Já é oficial e está confirmada para hoje, no final do dia, a chegada de Joe Biden a Luanda para uma visita de dois dias que deverão estender- se, igualmente, com uma deslocação do Estadista americano ao Corredor do Lobito, na província de Benguela.
Com a chegada do Presidente americano, que vem em solo angolano a convite do seu homólogo João Lourenço, os dois países iniciam hoje novos rumos nas suas relações históricas, muito por conta de ser a primeira vez que um Chefe de Estado americano pisa o território nacional, o que dá a garantia máxima de um interesse mútuo entre as partes no fortalecimento das suas relações históricas que datam desde 1993.
Trata-se, igualmente, da primeira viagem ao continente africano de um Chefe de Estado da maior potência mundial nos últimos 10 anos, depois de Barack Obama, em 2013. Por este facto, como soube o jornal OPAÍS de fontes ligadas ao processo, as duas partes, por via das suas unidades diplomáticas e pon- tos focais desta parceria, já deixaram claro que essa visita representa a abertura de novos caminhos nas relações bilaterais entre os países que têm, ainda, o petróleo como dos seus grandes activos no que à relação comercial diz respeito.
Todavia, conforme dados obtidos pelo jornal OPAÍS, com a chegada de Joe Biden a Luanda, os dois países querem agora esticar as suas relações para outros domínios da arena bilateral, sendo isso mesmo um expediente que a parte angolana tem vindo a buscar através de vários desdobramentos que vem fazendo por via da deslocação dos Presidentes José Eduardo dos San- tos e João Lourenço à Casa Branca nas constantes visitas efectuadas.
José Eduardo abriu caminho
O histórico da relação entre os dois países ficou ainda mais fortalecido quando, em Setembro de 1991, o falecido Presidente da República, José Eduardo dos Santos, foi recebido pelo republicano George Bush.
E em Dezembro de 1995, Eduardo dos Santos voltou à Casa Branca e foi recebido pelo democrata Bill Clinton. Em Setembro de 2002, George W. Bush recebeu Eduardo dos Santos, integrado numa delegação de presidentes africanos. Em 2004, José Eduardo dos San- tos voltou a ser recebido na Casa Branca, representando assim a quarta visita de um Presidente angolano aos Estados Unidos
Mudar de paradigma
Entretanto, os dois países, que estabeleceram laços diplomáticos em 1993, sempre tiveram o pro- cesso de paz, eleições e petróleo no centro das conversas, a julgar por aquilo que Angola representa em África para os Estados Unidos da América.
Com vista à mudança de quadro e de paradigma, tão logo subiu ao poder, o actual Presidente da República, João Lourenço, iniciou um périplo com forte aposta na diplomacia económica, pescando investimentos estrangeiros para Angola, com foco nas grandes po-enciais, em que os Estados Unidos da América não foram excepção.
Conforme acentuam vários especialistas em relações internacionais, no âmbito do processo de diversificação da economia nacional, as constantes idas e vindas de João Lourenço ao gigante território americano foram sempre para ampliar a abordagem dos investimentos e fortalecer as relações que, durante anos, conheceram alguns relaxamentos.
Foi assim que, em Dezembro de 2022, o Presidente da República, João Lourenço, esteve na Casa Branca a participar do jantar oferecido pelo Presidente Joe Biden aos líderes africanos convidados a Washington para a cimeira EUA- ÁFRICA.
Passagem histórica de João Lourenço na Casa Branca
Já em Novembro de 2023, o Presidente João Lourenço foi recebido na Casa Branca, em Washington, Estados Unidos da América, pelo seu homólogo Joe Biden. O encontro, na altura, que se ineria no âmbito dos 30 anos de relações diplomáticas entre os dois estados, marcou assim a viragem das relações históricas e assinalou o facto de João Lourenço ter sido o segundo Presidente angolano a visitar a Casa Branca, depois de José Eduardo dos Santos.
No encontro, conforme ficou registado, Joe Biden abriu portas a uma cooperação ainda maior entre Washington e Luanda, facto que, segundo analistas políticos, sinalizou uma viragem de Angola ao Ocidente, depois de décadas de uma estreita cooperação política e económica com a China e a Rússia.
Como pontos centrais da agenda, estava a cooperação bilateral em matéria de comércio, investimento, clima e energia.
O projecto de Parceria para Infra-estruturas e Investimentos Globais (PGI) do Presidente Biden no Corredor do Lobito, que liga Angola à República Democrática do Congo e à Zâmbia aos mercados globais através do porto angolano do Lobito, foi outro dos pontos em destaque. Importa referir que o projecto tem implicações económicas significativas, e os dois líderes falaram sobre as estratégias para impulsionar o seu desenvolvimento, promovendo uma maior conectividade e oportunidades comerciais na região.
Por seu turno, a Casa Branca sublinhou o compromisso de reforçar a colaboração com as nações africanas, destacando a importância do diálogo contínuo e dos esforços conjuntos para enfrentar os desafios comuns.
Realinhamento das relações depois do relaxamento
Depois de algum interregno nas relações, Angola e os Estados Unidos da América têm investi- do, fortemente, na aceleração da cooperação bilateral com a troca de diálogo permanente, sobre tudo depois da passagem de João Lourenço à Casa Branca.
Fruto desta corrida, foi assim que, em 2023, o comércio EUA- Angola ascendeu a aproximada- mente 1,77 mil milhões de dólares, o que faz de Angola o quarto maior parceiro comercial na África Subsahariana da potência mundial.
Investimentos em áreas fulcrais
Os 31 anos de relações diplomáticas estão marcados por uma parceria em franca progressão, que começou a consolidar-se desde a entrada no poder de João Lourenço, em 2017, particularmente em áreas fulcrais como as energias renováveis e as telecomunicações.
Fruto da forte aposta de Angola na diplomacia económica, os Estados Unidos passaram a envolver-se, cada vez mais, em investimentos substanciais virados para o seu crescimento e desenvolvimento.
O Governo norte-americano continua a apoiar o compromisso de Angola com as reformas democráticas, inclusive a ampliação do papel da sociedade civil e das organizações religiosas nas eleições democráticas e na tomada de decisões locais.
Para o efeito, a Embaixada dos EUA em Angola lançou um programa para promover o Estado de Direito, através do reforço da independência judicial, da consciencialização dos cidadãos para os seus direitos legais e da capacitação dos tribunais.
POR:Domingos Bento com agências