Os familiares das vítimas dos conflitos políticos que faleceram a 4 de Setembro de 1977 já podem realizar funerais condignos para os seus entes queridos. A Comissão para a Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) procedeu, ontem, na cidade do Lubango, capital da província da Huíla, à entrega dos seus restos mortais
Ao todo, são 30 urnas contendo os restos mortais das vítimas dos conflitos políticos ocorridos na localidade de Indungo, município do Kuvango, quando uma aldeia desta mesma localidade sofreu um ataque, durante a guerra civil, no período pós-independência.
Na ocasião, Marcelino Tyamba, que falava em nome dos familiares das vítimas, para demonstrar o quanto o acto é importante para os habitantes desta localidade, afirmou que, com a recepção dos restos mortais, a população do Indungo poderá respirar de alívio, já que há mais de 40 anos aguardavam pela possibilidade de realizar um funeral de acordo com as normas costumeiras.
“Todo homem merece que no fim da sua existência terrena tenha um funeral digno, mesmo que tal fim tenha sido marcado pelas circunstâncias bélico-militares”, frisou.
Salientou que as famílias dos cidadãos que no dia 4 de Setembro de 1977 perderam, triste e inesperadamente, a vida, na aldeia de Indungo, estão muito agradecidos ao Governo pelos trabalhos que têm levado a cabo, através da CIVICOP, “cujo principal objectivo é, precisamente, a busca pela pacificação e abrandamento dos espíritos dos irmãos outrora desavindos”.
Marcelino Tyamba afirmou que tal gesto ocorre depois de ter passado muito tempo desde que foi feito o pedido de exumação dos corpos enterrados numa vala comum há mais de 40 anos, na localidade de Indungo.
“As famílias agradecem sobretudo pelo facto de a sua prece ter si- do atendida. Pois, vêm clamando há já quatro anos, na esperança de que, embora muito tempo já se tenha passado, pudessem sepultar, ainda que simbolicamente, os seus entes queridos”, frisou.
Para si, a CIVICOP realizou com brio o trabalho de exumação, um trabalho que requereu paciência e heroísmo. “A essa equipa, a nossa gratidão. Neste momento, aqui e agora, finalmente presenciam alegre e tristemente, triste pela perda, o acto de transladação e sepultamento das ossadas dos seus entes queridos no local onde tombaram”.
Sem culpados nem responsabilização
O ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, que presidiu a cerimónia de entrega dos restos mortais, apelou aos presentes a não perderem de vista o objectivo para o qual a CIVICOP foi criada.
Segundo o responsável da Defesa em Angola, o momento deve servir para reflectir sobre a história do país, sua identidade e dignidade dos seus ancestrais e antecessores, da- da a sua importância e significado na vida de todos os angolanos.
“Este acto é um reconhecimento da memória daqueles que contribuíram para a construção da nossa província, cujas vidas, sacrifícios e as histórias daqueles que vieram antes de nós foram parte funda- mental da nossa trajectória”, frisou.
Justificou que, por essa razão, as ossadas que vão ser “devolvidas” à terra simbolizam não apenas o retorno aos seus lares ancestrais, mas também o compromisso do Estado com a justiça e a verdade.
“Que este retorno traga paz às famílias e reconciliação entre nós, e que o legado dos vossos entes que- ridos continue a inspirar e a guiar os huilanos para um futuro de justiça e prosperidade”, apelou Familiares das vítimas clamam pela construção de um memorial.
Os familiares das vítimas dos conflitos políticos que morreram na localidade de Indungo, município do Kuvango, solicitam a construção de um memorial, para honrarem a sua memória.
O regedor do Indungo, Manuel Gerónimo Kambinda, que recebeu os restos mortais de um dos seus tios, disse que, em obediência aos costumes da localidade, estes, a par de todos, não serão sepultados no cemitério comum.
“Nós não vamos colocar no cemitério comum, porque, na nossa tradição, existem mortes diferentes. Há aqueles que morrem por doenças, aqueles que se suicidam e aqueles que morrem durante uma guerra, como são as vítimas que nós hoje recebemos”, frisou.
Acrescentou de seguida que, “por isso, estes vão ser sepultados no local em que foram mortos e queremos que lá seja erguido um memorial para a história da nossa localidade”. Por outro lado, alguns deles dizem não ter condições para a transladação dos restos mortais dos seus entes queridos da cidade do Lubango para o local onde serão realizados os funerais.
Paulo Cassanga, familiar de uma das vítimas, pediu, para o efeito, apoio não só da CIVICOP, como também do Governo Provincial da Huíla, para a transladação dos restos mortais dos seus parentes falecidos durante o conflito armado.
“As famílias das vítimas são socialmente desprovidas de condições para a transladação das urnas com os restos mortais dos seus entes queridos, pelo que solicitamos a colaboração das autoridades centrais e provinciais para que tal possa acontecer sem sobressaltos e garantir um funeral sem constrangimentos”, frisou.
POR:João Katombela, na Huíla