A Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA) e o Observatório Político e Social de Angola (OPSA) consideram improdutivo o programa de segurança alimentar e nutricional levado a cabo pelo Executivo desde 2009. Mais de 2 milhões de crianças sofrem de desnutrição crónica no país
POR: Milton Manaça
Discursando na conferência internacional sobre segurança alimentar e nutricional que decorreu ontem, em Luanda, o responsável da ADRA, Belarmino Jelembi, disse que o acesso aos alimentos, nos últimos 16 anos, baseado nas importações, não tem garantido os efeitos esperados para a maioria dos angolanos. Para sustentar as suas afirmações, Jelembi socorre-se dos dados do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) de 2016, que apontam para mais de 2 milhões de crianças menores de cinco anos que sofrem de desnutrição crónica.
O problema da desnutrição, segundo a ADRA, está associadao à “agricultura familiar que, em termos práticos, não tem merecido atenção necessária. A agricultura familiar é uma opção de redistribuição da riqueza, geração de postos de trabalho e atracção de jovens para os municípios”, frisou. O coordenador do Observatório Social e Político de Angola (OPSA), Fernando Pacheco, alinha no mesmo diapasão e considera que Angola tem registado perdas pós-colheita que contribuiriam para reduzir significativamente a fome. Alerta para o eventual surgimento de problemas sociais e políticos caso não se resolva o problema alimentar. O engenheiro agrónomo, que chamou a atenção para que se saiba definir correctamente as prioridades do país, disse não ter dúvidas de que a falta de alimentos pode desembocar em conflitos. “Se não resolvermos o problema alimentar vamos ter consequências muito negativas e possivelmente problemas socias e políticos mais cedo ou mais tarde”, alertou.
Erro no programa de combate à pobreza
Questionado por OPAÍS sobre se o programa do Executivo virado ao combate à fome e à pobreza tem dado os frutos que dele se esperavam, Pacheco respondeu negativamente, argumentando que não está preocupado com as pequenas melhorias que se tem verificado, mas sim com as verbas destinadas a estes programas que não são devidamente utilizadas. Para ele, a concepção do programa é errada, por não estar a combater propriamente a pobreza. Por outro lado, o secretário de Estado para a Agricultura e Pecuária, Carlos Pinto, reconheceu o problema levantado pela ADRA e OPSA e apontou como parte do problema os 0,4 % do Orçamento Geral do Estado atribuído ao sector agrícola. Apesar das relativas melhorias, Carlos Pinto considera irrisório este orçamento para fazer face à desnutrição, principalmente no meio rural, e aos programas de combate à fome e à pobreza. O governante admitiu que a condição de fome atenta contra os princípios da dignidade humana, potenciando instabilidades nos países, razão por que anunciou que o Executivo de João Lourenço pretende acabar com este mal, até 2030.
União Europeia disponibiliza USD 65 milhões para fomento agrícola
O gestor de projectos da União, Danilo Barbetro, anunciou que a União Europeia facilitará a produção e o valor nutritivo dos alimentos nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe com a implementação do projecto de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola (FRESAN). Danilo Barbeto disse que o financiamento do fundo da União Europeia é de 65 milhões de Euros, a ser implementado de 2018 a 2022. O projecto FRESAN pretende contribuir para a redução da fome, pobreza e vulnerabilidade à insegurança alimentar e nutricional, reforçando a agricultura familiar nas províncias de Angola mais afectadas pelas alterações climáticas.