A população de manatins ou peixe-boi decresceu, consideravelmente, nas lagoas e rios, em Angola, por conta da caça ilegal, degradação ou perda do habitat, seca, captura acidental pelas redes dos pescadores e, em menor escala, por acidentes com motores de barcos, segundo a directorageral da Associação Angofauna, Tailene Pontes, que tenta salvar a espécie
Há a necessidade de serem tomadas medidas urgentes para a protecção do manatim, um mamífero de água doce que, em Angola, está em vias de extinção devido à pesca ilegal e à seca que reduz o caudal de alguns rios.
O número de exemplares desta espécie, cuja quantidade exacta se desconhece, tende a diminuir. Conhecido por muitos como Peixe-boi, o mamífero é pescado para a confecção de colares, com os seus dentes e ossos, além da utilização da pele para fins diversos, e da extracção da gordura para alimentação.
A espécie consta da convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens, e, igualmente, da lista vermelha em Angola, de animais em vias de extinção, pelo que é importante melhorar a compreensão das suas necessidades, seu habitat e, desta forma, ajudar as autoridades na elaboração de legislação para protecção e conservação da espécie no país.
“A situação do manatim é crítica, porque continua a ser alvo de caça”, disse Tailene Pontes, directora da Angofauna, tendo admitido que no país não existe qualquer projecto concreto para a protecção e conservação desta espécie animal, que vive nos rios Cuanza, Dande, Bengo, Longa e Chiloango.
Em declarações ao jornal OPAÍS, a responsável da referida associação fez saber que o peixe manatim é muito importante para o ecossistema, pelo que se deixar de existir pode prejudicar a biodiversidade, uma vez que ele come as plantas subaquática, e com este acto realiza a limpeza dos rios.
Sem esta limpeza, os rios ficam inavegáveis, por causa das plantas. Por outro lado, as fezes do manatim servem de alimento para muitos outros peixes.
A organização não-governamental, que trabalha há um ano no projecto denominado ‘‘Salvemos o Manatim em Angola’, defende que o apelo à sensibilização e educação ambiental deve começar em casa, com os vizinhos, as crianças, as instituições, as igrejas e, principalmente, as comunidades que vivem à beira do rio.
Com tanta fauna selvagem, é importante haver uma disciplina de educação ambiental nas crianças, desde o ensino da separação do lixo, plantar árvores, não fazer queimadas e preservar os animais, segundo a entrevistada.
Todos somos chamados a contribuir
A instituição que dirige tem como foco a conservação da biodiversidade e do ecossistema no país, a inspecção e visita de constatação aos pontos de pesca artesanal, marcação de pontos de ocorrência, bem como o avistamento e levantamento populacional da espécie, colecta de amostras para análises em laboratórios e dados de suporte para estudos científicos, etc.
“Cada pessoa deve fazer alguma coisa, posso não ter dinheiro mas espalhar a palavra. Posso denunciar, posso ensinar, pressionar as instituições sobre a venda de animais selvagens em vias de extinção nas ruas’’, advertiu.
Manifestou-se preocupada com a devastação acentuada da natureza que extingue esta espécie animal, pelo que acha importante começar a garantir a protecção da fauna e da flora, através da educação ambiental.
“A comunidade é um pouco leiga neste assunto, sem saber o por quê da urgente protecção deste mamífero.
É como os peixes que tiram do rio pequeninos, que depois de um tempo vai acabar, se não deixarem atingir a idade adulta para se reproduzirem”, disse.
Conheça o peixe-boi
A figura do manatim foi utilizada como estandarte de Angola durante a realização da Expo2012 Yeasu Korea, onde vários especialistas do mundo defenderam a sua protecção e conservação.
O manatim africano (trichechus senegalensis), também conhecido por peixe-boi, é um mamífero aquático, que vive em águas rasas da costa oceânica, rios e lagos de África e da América.
O peixe-boi-marinho apresenta como característica o corpo acinzentado, de formato fusiforme, com dorso ventralmente achatado.
Apresentam de três a quatro unhas nas nadadeiras peitorais e ausência de manchas na região ventral.
Os peixes-bois são importantes porque fertilizam a água dos rios com os nutrientes encontrados na sua urina e fezes. Esses nutrientes são liberados para o fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar aquática.
Além disso, contribuem para o controlo biológico de plantas aquáticas. Resgate de chimpanzé
A associação Angofauna tem ainda o projecto de resgate de chimpanzés, que de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), encontra-se em perigo e sob ameaça de extinção, devido à caça e a destruição do meio ambiente, em especial na África Central e Ocidental.
Há dez anos, informou, viviam cerca de 2 milhões de chimpanzés em África, e a perda do habitat e a exploração de vários recursos minerais são as principais causas da descida drástica dos números da espécie.