Tendo em conta a falta de segurança e confiança nos órgãos vocacionados à manutenção da ordem e tranquilidade públicas, os munícipes do Lubango dizem já não acreditar nos serviços da Polícia Nacional.
POR: João Katombela
na Huíla
Em função disso, os habitantes dos bairros periféricos da cidade do Lubango, na província da Huíla, afirmam pensar que existem poucas diferenças entre os que atentam contra as suas fardas com roupa civil e aqueles que trajam uniformes da corporação. Para alguns, a diferença entre “o bandido e a Polícia Nacional só está mesmo na farda”. A razão de tal fundamento, segundo os lubanguenses entrevistados por este jornal, surge em consequência das constantes agressões de que têm sido vítimas, praticadas supostamente por elementos ligados ao órgão que deveria ser o garante da lei e manutenção da tranquilidade pública.
Na cidade do Lubango, por exemplo, só em menos de uma semana, dois casos marcam a prova deste triste episódio, em que agentes da Policia Nacional são acusados de terem baleado civis aparentemente indefesos. O caso mais recente aconteceu nesta Segunda-feira, 19, por volta das 15 horas, quando um cidadão que exercia a actividade de moto táxi foi baleado por um agente não identificado, junto à rotunda do bairro João de Almeida, nos arredores da cidade do Lubango. Segundo testemunhas ouvidas pela equipa de reportagem, tudo aconteceu quando efectivos da Polícia Nacional, afectos à 3ª Esquadra do bairro João de Almeida, encontravam-se a realizar o seu trabalho de fiscalização com o objectivo de impedir vendedoras ambulantes de venderem naquele local.
As vendedoras de conservas junto à rotunda do bairro João de Almeida contam que a correria terá tido o seu início já na semana passada, altura em que membros da Policia Nacional fizeram-se presentes no local onde terão agredido um mulher grávida de 8 meses. A gestante de oito meses, Avelina Samba, foi agredida com bofetadas no rosto e pontapés, supostamente por agentes da Polícia Nacional, deixando marcas que só cicatrizaram graças a intervenção médica. “A semana passada eles vieram agarrar os vendedores, levaram o meu negócio. Quando eu segui lá, bateram-me e pisaram-me. Tive de morder um deles, porque depois a minha barriga começou a doer. E se fizesse um aborto? Afinal a Policia está para nos defender ou nos bater?’, questionou a cidadã agredida. Segundo a interlocutora de OPAÍS, a acção da Polícia Nacional não ficou apenas pelos acontecimentos da semana passada.
Nesta Segunda-feira, 19, efectivos da Ordem e Tranquilidade Pública voltaram ao local, só que desta vez com mais violência. Depois de terem retido os produtos que estava a ser comercializado pelas mulheres na rotunda do João de Almeida, um dos jovens, que exercia no mesmo local a actividade de moto táxi, foi baleado quando tentava socorrer uma mulher cujo produto de venda estava a ser levado pela Policia. Mário Kapintango, 22 anos de idade, explica que quando tentava reaver o produto das mãos da Policia Nacional, foi igualmente agredido, tendo minutos depois ouvido um estrondo que se confundia com o bater de uma pedra sobre um metal.
“De principio, os senhores da Policia Fiscal passaram para reter o negócio das senhoras que estavam a fazer a comercialização na berma da estrada, passaram a primeira, já não tinha negócio, passaram a segunda vez, também não tinha, porque elas haviam escondido os produtos num quintal ao lado. Então eles levaram o negócio de uma senhora que eu conheço. Ela pediu-me ajuda para ver onde teria sido levado o negócio dela. Naquela de eu seguir, os policias acharam que estava a segui-los para ir fazer confusão. Então me pegaram e me puseram no chão e começaram a me agredir. Os polícias e os dois sobas, Kalupeteka e Evaristo, assim como os seus homens, bateram-me, atiraram-me no chão. Naquela de me baterem, me tiraram do chão para me por no caro, eu só ouvi um barulho! Achei que fosse uma pedra ou um ferro que bateu no carro, quando dei por conta, só senti que o peito estava muito quente”, disse.
Feridos atendidos no hospital
Entretanto, o chefe de departamento de Cirurgia do Hospital Central do Lubango, que atendeu o paciente, explica que o ferimento foi realmente causado por uma arma de fogo. Apesar disso, o actual estado do paciente não inspira gravidade, mas, segundo o médico-cirurgião Paulo Buaque, pelas características do ferimento, não há dúvidas que foi atingido por um projéctil e não uma pedra, conforme queriam fazer parecer alguns membros 3ª Esquadra da Polícia na província. “Relativamente ao nosso paciente, temos a plena certeza segundo as características dos ferimentos, é um orifício pontiforme, que é característica da entrada de um projéctil de arma de fogo. Trata-se de uma bala e não de uma pedra, com lesão nos músculos peitorais intercostais, lesão também do osso externo, e saiu do lado contra lateral, ferindo parcialmente o braço esquerdo.
Não teve lesão vascular a nível do braço esquerdo, mais só teve ferimentos das partes moles ou partes musculares. A grande felicidade do paciente são quie os danos causados pelo projéctil, que só feriu os músculos, e parcialmente o osso externo. Não houve envolvimento de grandes vasos nem muito menos o projétil penetrou na cavidade toráxica a ponto de afectar os grandes vasos toráxicos, nem o coração”, detalhou. OPAÍS apurou que, por falta de medicamentos no Hospital Central do Lubango, o referido paciente não teve assistência medicamentosa. Os colegas tiveram que contribuir para a aquisição dos remédios prescritos pelo médico.
Mais um caso
Ainda na cidade do Lubango, um outro jovem foi igualmente baleado por agente da Policia Nacional. Desta vez, o caso ocorreu no interior da 5ª Esquadra, cita no bairro da Mitcha, nos arredores da cidade do Lubango. O disparo do agente da Policia Nacional, segundo uma das testemunhas, terá atingido um jovem que se suspeita que a esposa tenha uma relação extra-conjugal com o suposto atirador. Segundo os familiares que fizeram a denúncia a este jornal, tudo aconteceu quando a vítima surpreendeu a sua esposa dentro do carro do acusado, tendo este seguido os dois até à 5ª esquadra.
Mária Joana Salgueiro, sobrinha da vítima, explica que o seu tio já tinha conhecimento da traição da esposa, pelo que conhecia as características da viatura do suposto rival. “Isso aconteceu na Terça-feira, porque ele já tinha visto a esposa dentro do carro do senhor da Policia. Então, ele ligou para que os irmãos viessem ao seu encontro. Apercebendo-se da presença do marido, ela disse que o meu marido estava a vir atrás: então o senhor teve de ir parar o carro dentro da 5ª Esquadra da Mitcha. Ali, quando os jovens chegaram, o senhor disse, vamos entrar para nós conversarmos. De repente, o agente fez seis tiros, um dos quais atingiu o braço do meu tio, que neste momento está na cadeia. Onde é que se viu isso?”, questionou um dos parentes, realçando que ‘ele tem filhos que dependem de si. A essa altura estão a sofrer”