Entre os vários exemplos de “irregularidades eleitorais”, o líder do Galo Negro, que participou numa conferência sobre “Democracia em África”, em Lisboa, Portugal, criticou a “conivência do Banco Mundial”, que afirmou ter “aprovado programas de financiamento formalmente concebidos para comprar votos”
Adalberto Costa Júnior afirmou ainda que há “milhares de angolanos a abandonarem o país, logo a seguir às eleições”, que considerou como tendo sido “falsas”. O líder do maior partido na oposição em Angola intervinha na conferência “Democracia em África”, promovida pela Internacional Democrática do Centro (IDC), na última Sexta-feira, 24, na capital portuguesa, que visou passar em revista “as principais dificuldades da implementação democrática” nos países africanos, com especial destaque para Angola e Moçambique.
No evento, que reuniu mais de 60 líderes e membros de diferentes partidos políticos, Costa Júnior considerou que o processo eleitoral está “viciado” pelo MPLA desde 1992. O líder da UNITA utilizou o índice da Economist Intelligence Unit, a unidade de análise económica da revista The Economist, para concluir que “só uma democracia é plena, as Maurícias, havendo seis imperfeitas, entre as quais Cabo Verde, 14 híbridas e 23 países autocráticos, entre os quais está Angola e Moçambique”.
“Em três anos de liderança da oposição, nunca me deixaram debater com o Presidente João Lourenço, nunca fui entrevistado nos canais públicos de comunicação social, o Tribunal Constitucional anulou, a 10 meses das eleições, o congresso que elegeu o candidato da oposição, que tinha sido feito três anos antes”, exemplificou Adalberto da Costa Júnior.
“Faço daqui um apelo à União Africana, à União Europeia, ao parlamento português e aos Estados Unidos para que não fechem os olhos aos actos inconstitucionais que o partido no poder fez e faz para se manter no poder e perpetuar a pobreza, as dificuldades e as crises que afectam os direitos e a liberdade do povo”, disse o presidente da UNITA. O passado colonial, concluiu, “não explica as dificuldades actuais, mas sim as elites governantes e os golpes constitucionais, como aconteceram em Angola e na Gui- né Equatorial”.
Líder da RENAMO igual a ACJ
A crítica ao processo eleitoral foi também uma das linhas fortes do discurso do líder da oposição Moçambicana. O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Ossufo Momade afirmou que “em Moçambique, o processo eleitoral está viciado desde 1994, com a adulteração do registo eleitoral, eleitores-fantasmas, fraco registo eleitoral nas zonas onde as pessoas mais apoiam a oposição.
Explicou que a “intolerância política, intimidações e assassínios de membros da oposição, académicos, activistas e jornalistas pelas forças de segurança, tudo para intimidar os eleitores”, são outros males que minam a democracia do seu país. Ossufo Momade referiu ainda que tudo isto é feito “a mando de quem governa o país há mais de 40 anos”.
Na intervenção, o presidente da RENAMO, que disputa eleições municipais no final do ano e presidenciais em 2024, disse que em Moçambique “as eleições estão longe de serem livres, justas e transparentes”, mas salientou que mesmo assim foi possível obter algumas vitórias eleitorais.
“Apesar do confronto entre o exército e uma polícia fortemente armada com tanques blinda- dos contra membros da oposição completamente desprotegidos, conseguimos resistir e obter algumas vitórias, elegemos deputados para a Assembleia Nacional, ganhámos alguns municípios e assembleias municipais e somos governo em algumas autarquias; nas últimas municipais de 2018, por exemplo, ganhámos quase metade das 53 autarquias, mas governamos apenas oito”, afirmou.
A situação em Moçambique, onde a FRELIMO sempre governou desde a independência, à semelhança do MPLA em Angola, “a situação alterou-se e está favorável à vitória da oposição”, o que é difícil no actual contexto, disse. “É arrepiante dizer mas chegou- se ao cúmulo de se enterrarem pessoas vivas, entre as quais as de membros da autoridade, o que é um sinal claro de saturação da população face ao regime”, afirmou o político moçambicano. Ademais, o problema, apontou, não é exclusivo de Moçambique ou de Angola, mas sim uma preocupação que atravessa vários países africanos, onde não há uma separação clara entre o partido que governa e o Estado.