A aldeia, que comporta 520 habitantes e dista a 50 quilómetros a Sul da cidade de Cabinda, vive sérias dificuldades quanto à assistência médica e medicamentosa, não só.
Nos casos mais graves, por falta de um centro médico ou um posto de saúde no Ntendequele, a população é obrigada a recorrer às unidades sanitárias das aldeias vizinhas de Fortaleza ou Chinzaze, que distam 20 a 30 quilómetros, em busca de cuidados médicos, acabando, muitas vezes, os doentes por sucumbir ao longo do percurso.
Para suprir essas dificuldades, a população decidiu construir, com meios próprios, um posto de saúde e contratar um médico particular para auxiliar a aldeia no tratamento das enfermidades, mediante pagamento das contribuições da população.
Segundo o chefe da aldeia do Ntendequele, Gabriel Uini Gindo, as obras de construção do referido posto médico, com quatro compartimentos, incluindo a casa de banho, feito de adobes, começaram em 2016, e estão já na fase final, incluídos os trabalhos de cobertura e de reboque.
“A construção do posto de saúde é iniciativa nossa, porque já vimos sofrendo há muito tempo. Organizamos essa ideia e falamos com a população para erguermos um posto, enquanto os projectos do governo não chegam à aldeia”, frisou.
Por questões financeiras, a construção registou um interregno e os aldeões recorrem à administração municipal, na pessoa do seu exadministrador, Aguinaldo Puati, a pedir apoio para concluir a obra.
“Mandou-nos fazer a factura-proforma e, na altura, os gastos cifravam-se em pelo menos um milhão de kwanzas e a resposta que recebemos foi que a administração não tinha capacidade financeira para assumir essa empreitada”, contou à nossa reportagem o chefe da aldeia de Ntendequele.
Gabriel Gindo referiu, ao jornal OPAIS, que a aldeia tem o registo negativo de vários casos de mortalidade por falta de assistência médica e os doentes em estado grave recebem os primeiros socorros nas aldeias de Fortaleza ou Chinzaze, enquanto o tratamento mais específico é garantido no hospital provincial de Cabinda, a cerca de 50 quilómetros daquela localidade.
A estrada que dá acesso à aldeia está em mau estado de conservação, o que limita a circulação de viaturas naquele troço, sendo, por este motivo, os doentes evacuados de tipóia para os centros de tratamento e muito deles acabam por morrer ao longo do caminho.
O assunto chegou à consideração dos deputados à Assembleia Nacional do círculo provincial eleitoral de Cabinda que programaram uma visita de constatação à aldeia para aferir a situação de que a população local estaria a custear a construção de um centro médico com esforço financeiro próprio.
Para a deputada Berta Marciano, a povoação de Ntendequele com o número de habitantes que possui, na ordem de 500 pessoas, já se justifica a construção de um centro médico condigno, já que o posto médico que está a ser erguido pela própria população não obedece ao fluxograma daquilo que são as exigências da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Governo reconhece carência de oito postos de saúde
O secretário provincial da Saúde em Cabinda, Rúben de Fátima Buco, louvou a iniciativa da população de Ntendequele, adiantando que, para além dessa localidade, em toda a dimensão da região Sul da cidade de Cabinda precisam ser construídos pelo menos oito postos de saúde para corresponder àquilo que são as orientações da OMS.
Segundo este órgão das Nações Unidas, em cada 15 quilómetros deve haver uma unidade hospitalar, um centro ou um posto de saúde junto da residência do cidadão. “Vamos ter isso como registo e a administração municipal tomou boa nota sobre o assunto.
Há projectos em carteira de construção de mais infra-estruturas sanitárias no município, o que poderá colmatar as dificuldades do sector e dar resposta adequada às necessidades das populações”.
Os técnicos da administração municipal de Cabinda, que fizeram parte da comissão dos deputados, deram garantias quanto a solução da preocupação da aldeia de Ntendequele e, numa primeira fase, deverá ser criada uma comissão multissetorial para apurar as condições daquela infra-estrutura e analisar se continuam com as obras ou encontram um “meio-termo” para assegurar que a população tenha os serviços médicos mais próximos de si.
Para além das questões ligadas à assistência médica e medicamentosa, os mais de 500 habitantes da aldeia de Ntendequele enfrentam também problemas de falta de abastecimento de água potável, energia eléctrica, bem como falta de professores e vias de acesso para possibilitar a evacuação dos seus produtos do campo para o mercado de São Pedro.
Por: Alberto Coelho, em Cabinda