Por deliberação das centrais sindicais, o porta-voz, Teixeira Cândido, na última conferência de imprensa, em que havia anuncia- do a segunda fase da greve geral na função pública, avisara que nenhum trabalhador sairia à rua para a habitual marcha, que marca o Dia Internacional do Trabalhador, como forma de protesto, facto que ontem acabou por acontecer.
Segundo o porta-voz das centrais sindicais, a data serve de reflexão, numa decisão unânime da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos- Central Sindical (UNTA-CS), a Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (SILA) e a Força Sindical Angolana (FSA-CS). Este ano, as centrais sindicais decretaram uma greve geral interpolada em três fases.
A primeira decorreu entre os dias 20 e 22 de Março, a segunda entre 22 e 30 de Abril. A terceira está prevista para o dia 3 de Junho e pode durar até 11 dias. Teixeira Cândido esclareceu que desde a entrega do Caderno Reivindicativo ao Governo, no ano passado, a classe representativa dos trabalhadores não recebeu outra proposta que pudesse impedir o ciclo de greves.
No entanto, e apesar do cenário, os principais partidos políticos saudaram a data e encorajaram ao diálogo entre as partes. De igual modo, emitiram as suas declarações com a expressa manifestação de solidariedade a todos os trabalhadores de Angola.
O Bureau Político do Comité Central do MPLA, partido que sustenta o Executivo, na sua declaração, saudou efusivamente os cidadãos nacionais e estrangeiros que exercem actividade laboral em Angola, agradecendo o contributo prestado na hercúlea missão de desenvolvimento do país que, segundo refere, precisa de todos para o servir e fazer crescer.
Segundo ainda o MPLA, este ano, a data é celebrada a coberto de uma nova Lei Geral de Trabalho que, de modo geral, foi aplaudida pelas centrais sindicais e pelos trabalhadores em geral, bem como pelas entidades empregadoras que reconhecem os avanços nela constante, na visão de ter sido o corolário de um debate amplo, inclusivo, visando a satisfação das preocupações de todos.
O Bureau Político do MPLA reitera que o trabalhador angola- no continua no centro da atenção, como a vanguarda das políticas voltadas à promoção do bem-estar e à melhoria da sua qualidade de vida e das suas famílias e, por isso, continuará a valorizar este extrato relevante da sociedade, com o qual mantém diálogo permanente.
O MPLA aproveita a ocasião para manifestar a sua total confiança num desfecho auspicioso no processo de conversações em curso entre o Governo e as Centrais Sindicais, as quais reconhece como parceiros estratégicos e interlocutores válidos na busca das melhores soluções para as inquietações da classe trabalhadora.
UNITA
Por sua vez, a UNITA, maior partido na oposição, refere na sua declaração que se solidariza com todos os trabalhadores, em particular os angolanos, que dão o melhor de si para o desenvolvimento e o sustento das suas famílias.
O partido UNITA solidariza-se também com a greve interpolada das centrais sindicais, face à perda do poder de compra dos trabalhadores e exorta o Executivo a tomar medidas consistentes e eficazes para a resolução dos problemas que afectam as famílias e as empresas.
CASA-CE e BD
Saudou ainda a data a CASA-CE que, na sua comunicação, atribui ao MPLA a culpa do sofrimento dos angolanos, e que a solução passa pela saída deste par- tido do poder, e assim o país será dirigido por patriotas.
Já o Bloco Democrático, que se apresenta como um partido que defende os princípios da democracia participativa, também saudou o 1.º de Maio, apesar de assinalar a efeméride num ambiente de angústia e incerteza, patenteada pela teimosia do poder que se recusa a escutar as justas reivindicações dos trabalhadores por melhores salários, condições de trabalho e segurança social.
O Bloco Democrático concorda com a decisão dos sindicatos em não sair à rua para desfilar e festejar, por considerar não haver motivação para festa. Tal como os outros partidos, solidariza- se com todos os trabalhadores e considera que o Executivo deve agir para se converter a degradante situação social em que o país vive. Até ao fecho desta edição, o PRS, a FNLA e PHA não se pronunciaram sobre a data.
Por dentro do dia
Em 1886, 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos EUA, para reivindicar a redução da jornada laboral de 13 para 8 horas diárias. Nesta altura, houve uma greve geral em todo o país.
Vários operários foram mortos durante a manifestação e, 4 dias depois, voltaram às ruas para retomar a luta contra as condições de trabalho desumanas que viviam. Esta luta dos trabalhadores só foi reconhecida em 1989 – acima de 100 anos depois. Por outro lado, a entrada das mulheres no mercado de trabalho remunerado só aconteceu em 1914 com a 1.ª Guerra Mundial.
A 8 de Março de 1917, milhares de mulheres na Rússia se reuniram em protesto e greve por melhores condições de trabalho e de vida. Esta data é mundialmente assinala- da como o Dia Internacional da Mulher, o rosto da luta pela igualdade de direitos entre mulheres e homens e de melhoria das condições laborais. Em Angola, esses direitos estão formalmente garantidos pela Constituição, assim como a igualdade entre mulheres e homens.