Em declarações ao jornal OPAÍS, Eugénio Ngolo Manuvakola disse não serem verdades as palavras do ministro da Justiça, Marcy Lopes, alegando falta de cooperação da UNITA na CIVICOP, uma vez que o partido do “Galo Negro” anunciou formalmente a sua saída.
Segundo o mesmo, a UNITA não responde pelas questões do Estado, por não ser ela quem governa. “Somos concorrentes dos outros partidos, não Governo.
O seremos quando vencermos as presidenciais de 2027”, salientou o deputado da UNITA, desvalorizando as palavras do ministro.
Ademais, acrescentou que, na situação actual, a UNITA não responde por questões governativas, pelo que foi convidada a trabalhar na CIVICOP para um programa que pensou ser patriótico.
“Quando a UNITA entendeu que o programa não tinha nada de patriótico, era, na verdade, um programa de propaganda do partido no poder, a UNITA retirou-se desta plataforma”, afirmou, acrescentando que a carta de desvinculação foi assinada por si no dia 5 de Fevereiro.
Eugénio Ngolo Manuvakola disse que a referida carta foi endereçada ao gabinete do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, no mesmo dia em que recebeu um convite desta instituição para participar de uma reunião.
Não às exéquias do general “Begin”
Eugénio Manuvakola disse: a UNITA e ele declinaram o convite feito pelo ministro Marcy Lopes para participar das exéquias do general Fernando Sambimbi “Begin”, cujos restos mortais partiram, ontem, à terra natal, o Bié, onde deverá ser enterrado hoje, na localidade de Ndjele.
“Declinei o convite pelas razões evocadas no comunicado de 5 de Fevereiro último, que mandei ao coordenador da CIVICOP”, asseverou. Na última quarta-feira, 15, a Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos (CIVICOP) homenageou com honras militares, no EstadoMaior General do Exército (exR20), o general “Begin”, que faleceu a 10 de Dezembro de 1999, vítima de doença, no município do Cuemba, província do Bié, ainda em contexto de conflito em Angola.
Na ocasião, o coordenador da CIVICOP, Marcy Lopes, referiu que era importante realizar aquela homenagem “a um filho da pátria”, que, “infelizmente”, faleceu na decorrência do conflito armado que o país viveu durante algum tempo e, por consequência, deve ser “recordado por todos”.
Neste contexto, o responsável lembrou ainda que, no âmbito das competências da Comissão, a organização vai continuar a identificar os restos mortais de compatriotas para se poder dignificá-los, dando-lhes “um repouso digno, assim como também para serenar os ânimos da sociedade”.
“Obviamente que é um trabalho árduo. Leva tempo e as pessoas têm de ter paciência, não apenas a nossa sociedade em geral, mas também as famílias.
Queremos alcançar o máximo de resultados positivos e satisfatórios. No entanto, teremos todo o prazer de fazer a apresentação destes resultados após a devida confirmação pelo laboratório de criminalística de que aqueles restos mortais pertencem a uma determinada pessoa, isso depois da correspondência de DNA com a respectiva família”, disse.
Apenas após este resultado positivo, continuou, é feita a entrega dos restos mortais à família e, consequentemente, trabalhar para que as pessoas tenham um funeral com o DNA confirmado.
Questionado sobre a participação da UNITA no processo, o também ministro da Justiça e dos Direitos Humanos foi peremptório: “A Comissão não tem recebido qualquer participação do partido do ‘Galo Negro’. Ora, ficou claro que fizeram um anúncio público de saída da organização e, até ao momento, não formalizaram a retirada.
Porém, continuamos com o nosso trabalho”, referiu. Marcy Lopes mostrou-se disponível para trabalhar com todas as forças políticas do país, tendo sublinhado que, com o apoio das partes envolvidas, o trabalho “seria muito mais facilitado e, neste caso, implicaria menos recursos em meios técnicos, equipamentos e pessoas para a localização dos lugares onde as vítimas foram sepultadas”.
Refira-se que a CIVICOP foi criada por Decreto Presidencial em Abril de 2019, tendo como missão elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos ocorridos entre 1975 e 2002, numa iniciativa do Presidente da República, João Lourenço, no âmbito do processo de reconciliação entre os angolanos.