiou de crescimento ao longo da sua rede pública em quase todos os seus pendentes. Nesta senda, foi também o sector ocupado apenas por homens que deixaram as suas marcas. Hoje, temos uma mulher a desempenhar o papel de ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, Médica Cardiologista que, em entrevista a OPAÍS afirmou que, com o cargo que ostenta, tem uma vida muito menos descansada do que tinha. Há alguns meses, a vida de Sílvia Lutucuta mudou e, se antes pensava só para si, agora tem de pensar para o geral.
A ministra da Saúde deixou de viver para si e passou a se dedicar mais à Saúde pública. Em exclusivo a OPAIS, neste dia alusivo ao dia Internacional da mulher, a senhora ministra conta que tem sido um desafio constante, um trabalho abnegado que tem de ser feito com muita dedicação e visão. Com um sorriso estampado no rosto e apesar de reconhecer que era uma dinâmica diferente, a ministra conta que sempre foi uma pessoa de muitas actividades, porque, como médica e docente universitária já conseguia conciliar os dois papéis. Apesar da existência de vários desafios apontados sobre o sistema de Saúde angolano, a crise económica que assola o país também é um desafio para a nossa ministra.
“Como sabem, estou num sector que, por causa da situação económica e não só do país, atravessa um período muito difícil. Temos o desafio dos recursos humanos, com a prestação de serviços, infraestruturas hospitalares, falta de reabilitação, dificuldade com algumas unidades que não têm equipamentos adequados”, disse. Realçou ainda que as pessoas têm de começar a pensar que o Ministério da Saúde não é só para tratar doenças, mas também para preveni-las e não pode trabalhar de forma isolada, porque a saúde depende de vários factores. Sílvia Lutucuta explicou que são vários os factores que concorrem para uma melhor saúde e bem-estar físico e psíquico da pessoa e isso tem a ver com um bom saneamento do meio ambiente, fornecimento de água potável, habitação condigna, educação, emprego, entre outros.
Como ministra, Sílvia Lutucuta reconhece que tem novos desafios a cumprir “Hoje temos prazos e metas curtas e objectivas a atingir para a melhoria dos cuidados de saúde da nossa população e temos de trabalhar muito cedo e sem horário de saída, muitos menos para refeição”, disse a ministra. Apesar do seu dia-a-dia ser de muita correria, Sílvia Lutucuta aconselha as suas digníssimas colegas a terem mais responsabilidade social, ajudarem na produção da saúde, a prevenir e educar as pessoas e a prestarem um serviço mais humanizado. “O que devem fazer é melhorar a sua própria saúde e, acima de tudo, prestarem um serviço humanizado e de qualidade, aplicarem o seu conhecimento até ao limite e sentirem-se felizes por serem médicas, uma profissão de compaixão, de partilha constante e de assistência permanente a alguém que precisa do nosso carinho e do nosso saber”, recomendou. De acordo com os dados do Bastonário da Ordem dos Médicos, estão inscritos em todo o país na Ordem 6 mil 736 médicos dos quais 3 mil e 12 são mulheres.
Uma mulher que dedica o seu dia-a- dia a salvar vidas
Por sua vez, Coca Quilola, de 36 anos, enfermeira há mais de 10 anos, licenciada em Psicologia Clínica, conta que para ela salvar vida é um dom Deus e todos os dias que sai de casa não se arrepende por ter escolhido esta profissão. Apesar de sair de casa às 6 horas da manhã para o local do trabalho e regressar apenas a noite, o seu job faz dela uma mulher realizada. Casada e mãe de dois filhos, sendo uma menina de 8 anos e um rapaz de 11 meses, consegue superar as dificuldades que opõem as suas responsabilidades domésticas da profissional. “Não tem sido fácil, mas me esforço bastante. Geralmente chego em casa entre às 19 ou 20 horas e como ainda encontro os meus filhos acordados, aproveito para prestar-lhes a devida atenção até à hora em que vão para cama”, conta Coca Quilola. Antes de Coca Quilola sair de casa, orienta a senhora que a ajuda a cuidar da casa e dos filhos, no sentido de mantê-los em segurança, enquanto dedica o seu dia a salvar vidas.
Por essa razão, todos os dias vai para a cama à meia-noite e levanta-se às 4horas para poder chegar a tempo e horas ao seu local de trabalho que fica muito distante da sua residência. “Hoje deixei de viver apenas para mim e dedico-me muito aos cuidados dos outros. Tenho dois empregos para poder sustentar a família, mas também para dar vida aos outros. Faço turnos e sou obrigada a deixar o meu bebé de apenas 11 meses”, disse. Acrescentou que “são tantas as despesas que se a pessoa não tiver dois empregos não consegue sobreviver, mas faço isso com amor e carinho porque sei que muitas vidas dependem de mim. Muitas são as vezes que quando faço noite já não regresso a casa, porque tenho de ir à outra clínica”.
Segundo ela, começou a trabalhar na outra unidade hospitalar quando o seu bebé tinha apenas dois meses de vida e com licença materna, mas como se tratava de entrar na função pública teve que começar mesmo assim. Na época, foi difícil porque começou a trabalhar em regime de turnos e havia aquelas horas em que o seu marido e a filha ligavam às 23 horas para a informar que o bebé não parava de chorar. Transformou a dor que a corroía, nesses momentos, em força para materializar o seu sonho. “Como sempre quis entrar no funcionalismo público e isso também me ajudou a continuar. Na altura não tinha como abrir mão tanto dessa oportunidade de trabalho como da minha família. Tive que fazer um grande esforço para conciliar as duas coisas”. Sublinhou que, para tal, o apoio do seu marido tem sido determinante.
Ele encarrega-se de cuidar dos nossos filhos enquanto estou a trabalhar. A enfermeira de profissão deixa um conselho às suas companheiras que sempre desistiram dos seus sonhos por vários motivos. “Ser mulher é algo difícil, mas ao mesmo tempo é maravilhoso porque é ser mãe, companheira, amiga, esposa. Por isso, para aquelas mulheres que desistiram dos sonhos deveriam tentar mais porque tudo na vida exige sacrifício e não há nada impossível para se concretizar os sonhos”, sugeriu. Segundo dados do Bastonário da Ordem dos Enfermeiros, actualmente no nosso país estão inscritos na ordem 18 mil 574 profissionais com carteira de enfermeiros, destes 68, 87% (12 mil 792) sã……………………….o mulheres, ou seja, a mais mulheres enfermeiras do que homens.